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Acordo militar do Brasil com a Rússia esbarra na Otan, diz Mourão

Colaboração para o UOL, em Brasília

08/02/2022 15h32

Ao comentar sobre as negociações do Brasil para a aquisição do Pantsir (sistema russo de mísseis antiaéreos), que se desenrolam desde 2013, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que o governo brasileiro "não é um comprador de material bélico russo" devido à parceria para aquisição de armamento norte-americano por meio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A última aquisição do tipo foi de helicópteros russos, feita pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim, nos governos do PT.

"Na América Latina são poucos os países que [compram material bélico russo], Venezuela e Peru, talvez. Mas a razão principal é a condição do Brasil de parceiro preferencial extra-Otan. Sinceramente, acho difícil. Não vejo nenhuma simpatia dos meios militares brasileiros a qualquer acordo nesse sentido", afirmou o general da reserva do Exército brasileiro, em entrevista ao jornal "Valor Econômico".

A declaração foi dada às vésperas da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia na próxima semana. O Brasil ser um aliado extra-Otan possibilita o acesso à indústria de defesa dos EUA, a realização de exercícios e treinamento conjuntos, além de acesso especial a financiamento para equipamentos militares.

Na avaliação de Mourão, a confirmação da viagem num momento em que se aprofundam os conflitos entre Rússia, Ucrânia e países do Ocidente, não deve provocar mal-estar nas relações do Brasil com os Estados-membros da Otan, como os EUA.

"O Brasil não tem participação direta nesse conflito. Nossa posição foi explicitada no Conselho de Segurança da ONU pelo embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Ronaldo Costa Filho, pela autodeterminação dos povos e em defesa da soberania dos países. O Brasil se posicionou claramente em defesa de uma saída pacífica para o conflito. Os EUA exercem seu poder de dissuasão... A viagem não vai causar nenhum tipo de constrangimento", disse o vice-presidente.

Combustíveis: risco de na Europa

O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, disse ontem que os EUA e seus aliados na Europa estão agindo "em unidade" em resposta aos avanços da Rússia para possível conflito com a Ucrânia.

O Brasil ainda não foi consultado sobre possível fornecimento para o bloco europeu. "De fato, 47% do gás consumido na Europa é russo. Os Estados Unidos estão aumentando o gás exportado para a Europa, mas acho difícil que o Brasil seja requisitado a entrar nisso", disse Mourão, ao Valor.

A declaração ocorre num momento em que as tensões entre o Ocidente e Moscou (sede do governo russo) sobre a Ucrânia levantaram preocupações sobre os fluxos de gás russo para a Europa. Os preços subiram para níveis recordes nos últimos meses por causa das importações abaixo do esperado a partir da Rússia.

O armazenamento de gás da Europa está cerca de 10% menor que o normal para esta época do ano.