Bolsonaro elogia operações e diz que 'PF não para e ninguém controla'
Mesmo em meio a instabilidades na direção e menor número de prisões por corrupção em 14 anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) elogiou hoje as operações realizadas pela PF (Polícia Federal) e disse que a instituição é imbatível.
"Parabéns à PF pela Operação Tarrafa, tem gente presa. A PF não para e ninguém controla, graças a Deus", disse em sua live semanal. O presidente já foi acusado de interferência na PF e de usá-la para fins indevidos, se tornando até alvo de investigações por isso.
Em 2020, quando Sergio Moro se demitiu do cargo de ministro da Defesa, ele falou que Bolsonaro havia trocado o comando da PF para ter acesso a investigações e relatórios da entidade, o que é proibido pela legislação.
Ao deixar o cargo, Moro falou sobre a exoneração do então diretor-geral da PF, Maurício Leite Valeixo, dizendo que "houve essa insistência" para trocar a liderança do órgão.
"Falei que seria uma interferência política e ele disse que seria mesmo [...] O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações", afirmou.
O chefe do Executivo, no entanto, nunca se mostrou abalado com as acusações. Em 2019, ele afirmou ter sido eleito "para interferir mesmo, é isso que eles querem. Se é para ser um banana ou um poste dentro da Presidência, tô fora".
Mais trocas
Atualmente, cabe a Márcio Nunes de Oliveira o cargo de diretor-geral da PF. No fim de fevereiro, ele foi anunciado como substituto de Paulo Maiurino, que foi convidado para chefiar a secretaria responsável pelo combate às drogas, a Senad.
Maiurino assumiu o posto em abril do ano passando, quando Bolsonaro já era investigado sob suspeita de tentar interferir politicamente na PF. Ao chegar, Maiurino promoveu uma série de mudanças na cúpula da instituição. A reforma para montar sua equipe alcançou a Coordenadoria-Geral de Repressão à Corrupção: o delegado Isalino Giacomet foi escalado para substituir Thiago Delabary, que participou de apurações importantes, incluindo a que pegou o ex-presidente Michel Temer (MDB) na esteira da Lava Jato. O inquérito contra o emedebista acabou arquivado.
O antigo chefe também fez suas trocas dentro da instituição. Ano passado, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) recebeu uma notícia-crime sobre então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, Maiurino promoveu alterações na chefia das unidades regionais da corporação.
Baixa de prisões por corrupção
Em queda desde 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu o cargo, as prisões por corrupção realizadas pela Polícia Federal chegaram, em 2021, ao menor patamar dos últimos 14 anos. Foram 143 prisões entre janeiro e setembro, uma redução de 44% em comparação ao mesmo período de 2020. A PF não informou dados estatísticos dos últimos três meses de 2021.
Os números foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) pela agência Fiquem Sabendo, especializada na obtenção de dados de órgãos públicos, junto à Coordenação de Repressão à Corrupção (CRC) da Polícia Federal. O levantamento considera todas as prisões - preventivas, temporárias e flagrantes - feitas a partir de inquéritos conduzidos pela CRC desde 2008, quando os números passaram a ser consolidados internamente.
A unidade tem competência para investigar, além dos crimes de corrupção, delitos como peculato, organização criminosa, fraude à licitação, tráfico de influência e outros. Também tem sob seu guarda-chuva o Serviço de Inquéritos Especiais, um dos setores mais sensíveis da corporação, que cuida de investigações contra políticos e autoridades com foro no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Desde 2020, a PF baixou uma diretriz que deu autonomia para todos os braços tocarem investigações que envolvam indícios de corrupção, sem necessidade de remeter os inquéritos a delegacias especializadas. Na prática, a norma abriu caminho para descentralizar as apurações. É o caso, por exemplo, dos inquéritos sobre fraudes no auxílio emergencial, que explodiram nos dois últimos anos de pandemia. Eles ficaram a cargo da área Fazendária e não da Coordenação de Repressão à Corrupção.
As prisões por corrupção decretadas em apurações conduzidas fora da CRC não estão contabilizadas no levantamento agência Fiquem Sabendo. Isso porque a PF não organiza os dados estatísticos de detenções por tipo penal específico e sim por setor.
(Com Estadão Conteúdo)
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