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Pastor que negociou verbas do MEC se encontrou 4x com Bolsonaro, diz jornal

18.out.19 - Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante reunião com o pastor Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos - Carolina Antunes/PR
18.out.19 - Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante reunião com o pastor Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos Imagem: Carolina Antunes/PR

Do UOL, em São Paulo

23/03/2022 07h48Atualizada em 23/03/2022 12h03

Os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura se encontraram pelo menos quatro vezes com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília, segundo informações do jornal O Globo. Mesmo sem cargos no governo, eles atuavam na negociação de verbas federais do MEC (Ministério da Educação) e indicavam quais prefeituras deveriam ter prioridade.

Foram três encontros com Bolsonaro no Palácio do Planalto e um evento no MEC, junto ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, diz o jornal.

Em áudio divulgado na segunda-feira (21) pela Folha de S.Paulo, Ribeiro diz que houve um "pedido especial" do presidente para atender aos pleitos do pastor Gilmar Santos.

O UOL e O Globo procuraram a Presidência para se manifestar sobre o assunto, mas ainda aguardam retorno.

Um levantamento do jornal mostra que dois dos encontros aconteceram no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, em 2019. Nas duas ocasiões, Gilmar e Arilton participavam de eventos com outras lideranças evangélicas.

Em 2020, Bolsonaro recebeu novamente Gilmar Santos em seu gabinete. No mesmo dia, o religioso foi ao MEC se encontrar com Milton Ribeiro, segundo as agendas do presidente e do ministro.

Em fevereiro de 2021, após evento no Ministério da Educação, o pastor Gilmar Santos publicou nas redes sociais que levou mais de 40 prefeitos de quatro estados "para tratar dos avanços e desafios da educação atual" para a sede da pasta.

Pastores também tinham acesso a ministros

Segundo O Globo, os pastores também tinham acesso a ministros desde o início do governo Bolsonaro. Em março de 2019, Gilmar foi recebido no Palácio do Planalto pelo vice-presidente Hamilton Mourão, que ocupava a cadeira de Bolsonaro em sua ausência.

Em julho de 2019, a agenda do então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também indica um encontro com uma pessoa identificada como "Pastor Gilmar".

Quatro meses depois, em novembro, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (que anunciou filiação ao PP), esteve com o pastor Arilton Moura para um encontro que contou com a presença do embaixador de Israel, Daniel Zonshine, e o deputado federal Vicentinho Junior (PL/TO).

Em dezembro, Gilmar e Arilton foram recebidos pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), junto ao deputado federal João Campos (Republicanos-GO).

O Globo diz que João Campos costumava acompanhar os religiosos em algumas das reuniões que tinham com a cúpula do MEC.

Após a repercussão negativa do caso —que contou também com uma pressão da bancada evangélica, que estabeleceu prazo de 24 horas para o ministro se posicionar —, Milton Ribeiro emitiu um comunicado admitindo encontro com os pastores citados, mas negando qualquer irregularidade.

Ribeiro também negou que Bolsonaro tenha pedido atendimento preferencial a prefeituras apadrinhadas por pastores. Na nota, o ministro não esclareceu por que os dois pastores fazem a ponte entre prefeituras e o MEC.

Quem são os religiosos

Gilmar dos Santos, que diz ter mais de 40 anos como pastor, é líder do Ministério Cristo para Todos, um ramo da Assembleia de Deus, com sede em Goiânia. O ministro Milton Ribeiro já pregou nesse templo, durante culto denominado Ceia Geral.

A igreja é de pequeno porte se comparada a outros braços da Assembleia de Deus com atuação nacional, mas está presente em Estados como Maranhão, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Santos também é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros de Assembleias de Deus no Brasil Cristo para Todos.

Arilton Moura atua como assessor de Assuntos Políticos na entidade, mas, em registros oficiais do governo, ele aparece no cargo de secretário nacional.

Em 2020, Arilton passou um mês nomeado em cargo de confiança na Liderança do MDB na Câmara dos Deputados. Dois anos antes, ocupou o cargo de secretário extraordinário para Integração de Ações Comunitárias, no governo Simão Jatene (filiado na época ao PSDB), no Pará. E foi presidente estadual do antigo PHS, hoje Podemos, no Estado.

Quem abriu as portas do governo à dupla, segundo integrantes da bancada evangélica, foi o deputado João Campos, pastor da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova, ligado à convenção de Madureira.