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Em fala golpista, Bolsonaro diz a generais que 'tem a tropa nas mãos'

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

05/04/2022 16h55Atualizada em 05/04/2022 21h44

Em novo flerte golpista, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje a oficiais-generais recém-promovidos que, de todos os seus ministros, o da Defesa é o que mais se destaca porque, de acordo com o governante, tem "a tropa em suas mãos".

"Em última análise", de acordo com Bolsonaro, seria o ministro da Defesa que faria o país "rumar em direção a normalidade, ao progresso e a paz". O chefe do Executivo federal não explicou com detalhes o que poderia ameaçar a estabilidade democrática no país. Disse, no entanto, que tudo o que o governo quer é que "todos cumpram a Constituição".

A declaração ocorre cinco dias depois de Bolsonaro afirmar que, segundo o seu entendimento, o Brasil seria uma "republiqueta" se os militares não tivessem aplicado o golpe de 1964 —que deu início ao período da ditadura militar, marcado por atos de violência e repressão. A fala ocorreu em alusão ao dia 31 de março, quando o golpe completou 58 anos.

"Tenho 23 ministros. Todos são importantes, mas um se destaca. É o da Defesa, porque tem a tropa em suas mãos. É o que, em última análise, poderá fazer o país rumar em direção a normalidade, ao progresso e a paz", disse Bolsonaro na tarde de hoje, no Palácio do Planalto.

"Tudo que queremos é que todos cumpram a Constituição, que pode ter os seus defeitos, mas é o nosso norte aqui dentro destes 8,5 milhões de quilômetros quadrados."

O Ministério da Defesa é agora liderado pelo general Paulo Sérgio Nogueira, que assumiu há 4 dias —até então, ele estava no posto de comandante do Exército. A promoção veio depois que o general Walter de Souza Braga Netto, cotado para ser vice de Bolsonaro na eleição deste ano, foi exonerado do cargo.

'Meu Exército'

Declarações do presidente que tiveram tom semelhante, também em alusão ao papel das Forças Armadas e supostas ameaças à democracia, foram interpretadas anteriormente como acenos golpistas.

Em um desses episódios, por exemplo, o chefe do Executivo Federal utilizou a expressão "meu Exército" e declarou que os militares atuam "dentro das quatro linhas da nossa Constituição".

"Devemos e sempre agiremos assim. Por outro lado, não podemos admitir quem porventura queira sair deste balizamento", disse ele em solenidade realizada no Palácio do Planalto em 8 de abril do ano passado.

No evento de hoje, Bolsonaro também declarou que as Forças Armadas estão "sempre prontas" e "ao lado do Brasil". Na visão dele, o Brasil é um "ainda conturbado por questões ideológicas". Sem mencionar o golpe de 1964, que instalou a ditadura militar no país, o presidente afirmou que "lá atrás foi mais difícil e vencemos".

"Agora, venceremos também. Porque é uma luta do bem contra o mal. E o bem sempre venceu e vencerá também essa batalha que temos pela frente."

Nota pró-golpe de 1964

Em 31 de março, data que o golpe militar completou 58 anos, o Ministério da Defesa —ainda sob comando de Braga Netto— publicou uma nota oficial por meio da qual chamou o início do regime militar de "marco histórico da evolução política brasileira".

A divulgação do texto ocorreu no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro voltou a ameaçar o Judiciário quanto ao resultado das eleições de 2022.

Em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente também disse entender que o Brasil seria uma "republiqueta" se não fossem as obras do "governo militar", se referindo ao período em que o país viveu sob ditadura.

"O que seria do Brasil sem as obras do governo militar? Não seria nada! Seríamos uma republiqueta."

Bolsonaro também ignorou a história brasileira e disse que "nada" ocorreu em 31 de março de 1964, quando o então presidente João Goulart foi derrubado e teve início o regime de exceção.

O Brasil viveu os momentos mais duros da sua história recente na época da ditadura militar, que durou 21 anos, entre 1964 e 1985. O período foi marcado por torturas e ausência de direitos humanos, censura e ataque à imprensa, baixa representação política e sindical, precarização do trabalho, além de uma saúde pública fragilizada, corrupção e falta de transparência.