PF viu risco de ameaças de youtuber a Lula agravar polarização eleitoral
A Polícia Federal apontou em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) que as ameaças proferidas por Ivan Rejane, preso hoje em Belo Horizonte, tinham o potencial de agravar a polarização da pré-campanha eleitoral. Em vídeo, o youtuber pregou "caçar" integrantes da Corte e lideranças de esquerda, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No pedido de prisão levado a Alexandre de Moraes, a PF relata que as ameaças proferidas por Ivan ampliam o risco de produzir "ações violentas", conduzidas pelo youtuber ou por terceiros, contra os ministros e seus familiares.
Além disso, propõe também a caça de políticos situados à esquerda do espectro ideológico, fatos que, por si só, têm o potencial de agravar o quadro de polarização em que se encontra o país em período pré eleitoral e culminar por promover a adesão de pessoas às condutas violentas propostas"
Polícia Federal, em relatório enviado ao STF
Identificado nas redes sociais como "Terapeuta Ivan" ou "Terapeuta Papo Reto", Ivan é simpatizante do presidente Jair Bolsonaro (PL) e foi candidato a vereador em BH em 2020.
Em um de seus vídeos, ele cita o feriado de 7 de Setembro e profere ameaças aos ministros do STF, ao ex-presidente Lula, à presidente do PT, Gleisi Hoffmann e ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ).
A prisão ocorre na esteira do assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, morto a tiros no último dia 9 pelo agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho, apoiador de Bolsonaro. Guaranho se tornou réu por homicídio por motivação futil, no caso "preferência político-partidárias antagônicas" dos envolvidos.
Ao autorizar a prisão de Ivan, Moraes busca mandar um recado a grupos extremistas que planejam atos para o feriado de 7 de Setembro. A pessoas próximas, o ministro tem dito que ameaças e ataques como os proferidos por Ivan não serão tolerados e que acompanha de perto as movimentações para o feriado.
Em relatório encaminhado ao ministro, a PF apontou a gravidade das ameaças do youtuber e diz trabalhar com a hipótese de enquadrá-lo nos crimes de associação criminosa e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito. Somadas, as penas podem chegar a nove anos de prisão.
A PF afirma que os vídeos publicados por Ivan no Youtube demonstrariam o youtuber "articula de forma concreta a reunião de pessoas para que, por meio de grave ameaça e violência, mediante inclusive a 'luta armada', cacem os ministros do Supremo Tribunal Federal, para destituí-los de suas funções".
Os ataques seriam motivados porque Ivan acredita que o tribunal "atua contrário ao seu posicionamento político-ideológico". O youtuber, então, utilizaria as redes sociais para "propagar e arregimentar pessoas para seu intento criminoso".
Em um dos vídeos, Ivan relata que estava criando um grupo no Telegram para até 200 mil pessoas com o nome "caçadores de rato do STF". O objetivo seria trocar informações sobre os locais em que os magistrados costumam frequentar.
"O simples fato de haver menção explícita e direta de proposição de prática violenta, formulada por pessoa em rede social com mais de sete mil seguidores, com vídeos com mais de vinte e oito mil visualizações, já é fato suficientemente grave para demandar a atuação do Estado", disse a PF. "Com mais razão, impõe-se a atuação enérgica do Estado quando as ameaças e articulações mencionadas se destinam à abolição do Estado Democrático de Direito pela supressão de um de seus poderes, representado pelos integrantes do Supremo Tribunal Federal".
A reportagem busca contato com a defesa de Ivan Rejane. O espaço está aberto a manifestações.
Ao saber que seria detido nesta sexta (22), o youtuber teria resistido à prisão. Dois endereços ligados ao youtuber foram alvo de buscas: um em Belo Horizonte e outro em Esmeraldas (MG), na região metropolitana da capital mineira.
Nesta manhã, Ivan publicou um vídeo em seu canal no Youtube ironizando a prisão.
"'Ah, o Ivan ameaçou juizes do STF'. Os oito togados. São oito porque esqueci do Toffoli, que é bandido. Bandido! O que eu disse eu repito e reitero: O STF é um ninho de bandidos colocados lá pelo PT, advogam pela maior facção criminosa do Brasil, o Partido dos Trabalhadores. É o STF que rasga a Constituição", afirmou.
A decisão de Moraes também determinou o bloqueio dos perfis de Ivan Rejane no Twitter, Facebook e Youtube, além do canal mantido pelo youtuber no Telegram. Em nota, o Youtube disse que não comentaria o caso.
"Luta armada" e "caçada" a Lula
Em 2020, o Ivan Rejane se candidatou a vereador com o nome "Ivan Papo Reto". Na ocasião, era filiado PSL (Hoje, União Brasil), antiga legenda de Bolsonaro, e obteve somente 189 votos.
Em um de seus vídeos, Ivan também ataca o ex-presidente Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann e o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), afirmando que caçaria o petista e seus aliados.
"Eu vou dar um recado para a esquerda brasileira, principalmente pro Lula: o desgraçado põe o pé na rua, que nós vamos te mostrar o que nós vamos fazer com você, seu vagabundo do caralho, picareta, filho da puta. Anda com segurança até o talo, que nós da direita vamos começar a caçar você, essa Gleisi Hoffmann, esse Freixo frouxo do caralho", disse Ivan.
Na decisão que autorizou a prisão do youtuber, Moraes relembrou que a liberdade de expressão não é escudo para a prática de discursos de ódio, antidemocráticos e ameaças e agressões contra as instituições.
Sem citar nomes, o ministro frisou ainda que a Constituição não permite a propagação de discursos de ódio e ideias contrárias ao Estado Democrático de Direito por "pré-candidatos e seus apoiadores".
"Liberdade de expressão não é Liberdade de agressão! Liberdade de expressão não é Liberdade de destruição da Democracia, das Instituições e da dignidade e honra alheias! Liberdade de expressão não é Liberdade de propagação de discursos mentirosos, agressivos, de ódio e preconceituosos!", escreveu Moraes.
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