Esperava um pouquinho mais do Bolsonaro, diz Rosângela Moro
A poucas horas de embarcar em um voo para um aniversário em Curitiba, no Paraná, Rosângela Moro (União Brasil) recebeu o UOL no flat em que vive em São Paulo, no bairro nobre do Itaim Bibi, zona oeste da capital, para a primeira entrevista após confirmar oficialmente que vai disputar uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições de outubro.
Advogada, ela pretende viabilizar sua pré-candidatura a deputada federal por São Paulo —embora tenha nascido, casado e feito carreira no Paraná, ao lado do marido, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (União Brasil).
As respostas lacônicas sobre seus vínculos com o estado paulista contrastam com a disposição para falar sobre sua infância na capital paranaense. Ela conta que mora em São Paulo há sete meses.
O plano, na campanha, é mostrar uma mulher de passado simples —filha de um mestre de obras e de uma professora da rede pública—, criada no rigor de uma família religiosa que alcançou o sucesso profissional ajudando necessitados.
Existe ainda uma ameaça de sua candidatura ser questionada e impugnada —como ocorreu com seu marido—, mas ela diz que não tem medo e reafirma a atuação profissional em São Paulo.
À reportagem, disse que se expressou mal quando afirmou em 2019 que Moro e o presidente Jair Bolsonaro (PL) eram uma coisa só. Sobre o que vem achando do governo Bolsonaro: "Esperava um pouquinho mais", respondeu.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
UOL - Por que decidiu entrar na política?
Rosângela Moro - Trabalho com política pública para pessoas com deficiência desde 2009. Em 2012, comecei a atender pessoas com doenças raras. Ajudava a elaborar minutas aos parlamentares, participava de audiência pública. Neste momento me sinto pronta para trabalhar do lado de dentro, ser essa parlamentar que vai implementar a política pública.
E vivi, de casa, os efeitos da Lava Jato. Vejo com tristeza os revezes que ocorreram. Quero defender a bandeira anticorrupção porque já vi faltar remédio por causa de dinheiro desviado.
Se eleita, quais serão suas bandeiras?
A causa de pessoas com deficiência e doenças raras são nobres. É preciso defender melhorias às mulheres, enfrentar a corrupção e o crime com leis rigorosas. As pessoas ficam muito focadas nas eleições dos Executivos, mas é o Parlamento que aprova as leis.
Quando a senhora se mudou para São Paulo?
Eu e meu marido moramos no ano passado nos Estados Unidos. Um dos motivos de voltar foi para ele se filiar ao Podemos, quando foi apresentado pré-candidato à Presidência. Ficamos em São Paulo desde então. No final de dezembro, a gente se estabeleceu primeiro em um hotel para conhecer as regiões e saber a que melhor nos atenderia.
E do que a senhora mais gosta aqui na cidade?
Sou uma pessoa que gosta de pessoas. Então onde tem pessoas legais... Eu gosto de ver gente, sou comunicativa, gosto de pessoas legais.
Não sente falta de Curitiba?
Dá uma saudadezinha. Saudade do friozinho, que nem é mais tão friozinho. Mas um voo de 40 minutos me deixa lá. Também tenho saudade das duas cachorras, que na verdade são da minha filha. Uma York e uma Spitz.
A sua candidatura não foi impugnada pelo TRE, como aconteceu ao Moro porque na época a senhora não foi incluída na denúncia do PT. Não teme ser acusada de não ter vínculos com o estado?
Eu não temo porque eu mantenho um vínculo profissional com São Paulo desde 2016.
Qual vínculo?
Prestação de serviço para associações em São Paulo. Apresentei os documentos que o tribunal solicita, pedi a transferência de domicílio e o tribunal deferiu.
E se tentarem impugnar o registro?
Eu segui a legislação. Se impugnarem, o advogado vai apresentar uma defesa e esse assunto será superado.
O que se diz é que a senhora se candidatará para puxar votos para a União Brasil no maior colégio eleitoral do país.
Vou sair candidata para ser uma voz que some. O Paraná tem um legítimo representante da Lava Jato para deputado federal, o Deltan Dallagnol [Podemos]. O ideal é que tivesse um legítimo representante em todos os estados.
A decisão do Moro de deixar a magistratura para ingressar na política não pode afetar a imagem de vocês na campanha?
Não vejo relação. Enquanto juiz, o Sergio não tinha pretensão política. Em 2018 o tema que permeou a eleição foi a Lava Jato. Ele poderia ter saído, surfado aquela onda e vencido. Ele se manteve juiz. Depois de Bolsonaro eleito é que houve convite para ser ministro. O Sergio nem conhecia o Bolsonaro.
Já houve relatos de que Moro recebeu o convite para ser ministro durante a campanha eleitoral. Os dois já haviam se encontrado, por exemplo, no aeroporto de Nova York.
Qual o balanço que a senhora faz do governo Bolsonaro?
A avaliação que eu tenho é que eu esperava um pouquinho mais. Um "que" de decepção.
Alguma coisa específica?
A pandemia. Teve épocas em que [o número de mortos] era como se tivesse caído três aviões por dia. Faltou coordenação, cada um faz de um jeito no estado, outro no município, tentando o seu melhor, mas deveria ter havido uma coordenação piramidal. Estar ao lado da ciência é sempre o melhor caminho. Perdi pessoas queridas e familiares de covid. Doeu não ter um enterro decente, aquele ritual de despedida.
Se eleita, vai apoiar a ampliação do direito ao aborto?
Eu sou absolutamente a favor da vida. Ao mesmo tempo, sou legalista. O que está disposto hoje na legislação atende.
E a regulamentação da maconha?
Precisa sentar junto com as áreas da saúde e segurança. Hoje eu sou contra porque não sei se o Brasil está nas condições de temperatura e pressão para enfrentar o uso recreativo.
E a liberação da maconha para uso medicinal?
Por causa do trabalho com doenças raras, convivi com muitas famílias e vi relatos de redução de convulsões. Pensa o que é uma criança ter 12 convulsões a cada hora...Se você não tem a cura, precisa dar qualidade de vida. A maconha para fins medicinais é o caminho, com segurança, passando pela ciência.
E quanto à ampliação do porte e posse de armas?
A posse justifica para a pessoa proteger seu patrimônio. Tem pessoas onde braço do Estado não alcança, como propriedade rural. Ok as pessoas protegerem seu patrimônio, sua família. Porte, de andar todo mundo armado, sou absolutamente contra. E posse, as pessoas têm de se submeter a exames para saber se têm condições.
O que acha dessa violência política, que há pouco vitimou um militante petista por um bolsonarista? Vai se proteger na campanha?
Estas eleições estão muito polarizadas. Eu repudio o que aconteceu em Foz do Iguaçu [PR]. Vou me proteger como todos se protegem. Tenho segurança. Já uso por causa do meu marido, que foi juiz criminalista, teve a Lava Jato, depois foi ministro, uma necessidade do trabalho institucional. Agora eu uso segurança como comodidade do partido para deixar a gente tranquilo.
Em 2020 a senhora disse que via Moro e Bolsonaro como uma coisa só. Se arrepende?
Eu me expressei muito mal. Culpa minha. O que tentei dizer e fui infeliz é que eu via o governo como um time. Todas as posições e ministérios são importantes e, para um time entrar em campo, todo mundo tem de jogar bem. Porque tinha aquela conversa de que um ministro tinha ciúme do outro...Eu me expressei muito mal, eles não são parecidos.
Em um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, em quem a senhora pretende votar?
Vamos focar, que o primeiro turno nem começou ainda!
E como se imagina no dia seguinte à votação?
Dormindo.
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