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Lula critica orçamento secreto e diz que fizeram 'carnaval com mensalão'

Lucas Borges Teixeira e Gabriela Vinhal

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

28/07/2022 12h55Atualizada em 28/07/2022 16h11

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar hoje (28) as emendas de relator (o chamado orçamento secreto) e fez uma analogia, até então inédita na pré-campanha, com o mensalão, escândalo que abalou seu governo.

Lula tem subido o tom contra as emendas não especificadas no orçamento, acusadas pela oposição de serem usadas na compra de apoio pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Em discurso na 74ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Brasília, ele voltou a apontar escândalos da atual gestão, defendendo seu governo e o da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

"Não imaginava que fosse haver um golpe da presidenta Dilma. Veja que inventaram uma pedalada para colocar no lugar da pedalada uma motociata, muito mais grave. Fizeram um tremendo carnaval com o mensalão e hoje estão aprovando o orçamento secreto, que é a maior excrescência da política orçamentária do país E eu fico me perguntando: que país é este?", questionou Lula.

Com o orçamento secreto, parlamentares destinaram recursos da União sem serem identificados. Os políticos que recebiam a verba eram escolhidos pelo governo sem critérios técnicos, em troca de apoio no Congresso, acusa a oposição.

A prática tem sido um dos principais elos entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que já pensa em formas de manter a iniciativa mesmo que o governo mude. Não à toa, Lula também tem voltado suas críticas ao deputado, que já chamou de "imperador do Japão".

Lula também voltou a ironizar as declarações do presidente Bolsonaro sobre não haver corrupção em seu governo nem se envolver em casos suspeitos. Ele lembrou do esquema da rachadinha, pelo qual o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho de Bolsonaro, é investigado, e a CPI da Covid.

"Me parece que ele [Bolsonaro] não sabe a família que tem. Me parece que se esqueceu do [Fabrício] Queiroz, da quadrilha da vacina", afirmou, referindo-se ao ex-assessor suspeito de envolvimento no esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio e à tentativa de compra fraudada de vacina durante a pandemia.

Fazer um comparativo entre a gestão Bolsonaro e seu governo (2003-2010) tem dado o tom da sua pré-campanha desde o início, mas o petista tem focado em especial nas áreas econômica e social. É mais recente a relação entre o combate à corrupção nos dois governos.

Em entrevista ao UOL ontem (27), Lula voltou a defender os dispositivos anticorrupção criados durante os governos petistas.

"A corrupção só aparece quando tem liberdade, quando tem possibilidade de investigação. O PT criou o Portal da Transparência, criou a Lei do Acesso à Informação [LAI], o PT nunca fechou porta para investigação, criamos a delação premiada", argumentou Lula.

Lula também defendeu a gestão de Dilma Rousseff e afirmou que sua saída, chamada por ele de "golpe", "deu início ao desmonte das instituições públicas".

"O chamado teto de gastos que tira dos pobres para dar aos ricos aprofundou a agenda neoliberal. Ultrapassando as piores previsões, o atual governo colocou o Brasil numa máquina do tempo rumo ao passado. Fome, desemprego, inflação, corrupção e ameaça à democracia são as marcas desse desgoverno que nega a ciência em todos os seus atos", em um tom mais à esquerda que tem marcado as diretrizes do programa de governo.