Jornal: Morador da periferia de SP recebeu R$ 13,8 mi em verbas federais
Adson Lima da Silva, 33, sócio de uma empresa de construção em Maceió (AL), recebeu R$ 13,8 milhões, sendo a maior parte de verbas federais enviadas às prefeituras do estado. O homem também seria filho de um empresário do setor de autopeças que recebia milhões anualmente com a empresa. Porém, uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo mostrou que o destinatário dos repasses morava em uma casa na periferia do bairro do Jardim Ipanema, na zona oeste de São Paulo.
O jornal chegou ao endereço através das informações disponibilizadas em um documento da PF (Polícia Federal) ligada ao CPF de Adson que aponta onde seria a residência do empresário. Na realidade, a casa é dividida entre algumas famílias e os vizinhos disseram que ele se mudou há quatro ou cinco anos, mas que há um mês esteve no local e ficou alguns dias na residência.
A PF aponta que Adson seria o "laranja" de um esquema de desvio de verbas federais repassadas para o município de Rio Largo, em Alagoas. A corporação apurou que o prefeito local, Gilberto Gonçalves (PP), usou duas empresas da região para desviar os valores, sendo que uma delas, a construtora "Litoral", estava no nome de Adson, que tocava a empresa com a mulher. Gilberto é o principal nome da investigação que apura o desvio de recursos federais enviados à cidade.
Em 2007, o prefeito de Rio Largo já foi alvo da Operação Taturana que também mirou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). O parlamentar foi condenado por improbidade administrativa no âmbito da operação, mas segue recorrendo.
Lira também repassou recursos para o município chefiado por Gilberto através das emendas parlamentares do "Orçamento Secreto". Apesar disso, o nome de Lira não aparece no inquérito da PF, remetido ao Tribunal Regional Federal, que mira o nome do prefeito de Rio Largo.
Investigação da PF
Ainda de acordo com apuração do jornal, Adson trabalhou em uma empresa verdadeira do pai (Ailton), chamada de Reauto, no entanto, a PF disse que a companhia "apresenta estrutura incompatível com os valores que transitaram por suas contas, pois, entre 01/01/17 e 15/02/22, recebeu R$ 49.038.965,19" de Rio Largo e outras prefeituras do estado.
A PF ainda investigou que Adson, o irmão dele, Alisson, e outras pessoas da construtora Litoral e da Reauto realizaram 233 saques de dinheiro em espécie, a maioria com quantias de R$ 49 mil para não serem notados pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Os saques também eram feitos no mesmo dia em que a prefeitura enviava dinheiro para a construtora Litoral. A PF chegou a flagrar, por quatro vezes, pacotes de dinheiro sendo dados por funcionários das supostas empresas a seguranças pessoais do prefeito de Rio Largo, e levados à prefeitura local.
Repasses de dinheiro
Segundo a apuração da PF, Adson teria recebido os repasses de Rio Largo e outros municípios alagoanos entre 2019 e fevereiro de 2022. Os valores foram enviados às cidades alagoanas através do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) e FMS (Fundos Municipais de Saúde). No caso do FMS, o dinheiro era repassado via Orçamento Secreto. Lira enviou quase R$ 9 milhões somente em emendas para o FMS de Rio Largo.
Nos últimos anos, Rio Largo não recebeu nenhuma quantia através de emendas parlamentares individuais ou de bancada. Os valores que chegaram ao município eram apenas pelo Orçamento Secreto, com as emendas de relator.
Registros apontam para R$ 90,8 milhões empenhados (reservados) para o envio às cidades alagoanas, sendo que R$ 27,2 milhões foram repassados aos municípios. Lira é o responsável pelo envio de R$ 16,7 milhões do valor total já enviados.
Não se sabe quais foram os parlamentares responsáveis por enviar o restante da quantia. A listagem dos nomes dos políticos também não consta nas informações enviadas pelo Congresso ao STF (Supremo Tribunal Federal).
O que dizem os citados
Ao jornal, Lira disse, via assessoria, que as verbas federais são repassadas para prefeitos que o ajudam e que a prática também é realizada por outros deputados e senadores.
"Cabe aos órgãos de controle a fiscalização eficiente para o bom uso dos recursos. É isso que apoiamos", comentou. Questionada, a assessoria do parlamentar disse ao UOL que seguiria com a resposta já enviada ao jornal.
Já a Prefeitura de Rio Largo publicou uma nota no site, na última terça-feira (2), no qual afirma que "não foi notificada sobre investigação realizada pela Polícia Federal em face dessa municipalidade". Porém, o município ressaltou que "preza sempre pela transparência dos atos praticados e envia regularmente todos os relatórios de aplicação dos recursos públicos aos órgãos controladores do Estado e da União".
"Por fim, essa Administração Direta salienta ainda que está à disposição para contribuir com o que for preciso, prezando sempre pela probidade na aplicação dos recursos públicos deste município, e seguindo princípios constitucionais, em todos os seus níveis", concluiu.
A reportagem não encontrou o contato de Adson Lima da Silva, mas o espaço segue aberto para a manifestação.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.