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Jô foi grande personalidade, independentemente de ideologia, diz Bolsonaro

Colaboração para o UOL, em Brasília

05/08/2022 12h01Atualizada em 05/08/2022 13h33

O presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou hoje sobre a morte do apresentador Jô Soares, aos 84 anos. Jô era um crítico de Bolsonaro desde o tempo em que o atual mandatário era deputado federal.

Independentemente de preferências ideológicas, Jô Soares foi uma grande personalidade brasileira que conquistou a todos com seu modo cômico de discutir assuntos profundos. Que Deus conforte a família e o acolha com a cordialidade que o próprio Jô recebia a todos.

Desde a chegada de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, após as eleições de 2018, Jô publicou uma série de cartas abertas endereçadas a ele.

"Volto a lhe escrever para comentar sobre a perseguição da imprensa, que continua a criticar suas declarações a respeito dos remédios que, do baixo de seu conhecimento, Vossa Redundância continua a sugerir. Fazem parte desse kit covid a hidroxicloroquina, a cloroquina, a ivermectina, a azitromicina e a doxiciclina. A ciência nega a eficácia desses medicamentos contra a covid-19", escreveu o apresentador em novembro de 2020, primeiro ano da pandemia.

Mais cedo, o filho mais velho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também comentou a morte do apresentador.

"O Brasil perdeu um de seus grandes talentos: Soares. Ele criou personagens divertidos e bordões memoráveis. Impossível esquecer! Que Deus o tenha e conforte o coração de todos!", escreveu Flávio, em suas redes sociais.

Críticas a Bolsonaro e defesa de petistas

Mesmo antes de virar presidente, Bolsonaro já era alvo de críticas de Jô. Quando o então deputado federal disse à colega de Câmara Maria do Rosário (PT-RS) que ela não merecia ser estuprada, Jô se manifestou em apoio a ela.

Ao abordar o tema em seu programa na TV Globo, uma pessoa da plateia se manifestou em apoio a Bolsonaro: "Viva Bolsonaro", disse o homem.

"Quem foi que gritou esse absurdo? Maluf está na plateia? Quem que gritou? É só para eu saber", questionou o apresentador.

O espectador se apresentou e explicou seu posicionamento, ao que Jô respondeu: "Eu já ouvi muita bobagem na minha vida, mas essa supera a do Bolsonaro".

Em junho de 2015, o apresentador entrevistou a então presidente Dilma Rousseff antes do processo de impeachment que seria aberto contra ela pelo então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

Dilma foi afastada do cargo em 12 de maio de 2016 após o processo ser aprovado no Senado. No dia em que a entrevista foi ao ar, Jô Soares foi fortemente criticado nas redes sociais. Ele comentou a ocasião em abril de 2016, durante entrevista ao apresentador Fábio Porchat: "Pintaram na porta da minha casa 'morra Jô Soares', mas aí eu resolvi não concordar", disse.

Jornalista anarquista, ator e humorista

Crítico do regime militar no Brasil, Jô foi colaborador de O Pasquim, jornal da contracultura editado durante durante a ditadura.

Como comediante, ele entrou na TV Globo em 1970, como protagonista do programa "Faça Humor, Não Faça Guerra". Já havia passado pelos canais Continental, Rio, Tupi, Excelsior e Record. Atuou, por exemplo, no clássico "Família Trapo". Foi ator de teatro, cinema e televisão, além de dramaturgo, roteirista, diretor e escritor.

Estreou seu próprio programa, o "Viva o Gordo", em 1981. Seis anos depois, saiu da Globo para apresentar seu talk show, o Jô Soares Onze e Meia, no SBT. De volta à Globo em 2000, comandou por 16 anos o Programa do Jô.

Carioca educado na Suíça

Jô nasceu no Rio de Janeiro em 1938 e era filho único de uma família rica que perdeu a fortuna. Estudou na Suíça e nos Estados Unidos, falava seis línguas e abandonou o plano de ser diplomata para se dedicar à vida artística. Interpretou dezenas de personagens, criou bordões e apresentou o mais conhecido programa de entrevistas da TV brasileira.

Morreu na madrugada desta sexta-feira, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, aos 84 anos. A causa da morte não foi informada e o funeral será apenas para familiares e amigos.