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Garcia e Haddad viram alvo em debate da Band e deixam padrinhos de lado

Lucas Borges Teixeira, Jessica Bernardo e Beatriz Montesanti

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

07/08/2022 23h30

Os candidatos Rodrigo Garcia (PSDB) e Fernando Haddad (PT) foram os principais alvos de críticas e ataques durante o debate da Band hoje. Foi o primeiro evento com os postulantes ao governo de São Paulo após as convenções partidárias, que definiram as chapas na disputa.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) exaltou brevemente o governo de Jair Bolsonaro (PL), seu padrinho político, e atacou Haddad. O petista começou rebatendo esses ataques, mas depois mirou no atual governador, Rodrigo Garcia.

Já o tucano focou desde o princípio em Haddad, que lidera as mais recentes pesquisas de intenção de voto, e culpou o PT em geral pelos maiores problemas do estado.

Nenhum dos três mencionou muito seus padrinhos políticos. Haddad e Tarcísio deixaram Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro em segundo plano nas respostas. Garcia nem menção fez à senadora Simone Tebet (MDB), que é apoiada pelo seu partido como candidata da chamada terceira via.

Tarcísio levou um caderno para a bancada, consultando entre perguntas e respostas de outros candidatos. Nos minutos que antecederam a abertura, ele foi o único a sentar e ler a peça, enquanto os outros esperaram em pé, em silêncio.

Participaram do debate Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Rodrigo Garcia (PSDB), Vinícius Poit (Novo) e Elvis Cezar (PDT). A mediação foi feita pelo jornalista Rodolfo Schneider.

O primeiro ataque

Haddad teve por estratégia falar de seus feitos à frente da prefeitura e do Ministério da Educação durante as suas próprias perguntas, mantendo as críticas principalmente a Garcia, atual governador. O candidato tucano, por sua vez, culpabilizou o PT por mais de uma vez pela atual crise econômica.

O primeiro ataque da noite coube a Tarcísio, que, enquanto respondia a uma pergunta sobre educação de Haddad, pediu para a plateia "pesquisar no Google qual foi o pior prefeito de São Paulo". A fala também gerou a primeira reação moderada da plateia.

Haddad rebateu: "Pesquisa genocida. Quem matou mais de 600 mil brasileiros por não ter comprado a vacina?", se referindo às mortes pela covid durante a gestão de Bolsonaro e também recebendo reações do público.

"Eu lamento você, na primeira resposta, já vir nessa agressividade. Você está chegando agora em São Paulo, se adeque a esse padrão de civilidade", disse, citando a origem de Tarcísio, que nasceu no Rio.

"Cracolândia" e troca de farpas

A "cracolândia" na capital paulista foi o primeiro grande tema da noite. Mas, apesar de todos os candidatos reconheceram ser um problema também do estado, foram evasivos sobre a internação compulsória de dependentes.

Tarcísio ressaltou a importância das políticas de saúde e disse que a porta de saída é o emprego. "Ninguém consome droga porque quer", disse.

Poit defendeu uma ação conjunta de quatro secretarias: segurança pública, assistência social, saúde e Judiciário "se for preciso". O candidato Elvis Cezar, por sua vez, defendeu um acompanhamento in loco, com a instalação de ambulatórios médicos. Haddad defendeu retomar o programa De Braços Abertos, de sua gestão.

Na sequência, quando os candidatos puderam fazer perguntas uns para os outros, o clima esquentou.

Garcia acusou o petista de "acordar tarde" e enfatizou não haver espaço para a briga ideológica de seus opositores, atiçando seus apoiadores na plateia. "Doria errou muito em sua escolha para vice porque não se importa com São Paulo. Deixou na mão de pessoas que não têm noção de como gerir uma máquina tão grandiosa", retrucou Haddad.

Privatizações

Haddad criticou a possibilidade de privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). "Sou absolutamente contra, como defendem meus adversários. A Sabesp não ganha nada, e o consumidor menos ainda, que verá sua conta de água subir", disse, comparando com as tarifas de energia elétrica nos anos 1990. "Não se vende o que é essencial."

Na sequência, Garcia usou o tempo de comentário em uma pergunta sobre a fome para criticar o PT. "Se a gente olhar de 2014 pra cá, as crises sucessivas lá no governo do PT, agora agravadas pela covid, foram mais de 13 milhões de pessoas no Brasil que vieram para a pobreza extrema ou também para a pobreza. São Paulo não fica imune a isso e se São Paulo não tivesse feito as ações que fez, nós teríamos uma situação muito pior."

Mais tarde, questionado sobre a paralisação de obras públicas, o atual governador atribuiu a morosidade à burocracia pública e à Lava Jato. "A operação paralisou muitas obras no Brasil. Para retomar uma obra pública, é preciso um engenheiro e dez, 15 advogados", respondeu. Haddad usou a oportunidade para criticar o fato de o estado ter dinheiro em caixa parado. "O que está acontecendo em São Paulo não é normal. Aumentando o imposto do leito, carro usado, confiscando professor [o investimento] não vai chegar a R$ 50 bilhões."

Em sua tréplica, Garcia voltou a criticar o governo petista: "Pagamos até hoje a crise que o PT causou no governo federal".

Garcia também vira alvo

Haddad elevou o tom contra Garcia após fazer uma dobradinha com Elvis e criticou quando o governador tentou exaltar suas obras na saúde durante uma pergunta. "Um diretor da Santa Casa já fez muito mais do que você, que acabou de chegar", respondeu o petista.

O tucano também foi alvo de Tarcísio, que ironizou a ausência de João Doria (PSDB) na campanha de Garcia. "E o Doria, seu padrinho, onde está?".

Garcia devolveu a ironia dizendo: "Quem tem padrinho aqui é você, quem precisa de padrinho é você". "Até o ano passado vocês [Bolsonaro e Tarcísio] estavam escolhendo ainda o estado que você ia disputar eleição" e acusou Tarcísio de colocar a ideologia "na frente dos problemas de São Paulo".

"Quando eu faço um Poupatempo, vou lançar um hospital, não quero saber se atende quem é de direita ou de esquerda, quero que funcione bem, que atenda com qualidade", afirmou o tucano, que disse querer proteger São Paulo da polarização entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Propostas

Para a moradia, Tarcísio falou em concluir mais de 300 mil habitações inacabadas, criando o maior programa de habitação do estado. "Vamos construir áreas de interesse social em lugares desabitados, fixando as pessoas onde estabeleceram relações afetivas e profissionais", disse. Elvis também ressaltou a necessidade de retomar obras paradas.

Tarcísio trouxe ainda a questão da violência contra a mulher, prometendo fortalecer a medicina preventiva e as delegacias da mulher, criando abrigos protegidos e fazendo monitoramento de agressores. Elvis, por sua vez, falou em valorizar a polícia, integrando o trabalho da guarda municipal e das polícias civil e militar.

Poit e Elvis defenderam um ensino profissionalizante e a garantia de empregos para os estudantes. "Um ensino médio para a empregabilidade. Vamos formar uma geração de programadores com dignidade e carteira assinada", disse o candidato do PDT. "Vamos expandir Etecs e Fatecs com capacitação", concordou Poit, dizendo pretender construir, caso eleito, 4.500 escolas.

Na saúde, Haddad defendeu consórcios com prefeituras e a transformação das AME (ambulatório médico de especialidade) em hospitais-dia. Poit defendeu usar o dinheiro do fundão, voltado para as campanhas eleitorais, na saúde. "Dinheiro tem, tem o fundão de qualquer um desses candidatos. Usamos o dinheiro do fundão e zeramos a fila [para cirurgias eletivas]", disse.