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Alvo de ato pró-democracia, Bolsonaro ironiza: Importante é queda do diesel

25.jul.2022 - Presidente Jair Bolsonaro participa do fórum Agribusiness em São Paulo - Ettore Chiereguini/Agil/Estadão Conteúdo
25.jul.2022 - Presidente Jair Bolsonaro participa do fórum Agribusiness em São Paulo Imagem: Ettore Chiereguini/Agil/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

11/08/2022 13h39

O presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais dizer que o "ato muito importante" do dia foi a redução do preço do diesel anunciado pela Petrobras, ironizando a leitura da Carta pela Democracia feita em diversas universidades do Brasil nesta quinta-feira.

"Hoje, aconteceu um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro: a Petrobras reduziu, mais uma vez, o preço do diesel", escreveu no Twitter.

O evento oficial de leitura da carta, sediado na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), contou com gritos de "Fora, Bolsonaro" em meio às manifestações feitas por juristas, economistas, estudantes e intelectuais. Mais cedo, no mesmo prédio da faculdade, foi lido o documento feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também em defesa pela democracia.

Candidatos à presidência da República assinaram a carta, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D'Avila (Novo), José Maria Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP) e Sofia Manzano (PCB).

Bolsonaro não assinou o documento e chegou a criticá-lo em mais de uma ocasião. Ele disse não ser necessário assinar uma "cartinha" para demonstrar ser favorável à democracia.

"Vivemos em um país democrático, defendemos a democracia. Não precisamos de nenhuma cartinha para falar que defendemos a democracia, e que queremos, cada vez mais, nós, cumprir e respeitar a Constituição. Não precisamos, então, de apoio ou sinalização de quem quer que seja para mostrar que o nosso caminho é a democracia, é a liberdade, é o respeito à Constituição", disse o presidente durante a convenção nacional do PP no dia 27 de julho.

Bolsonaro também chegou a dizer que banqueiros signatários teriam recorrido à carta após "paulada" causada pelo Pix no lucro dos bancos. "Estamos acabando com o monopólio dos bancos. Eles estão perdendo poder. Carta pela democracia... Qual ameaça que eu estou oferecendo para a democracia?", questionou no dia seguinte à convenção.

A argumentação de Bolsonaro ironizando a carta e comemorando a redução do diesel nas distribuidoras foi reproduzida por Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil. "Carta ao Povo Brasileiro: estamos escrevendo a Carta que muda o Brasil para melhor", escreveu, citando também a deflação registrada em julho.

Leitura não fez referência direta a Bolsonaro

A "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito" foi elaborada por um grupo de juristas e publicada em 26 de julho, oito dias após reunião de Bolsonaro com embaixadores estrangeiros, na qual o chefe do Executivo repetiu acusações já desmentidas sobre processos de fraude nas eleições.

O texto ultrapassa 920 mil signatários e conta com assinaturas de advogados, políticos, ex-ministros e até candidatos às eleições deste ano. O documento faz referência à "Carta aos Brasileiros de 1977", escrita por um ex-professor da universidade durante a ditadura e considerada um marco na resistência ao regime militar.

A "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de direito" foi lida em partes por Eunice de Jesus Prudente, Maria Paula Dallari Bucci e Ana Elisa Liberatore Bechara, professoras da Faculdade de Direito da USP, e pelo jurista Flavio Flores da Cunha Bierrenbach, ex-ministro do STM (Superior Tribunal Militar).

Antes das leituras, foram feitos discursos por acadêmicos e lideranças de diversos setores da sociedade civil, incluindo sindicatos, em defesa da democracia. Apenas um discurso citou, indiretamente, o presidente. "Não é um bilhete ou uma cartinha, como alguém insinua. Respeitem esta carta!", disse Francisco Canindé Pegado do Nascimento, secretário-geral da UGT (União Geral de Trabalhadores).