Com gritos de 'Fora, Bolsonaro', carta pela democracia é lida na USP
A carta em defesa da democracia organizada por juristas foi lida no começo da tarde de hoje (11 de agosto) em evento organizado pela Faculdade de Direito da USP, conhecida como São Francisco, na região central de São Paulo. Após a leitura do documento, que reúne mais de 950 mil assinaturas, a plateia que acompanhava o ato dentro do prédio reagiu com gritos de "Fora, Bolsonaro".
Mais cedo, no mesmo prédio da faculdade, foi lido o documento feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também em defesa pela democracia.
Embora as duas cartas não citem diretamente o presidente Jair Bolsonaro (PL), elas são vistas como uma resposta às declarações golpistas do mandatário contra o processo eleitoral no país, em especial contra as urnas eletrônicas. Nos discursos feitos antes das leituras, os oradores tiveram a preocupação de não citar o nome do presidente. Nas redes sociais, Bolsonaro ironizou o ato.
Quem leu as cartas? A "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de direito" foi lida em partes por Eunice de Jesus Prudente, Maria Paula Dallari Bucci e Ana Elisa Liberatore Bechara, professoras da Faculdade de Direito da USP, e pelo jurista Flavio Flores da Cunha Bierrenbach, ex-ministro do STM (Superior Tribunal Militar).
Formada e doutora pela USP, Eunice foi autora da primeira tese que propõe a criminalização da discriminação racial, em 1980. Hoje, é secretária municipal de Justiça da cidade de São Paulo. A leitura ocorreu no Pátio das Arcadas, mesmo local onde foi lida a "Carta ao Brasileiros", em 1977.
Já o manifesto da Fiesp foi lido pelo advogado José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, no Salão Nobre do prédio. Os dois locais estavam lotados por políticos, membros da sociedade civil e celebridades, que aplaudiram de pé. A leitura do ex-ministro foi interrompida por aplausos no momento em que ele citou a importância do STF (Supremo Tribunal Federal) para a democracia no país.
Enquanto ele lia a carta, uma passeata organizada por movimentos sociais partiu em direção à avenida Paulista saindo de frente da faculdade.
Quem foi aos manifestos? Personalidades como Walter Casagrande, ex-jogador de futebol e colunista do UOL, e a cantora Daniela Mercury também estiveram presentes. Enrolada em uma bandeira do Brasil, a artista chegou a se apresentar para o público.
No meio político, estavam presentes: Fernando Haddad (PT), pré-candidato ao governo de São Paulo, Marina Silva (Rede), candidata a deputada federal por São Paulo, Márcio França, ex-governador de São Paulo e candidato ao Senado, a deputadas federais Joice Hasselmann (PSDB-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP), Guilherme Boulos (PSOL), candidato a deputado federal, Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB, Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, o ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), e Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores no governo FHC.
Já o deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP) marcou presença trajando uma camisa com o nome de Bolsonaro. O parlamentar disse não ter sido hostilizado até o momento que falo com a reportagem, mas que foi chamado de "peitudo" por alguns presentes no ato.
Autoridades do meio jurídico, como Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça no governo FHC (Fenando Henrique Cardoso), Dimas Ramalho, presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), e Mario Sarubbo, procurador-geral de Justiça do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), estiveram no local.
'Não é uma cartinha'. Antes das leituras, foram feitos discursos por acadêmicos e lideranças de diversos setores da sociedade civil, incluindo sindicatos, em defesa da democracia.
Apenas um discurso citou, indiretamente, o presidente. Francisco Canindé Pegado do Nascimento, secretário-geral da UGT (União Geral de Trabalhadores), fez uma referência ao posicionamento de Bolsonaro, que minimizou o documento, chamando-o de "cartinha".
"Não é um bilhete ou uma cartinha, como alguém insinua. Respeitem esta carta!", discursou diante de gritos e aplausos do público.
O que foi dito nos discursos? "Queremos eleições livres e tranquilas, um processo eleitoral sem fake news, pós-verdades ou intimidações. Estamos voltados a impedir retrocessos. Espero que essa mobilização nos coloque novamente no caminho correto na discussão do futuro de São Paulo e do Brasil", disse Carlos Gilberto Carlotti Júnior, reitor da USP.
"Este não é um manifesto partidário, mas é um momento solene, no qual as principais entidades da sociedade brasileira vêm celebrar o compromisso maior com a democracia", declarou o advogado Oscar Vilhena Vieira, membro do comitê do manifesto.
"Nós não temos um caminho, que não o da liberdade, da democracia e da Justiça. É por isso que estamos aqui. Toda a nossa coragem tem que ficar concentrada em salvar o que foi conquistado, que é a base do nosso futuro", discursou Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central.
Como foram as reações? O discurso de Patrícia Vanzolini, presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo), terminou com aplausos em pé e gritos de "viva a democracia", repetido em outros relatos na sequência
"O racismo deve ser rechaçado em todo o mundo. Os brutais assassinatos do povo negro demonstram isso. Enquanto houver racismo, não vai haver democracia", disse Beatriz Santos, representante da Coalizão Negra por Direitos, aplaudida de pé após o seu discurso.
Emoção por Marielle, Bruno e Dom. Antes da leitura da carta, o discurso de Manuela Morais, presidente do centro acadêmico 11 de Agosto, foi interrompido em ao menos quatro ocasiões por aplausos do público.
Em meio ao discurso, também foi aplaudida ao dizer "ditadura nunca mais" e ao lembrar de jovens, negros e periféricos assassinados em ações policiais. "Não queremos a democracia da fome, das chacinas e, tampouco, a democracia dos ricos. Queremos a democracia dos povos".
Ela chegou a se emocionar ao citar os assassinatos da vereadora Marielle Franco, morta a tiros em março de 2018 no Rio de Janeiro, e de Bruno Pereira e Dom Phillips, assassinados este ano no Vale do Javari (AM).
Recado para Bolsonaro? Mario Sarubbo, procurador-geral de Justiça do MP-SP, foi questionado se o ato de hoje seria um recado ao presidente Bolsonaro, para que o mandatário respeite o processo eleitoral deste ano.
"É uma mensagem para o Brasil no sentido de que a sociedade quer que as eleições sejam efetivamente a festa, que elas representam no sistema democrático. Então, o recado está dado para o Brasil", respondeu.
O que aconteceu no lado externo? Quem não pôde entrar na faculdade, acompanhou a cerimônia do lado de fora. Por volta das 9h, alguns grupos já se reuniam em frente ao prédio no largo de São Francisco, na Sé, região central de São Paulo, para acompanhar o ato por meio de telões.
Parte do público fugiu da chuva. Quem se preveniu e levou guarda-chuva ficou em frente ao edifício histórico, enquanto parte dos manifestantes se refugiou sob a marquise de um prédio do outro lado da rua.
Quando começaram as leituras, o largo estava tomado pelo público. As pessoas acompanharam a leitura por telões em meio a manifestações em defesa da democracia, com faixas e cartazes alusivos ao movimento.
Mais cedo, houve um ato ecumênico em frente ao prédio da faculdade. Representantes de religiões cristãs, islâmicas e de matriz africana se juntaram para defender a democracia e reivindicar o combate à fome. "Com barriga vazia não tem democracia", afirmou ao UOL o pastor batista Levi Araújo, em frente a uma mesa com pães.
Sem conotação partidária? A ex-jogadora de baquete e medalhista olímpica Marta, que é signatária da carta em defesa da democracia, conversou com manifestantes em frente ao Largo de São Francisco. Ao UOL, descartou qualquer conotação partidária ou eleitoral para o ato de hoje. "As pessoas têm de esquecer essa história de partido. A democracia é para todo mundo".
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