Ex-advogado de hacker relata ameaça após encontro com campanha de Bolsonaro
O advogado Ariovaldo Moreira, que defendia o estudante de direito Walter Delgatti Neto, o "hacker de Araraquara" preso na Operação Spoofing, relacionada à Vaza Jato, relatou ter recebido ameaças de morte após um encontro entre Delgatti e a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Moreira deixou a defesa do cliente na quinta-feira (11) alegando discordâncias sobre o "andamento da conversa" em Brasília com a campanha presidencial.
Em boletim de ocorrência registrado em Araraquara (SP) na noite de ontem (13) e obtido pelo UOL, o advogado diz que passou a receber mensagens de WhatsApp com ameaças a integrantes de sua família.
Após abdicar da defesa de cliente relacionado com a Operação Spoofing da Polícia Federal [...], recebeu ameaças de morte, envolvendo todos os seus familiares. Informa, ainda, que as mensagens de morte vieram por áudio e por escrito, pelo aplicativo WhatsApp, cuja identificação do perfil é 'morte'"
Boletim de ocorrência registrado pelo advogado Ariovaldo Moreira
No boletim, Moreira frisa que as ameaças se iniciaram "após retorno de reunião com autoridades relacionadas ao governo federal, na capital federal". O advogado se comprometeu em apresentar prints das mensagens às autoridades.
Como apurou o UOL, Walter Delgatti Neto viajou para Brasília no domingo passado (7) a convite do PL, partido de Bolsonaro.
Conhecido como o "hacker de Araraquara", Delgatti invadiu celulares de centenas de autoridades e obteve mensagens trocadas entre integrantes da operação Lava Jato que foram divulgado pelo site The Intercept na série Vaza Jato, a partir de 9 de junho de 2019.
Ele foi preso em 2019 pela PF na Operação Spoofing e solto em 2020, mediante diversas medidas cautelares, como proibição de acesso à internet.
Durante o encontro com a campanha do presidente, Delgatti foi questionado sobre a segurança das urnas eletrônicas - um dos pontos de ataque de Bolsonaro contra o sistema eleitoral. Os participantes da reunião também demonstraram curiosidade com os bastidores do hackeamento de conversas de políticos e membros do Judiciário.
Em entrevista ao TAB, publicada na segunda (8), Delgatti mostrou ressentimento com o que chamou de "falta de gratidão" do ex-presidente Lula. A divulgação das conversas entre o então procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, contribuiu fortemente para a revisão das condenações do petista e sua reviravolta política.
Delgatti viajou a Brasília cerca de dez dias após se encontrar com a deputada Carla Zambelli (PL-SP) em um hotel em Ribeirão Preto, onde ele mora desde que deixou a prisão.
Em suas redes sociais, Zambelli postou uma foto do encontro, ocorrido em 28 de julho, com "o homem que hackeou 200 autoridades, entre ministros do Executivo e do Judiciário brasileiro".
"Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito", escreveu a parlamentar no Twitter em 10 de agosto. "Em breve, novidades", anunciou.
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