Relatórios enviados por Damares não comprovam abuso infantil, diz jornal
Senadora eleita pelo Distrito Federal, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) não comprovou a afirmação de que crianças da Ilha de Marajó, no Pará, são alvo de mutilações corporais com finalidade de violência sexual. A assessoria da bolsonarista enviou ao jornal O Estado de S.Paulo 2.093 páginas dos relatórios de três CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), mas o conteúdo não contém os fatos que ela diz terem ocorrido.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes hoje, Damares disse que as denúncias "a gente ouve nas ruas, na fronteira", sem especificar qual região fronteiriça. A Ilha de Marajó, no Pará, não faz limite territorial com outro país.
"Essa coisa de que as crianças, quando saem, saem dopadas e os seus dentinhos são arrancados onde elas chegam, a gente ouve nas ruas, na fronteira. Na CPI, lá atrás, já se falava de que forma essas crianças são traficadas. Elas ficam dopadas por 24 horas. Elas são levadas em caixas, sacos. Todo mundo, na fronteira, fala", disse Damares, em entrevista à Rádio Bandeirantes, nesta quinta-feira (13).
Em um culto na igreja Assembleia de Deus, em Goiânia (GO), com crianças presentes, Damares detalhou abertamente os casos de abusos sexuais, que teriam sido cometidos contra crianças na Ilha de Marajó. Ela não mostrou provas no momento da fala.
Eu vou contar uma história para vocês, que agora eu posso falar. Nós temos imagens de crianças brasileiras de três, quatro anos que, quando cruzam as fronteiras, os seus dentinhos são arrancados para elas não morderem na hora do sexo oral Ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
A senadora eleita ainda disse ainda que as meninas e meninos comem comida pastosa "para o intestino ficar livre na hora do sexo anal".
Segundo o Estadão, a assessoria de Damares enviou ao jornal relatórios da CPI da Pedofilia, de 2010, com 1.696 páginas; 284 páginas da CPI da Assembleia Legislativa do Pará, criada em 2010 para apurar práticas de violência sexual contra crianças e adolescentes no Estado, inclusive na Ilha de Marajó; e um terceiro documento da CPI dos maus-tratos, concluída em 2018 pelo Senado. Em suas 113 páginas, também não aparece nenhuma referência aos episódios citados pela ex-ministra.
Após o jornal insistir sobre quantos casos de violência relatados pela ex-ministra ocorreram e quando, a assessoria alegou que seriam casos antigos, registrados em meados de 2019. Depois, foi informado que se trata de casos de 2020. A assessoria de Damares argumentou ainda que seriam casos sigilosos.
MP cobra mais informações sobre denúncias
O MPPA (Ministério Público do Pará) enviou na terça-feira (11) um ofício para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos para que sejam encaminhadas as denúncias de possíveis crimes de violência sexual contra crianças na Ilha de Marajó, relatados pela ex-ministra da pasta Damares Alves.
O pedido foi endereçado para a atual ministra, Cristiana Britto, "solicitando que encaminhe a este órgão documentação existente naquele Ministério, conforme afirmado pela então Ministra em seu pronunciamento, a fim de que os relatos sejam investigados e, todas as providências cabíveis possam ser adotadas".
Em nota ao UOL, a Polícia Civil do Pará disse não ter "nenhum registro referente aos modos de atuação descritos pela ex-ministra" e encaminhou "ofício solicitando documentos e mídias citadas" por Damares para iniciar "de forma urgente investigação sobre os fatos relatados".
Nos últimos dias, as afirmações da senadora eleita fizeram com que ela se tornasse alvo de pedidos de esclarecimentos do MPF (Ministério Público Federal) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) foi acionada contra ela, já que ela estaria como ministra na época dos crimes relatados por ela.
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão estabeleceu um prazo de três dias, contando desde o dia 11, para que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos preste informações sobre todas as denúncias de violência contra crianças que recebeu desde 2016.
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