Celso Rocha de Barros: Melhor cenário para o PT é ser 'MDB que deu certo'
O sociólogo e cientista político Celso Rocha de Barros participou hoje do programa Análise da Notícia e fez uma avaliação sobre o papel do PT em um governo de coalizão após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais ter sido impulsionada pela formação de uma frente ampla. Para ele, o Partido dos Trabalhadores terá que desempenhar um papel mais ao centro, tentando ser o "MDB que deu certo".
"O melhor cenário para o PT é ser o MDB que deu certo, mas se você pegar o que o PT discutiu nos últimos anos, não tem nada a ver com isso. Tinha muita gente contente em voltar a ser oposição e fazer uns movimentos mais de esquerda e tentar recuperar um espaço perdido para o PSOL nos movimentos sociais", disse.
Barros também destacou que o PT terá que se conformar com um papel menor no próximo governo se comparado aos outros governos petistas, justamente pelo fato de a aliança que elegeu Lula ser maior do que era em anos anteriores. Ele destacou, inclusive, o papel de Simone Tebet (MDB) nessa frente ampla.
"Simone Tebet foi um dos grandes destaques do 2º turno. O papel dela para atrair votos de moderados foi importante e tem pessoas que falaram que ela foi uma espécie de 'fiadora' do Lula em um setor do centro. Foi uma contribuição inestimável".
Para o especialista, além do PT ter que se conformar com esse papel de menos destaque em seu próprio governo, ainda mais se comparado ao primeiro governo de Lula, o partido também terá que desempenhar um papel que nunca foi feito em sua história, atuando quase como um partido de centro.
"O PT vai ter que dividir um pouco o poder, bem mais do que fez em outros governos, e vai ter que desempenhar um papel que nunca desempenhou. Não tem mais centro entre o PT e a direita, então o PT vai ter que fazer esse papel de centro, o papel que antes faziam o PMDB (atual MDB) ou o PSDB".
Diante desse cenário, Barros alertou que um dos grandes desafios do PT será não perder espaço dentro da esquerda, pois o risco de dissolver sua própria identidade política é real. "Agora o PT vai ter que se embrenhar de vez no estado brasileiro".
Ele ainda afirmou que, diante dessa situação, o partido terá que construir alianças mais estáveis e se acostumar até mesmo a ser o partido que apoia, por exemplo, o MDB em alguns estados. O cientista político afirmou que pode acontecer a "MDBização do PT".
"O PT vai tentar dar certo naquilo que o PMDB [atual MDB] deu errado nos anos 80. Vai tentar ter um bom programa econômico para lidar com uma situação que vai ser muito ruim quando o Lula assumir. Por outro lado, ele vai tentar preservar alguma coisa de sua identidade ideológica, coisa que o MDB não conseguiu".
Por fim, o especialista ainda destacou que o PT poderá viver uma espécie de dilema. Por um lado será difícil assumir o papel de um "MDB que deu certo", mas por outro lado o partido terá que se conscientizar que esse é o melhor cenário para conseguir formar um governo de coalizão.
O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.
Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.
Veja a íntegra do programa:
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