Capitão e ex-Alckmin: as opções bolsonaristas de Tarcísio na Segurança
A equipe de transição para a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo anunciada ontem pelo governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) é dominada por representantes do bolsonarismo, dizem analistas da área ouvidos pelo UOL Notícias. O conjunto de nomes sugere a adoção de uma linha dura no policiamento.
Os especialistas também criticam a escassez de pessoas com experiência em gestão e questionam a prioridade por profissionais ligados à Polícia Militar —há sete indicados com passagens pela corporação e apenas duas pessoas ligadas à Polícia Civil. No grupo de nove pessoas, há apenas uma mulher (veja a lista abaixo com o perfil de cada um deles).
A equipe de transição indica os possíveis rumos para a segurança pública no governo que começa em janeiro de 2023. Nos bastidores de pessoas próximas ao governador eleito, há ao menos três possibilidades para comandar a secretaria da área.
Os nomes deles já foram cogitados em reportagem publicada há um mês sobre os planos do então candidato para a pasta. Todos fazem parte do núcleo bolsonarista ligado a Tarcísio.
Veja quem é quem na equipe de transição
- Antônio Ferreira Pinto - Ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, ex-PM e procurador de Justiça aposentado.
- Artur José Dian - Delegado do Grupo Especial de Reação, um dos grupos táticos da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Também foi titular da Divisão de Operações Especiais (DOE).
- Cássio Araújo de Freitas - Oficial da PM, comandou o 5º Batalhão da Tropa de Choque da Polícia Militar e também trabalhou, por 13 anos, na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
- Guilherme Muraro Derrite - Ex-capitão da PM, se elegeu deputado federal pelo PL com 239,7 mil votos e foi próximo de Tarcísio durante a campanha.
- Paulo Maculevicius - Oficial da PM e assessor parlamentar de Derrite.
- João Henrique Martins - Ex-oficial da PM, cientista político especializado em Economia Ilícita e Controle do Crime. É Mestre pela FFLCH/USP e doutorando pelo IRI/USP. Possui qualificações sobre financiamento do crime organizado pelo FBI
- Nelson Santini - Oficial da PM, dono de empresa de segurança e irmão de um assessor especial do presidente Jair Bolsonaro (PL).
- Raquel Kobashi - Delegada da Polícia Civil de São Paulo e liderança sindical. Concorreu a deputada pelo PL e não se elegeu.
- Rodrigo Garcia Vilardi - Oficial da PM, também é Mestre e Doutor em Direito Penal pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP). É professor do Centro de Altos Estudos de Segurança, da Academia de Polícia Militar do Barro Branco.
Opções para secretário no núcleo bolsonarista
Influencer de mídia digital. Ex-policial militar reeleito para o cargo de deputado federal e identificado com o núcleo bolsonarista mais próximo de Tarcísio, o capitão Derrite (PL) é apontado como um dos favoritos para assumir a Secretaria de Segurança Pública. Procurada, a assessoria dele não quis se posicionar.
Especialistas dizem ver em Derrite um perfil mais ligado à ala ideológica, capaz de gerar controvérsias entre membros da cúpula das duas instituições que compõem a secretaria.
Como é identificado com a Polícia Militar, poderia gerar questionamentos dentro da Polícia Civil. Geralmente, a escolha é feita por um "nome neutro" ligado a outras instituições, como Judiciário, Ministério Público ou Exército.
Mas o nome dele também poderia causar contestações dentro da própria Polícia Militar, instituição que costuma prezar pela hierarquia das patentes dos oficiais. Com Derrite à frente da pasta, esta tradição se quebraria, já que coronéis, tenentes-coronéis e majores passariam a ser subordinados a um capitão.
"O Derrite como secretário pode gerar muito desconforto e tensões nas duas polícias. Hoje, ele age como um influencer de mídia digital com um perfil ligado ao bolsonarismo raiz. Isso pode afetar as relações com o Judiciário e com o Ministério Público, já que é uma pasta que exige sobriedade e equilíbrio", diz Rafael Alcadipani, professor na área de Segurança Pública na FGV (Fundação Getulio Vargas).
Diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno ressalta que a situação é diferente da experimentada pelo presidente.
Ela explica que Bolsonaro chegou ao cargo de chefe das Forças Armadas como capitão da reserva, mas tem 27 anos como deputado federal e uma carreira política consolidada. Derrite tem apenas quatro anos como parlamentar e um vínculo recente com a carreira militar.
"Politicamente, ele é um nome muito forte junto ao Tarcísio e à ala mais radical do bolsonarismo. Não consigo imaginar a Polícia Militar aceitando ser comandada por alguém com essa patente."
Alcadipani alerta ainda para o perfil ideológico, que pode estar à frente da parte técnica em uma possível gestão de Derrite. "Houve muito avanço nos últimos 20 anos, mas isso pode representar um retrocesso para as polícias de São Paulo", projeta.
Mais experiente. Também ganha força o nome de Antônio Ferreira Pinto. À frente da secretaria entre março de 2009 e novembro de 2012 nas gestões José Serra (PSDB) e Geraldo Alckmin (PSB), na época também do PSDB, o procurador de Justiça aposentado ficou conhecido pelo combate ao PCC (Primeiro Comando da Capital). A reportagem enviou mensagem para o contato dele, mas não obteve resposta.
Ex-secretário da Administração Penitenciária entre junho de 2006 e março de 2009, se enquadraria como o perfil técnico que Tarcísio diz buscar para seu secretariado por ter ocupado as duas pastas, dizem aliados do governador eleito.
Diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo ressalta esta experiência de Ferreira Pinto. Ela pondera que demais escolhidos para a equipe de transição são de policiais que integraram grupos especializados ou políticos, e o posto de secretário de Segurança Pública exige conhecimento em gestão.
Além de administrar as policias Civil e Militar, as funções do cargo ainda demandam interlocução com outras áreas. "Um exemplo seria conversar com a educação e saúde para promover projetos de prevenção ao crime e às drogas", diz.
A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública disse ainda que a escolha de Ferreira Pinto não afasta Tarcísio do bolsonarismo. Samira contou que ele é alinhado com a Polícia Militar, uma categoria inclinada ao presidente, e o policiamento ostensivo foi uma das marcas de sua passagem pela Secretaria de Segurança Pública.
"O nome do Ferreira Pinto é mais forte, porque já foi policial militar e é muito experiente. Foi um secretário de Segurança Pública que fez a linha dura, flertando com o que o bolsonarista prega."
Alternativa fora da transição. Há ainda a possibilidade de alguém que não esteja na equipe de transição, como o próprio Tarcísio alertou. É o caso do ex-desembargador Ivan Sartori, que concorreu ao cargo de deputado federal nessas eleições pelo Avante, mas não se elegeu.
A expectativa é de que o secretariado comece a ser revelado nos próximos dias. Tanto o governador eleito quanto o coordenador da transição, Guilherme Afif Domingos (PSD), declararam que os escolhidos não estarão necessariamente entre os membros da transição.
Capacidade técnica. O perfil bolsonarista dos integrantes da equipe de transição não significa falta de preparo técnico ou conhecimento sobre segurança pública, ressalta Samira Bueno. A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública explicou que o grupo tem estudiosos e competência e a questão é o quanto seu perfil ideológico vai influenciar nas decisões.
"Não dá para dizer que tecnicamente é um grupo despreparado, porque não é. Eles têm formação. A dúvida que fica é: em que medida a ideologia bolsonarista vai acabar pesando mais ou menos nas decisões?", questiona.
Samira cita a questão das câmeras nas fardas dos policiais militares, que têm relação com a diminuição da mortalidade da tropa, mas que foi demonizada pelo bolsonarismo. A opção por manter a estratégia ou encerrar o programa dará medida do quanto a ideologia vai se sobrepor a parte técnica.
A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz ressalta a presença de Nelson Santini, dono da empresa de segurança privada que prestou serviços a Tarcísio na campanha eleitoral. Ele é irmão de um assessor do presidente Bolsonaro, mas a questão que que Carolina faz a sobre a participação de um agente privado na equipe que formula a política pública.
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