Bolsonarista, 'modelo RJ' ou general: os planos de Tarcísio na Segurança
À frente nas pesquisas de intenção de voto para o segundo turno das eleições ao governo de São Paulo na disputa com Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) já analisa opções de gestão para a Secretaria de Segurança Pública.
Embora a campanha do ex-ministro da Infraestrutura no governo Jair Bolsonaro adote oficialmente uma postura de cautela e diga que foca apenas na disputa eleitoral, o UOL Notícias apurou que Tarcísio estuda ao menos três linhas para a pasta a partir de 2023 em caso de vitória.
Perfil mais ideológico. Uma delas seria optar por uma ala bolsonarista, de perfil mais ideológico e com a presença de um político conhecido pelos eleitores. De preferência, ligado às forças de segurança.
Há também a possibilidade de um nome sem experiência na área, mas com capacidade de projeção política ao ganhar os holofotes da pasta, como é o caso de Ricardo Salles (PL), ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro que se elegeu deputado federal neste ano pelo estado.
Combate ao crime organizado. Outra corrente defende uma mudança gradual na pasta, para uma atuação mais independente das polícias Civil e Militar.
Nesse contexto, há nomes que despontam por servirem como símbolo no combate ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que domina o crime organizado em São Paulo.
Continuidade. A terceira linha seria apostar na continuidade da gestão anterior, com aposta em um novo general para substituir João Camilo Pires de Campos, à frente da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) desde o começo do governo de João Doria, em 2019.
A reportagem conversou com fontes ligadas ao tema, com contato direto com membros da cúpula da polícia e de políticos com influência na equipe de Tarcísio.
1 - Ala bolsonarista
Políticos do núcleo bolsonarista mais próximos a Tarcísio exercem pressão para que ele opte por um secretário com perfil "ideológico", trazendo à tona ao menos três nomes.
Ivan Sartori. Um dos nomes ligados ao bolsonarismo que ganha força nos bastidores é o do ex-desembargador Ivan Sartori, que concorreu ao cargo de deputado federal nessas eleições pelo Avante, mas não se elegeu.
Conhecido como o juiz que absolveu os policiais réus da chacina do Carandiru, Sartori tem o perfil "linha-dura", que agrada a ala bolsonarista, e já apareceu em atos de campanha ao lado de Tarcísio. O nome dele ganha projeção na ala ideológica pelo fato de ter integrado o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).
Também pesa positivamente na balança o fato de ele não ter pertencido às polícias Civil ou Militar, sendo assim, seria visto com neutralidade entre as duas forças. Mas ele é apontado como uma pessoa de "personalidade forte" nos bastidores da SSP-SP, o que poderia ser um entrave para a sua aprovação.
Procurado, Sartori preferiu não comentar sobre eventuais sondagens, mas disse estar à disposição de Tarcísio.
Ricardo Salles. Outro nome cogitado pela ala bolsonarista é o de Ricardo Salles (PL).
Uma das ideias seria que ele ganhasse protagonismo caso Tarcísio seja eleito para projetar uma futura candidatura dele para a prefeitura de São Paulo, em 2024. Fontes próximas a Salles ouvidas pela reportagem disseram que ele chegou a ser consultado por pessoas ligadas à cúpula das polícias Civil e Militar.
O aspecto negativo é a falta de experiência com o tema. Procurado, Salles disse que não comentaria as especulações.
Capitão Derrite. Um nome que ganha força é o do capitão Derrite (PL), ex-policial militar reeleito para o cargo de deputado federal.
Contudo, a forte ligação dele com a Polícia Militar poderia ser vista como um aspecto negativo para comandar a pasta, que também inclui a Polícia Civil.
Há também resistência dentro da própria PM, já que ele comandaria oficiais com patentes mais altas do que a sua, como coronéis, tenente-coronéis e majores.
Procurada, a assessoria do capitão Derrite negou que ele tenha sido sondado. "Não existem acordos nem cargos pré-definidos. O que ele [Tarcísio] deve fazer é convidar alguém (...) que tenha experiência na área de Segurança Pública e que tenha alguma afinidade com ele, para que juntos possam estabelecer a melhor estratégia para encarar o crime organizado de frente", disse, por meio de nota.
Coronel Telhada. Ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa de elite da PM, o coronel Telhada (PP) não teria a mesma resistência, se comparado ao capitão Derrite, já que tem a patente mais alta da corporação.
Mas ainda que seja apoiador de Bolsonaro, o nome dele não surge com tanta força nos bastidores. Hoje ocupando o cargo de deputado estadual, Telhada ficou apenas como suplente para o cargo de deputado federal nas eleições deste ano.
Procurado, o coronel Telhada disse não ter sido procurado pela equipe de Tarcísio.
2 - "Modelo do RJ" e combate ao PCC
A criação de secretarias independentes da Polícia Militar e Polícia Civil, aos moldes do modelo adotado no Rio de Janeiro desde 2019, agrada pessoas ligadas à cúpula nas duas instituições. Mas há críticas de especialistas devido à maior dificuldade de integração com o fim de uma pasta capaz de unir as duas polícias.
A própria campanha de Tarcísio chegou a confirmar a tendência à Folha de S. Paulo. Embora tenha recuado após a repercussão negativa do assunto com a publicação da reportagem, a mudança do modelo não é totalmente descartada, caso seja eleito.
Lincoln Gakiya. Ainda seguindo uma linha de endurecimento no combate ao crime organizado, ganha força o nome do promotor Lincoln Gakiya, especializado em ações envolvendo o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que domina o crime organizado em São Paulo.
Procurado pela reportagem, o promotor negou ter recebido qualquer tipo de sondagem.
Ferreira Pinto. O ex-secretário Antônio Ferreira Pinto é um dos nomes citados para assumir a pasta. À frente da secretaria entre março de 2009 e novembro de 2012, o procurador de Justiça aposentado ficou conhecido justamente pelo combate ao PCC. A reportagem ligou e deixou mensagem, mas ele não retornou o contato.
3 - Continuidade
Uma das hipóteses discutidas internamente pela campanha de Tarcísio é a de dar continuidade ao modelo adotado desde a gestão de João Doria, que anunciou na última quarta-feira (19) a sua desfiliação do PSDB.
Governador de São Paulo entre 2019 e abril deste ano, quando renunciou ao cargo para tentar disputar a Presidência da República, foi Doria quem anunciou o general João Camilo Pires de Campos à frente da SSP desde o começo da sua gestão.
Mas a possibilidade de manutenção dele no cargo está descartada devido ao cansaço e a pressões da própria família. A principal hipótese, nesse caso, é a de Tarcísio anunciar um outro general do Exército do período em que integrou a missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti, entre 2005 e 2006.
Fator Kassab. A influência de Gilberto Kassab na campanha de Tarcísio é apontada por uma das fontes ouvidas pelo UOL como um dos fatores que poderiam indicar a opção mais conservadora de manutenção da gestão anterior.
O ex-prefeito de São Paulo é presidente do PSD, mesmo partido de Guilherme Afif Domingos, que coordena o plano de governo de Tarcísio. Kassab é apontado por fontes ouvidas pela reportagem como um político de forte influência na campanha de Tarcísio.
Secretário da Casa Civil no governo Doria, o ex-prefeito de São Paulo pediu afastamento do cargo em dezembro de 2020, depois de ter sido alvo de um mandado de busca e apreensão da Polícia Federal enquanto respondia às acusações de corrupção política, nepotismo e tráfico de influência.
Afif Domingos tem uma relação de proximidade com o presidente do seu partido. "Sempre o tive como uma das minhas principais referências políticas", disse Kassab sobre Afif, em entrevista recente ao UOL Notícias.
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