Dia de jogo da Copa em ato golpista: 'Estão nos confundindo com torcedor'
A estreia do Brasil na Copa do Mundo do Qatar foi ignorada em um dos atos golpistas que pedem intervenção militar na zona sul de São Paulo. A multidão verde-amarela não viu quando Richarlison marcou contra a Sérvia na tarde desta quinta-feira (24) nem vibrou com o segundo golaço no fim da partida.
Havia, no entanto, uma preocupação no ar: parte dos manifestantes que compareceu ao protesto antidemocrático em frente ao Comando Militar do Sudeste não queria ser confundida com torcedores da Copa do Mundo por vestir a camisa canarinho da seleção. O auxiliar de produção Leandro, de 42 anos, foi ao ato de preto — pela primeira vez.
A uma amiga, ele disse: "Hoje não deu para usar [a camisa verde-amarela]. Estão confundindo a gente com torcedor." Depois, para a reportagem, explicou: "vim de preto só para não parecer que estava torcendo para Copa do Mundo. Só por isso", disse, sem se identificar. Leandro não assistiu ao jogo da seleção brasileira contra a Sérvia — passou a tarde em frente ao quartel.
Segundo ele, em dias sem jogos do Brasil "não tem problema" usar o verde-amarelo. "Mas hoje, não."
A camisa verde-amarela, tradicional para torcer pelo Brasil em dias de jogos da seleção, foi associada ao movimento de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos, mas parte dos torcedores e até a CBF tentam desvincular a camisa canarinho da política.
A proposta de usar preto no ato golpista foi divulgada em grupos bolsonaristas nas redes sociais na véspera do jogo da Copa.
Uma mensagem online pedia: "amanhã, na hora do jogo, todos na rua de preto com a bandeira do Brasil. A mídia internacional verá que algo muito grave aconteceu para o país não estar acompanhando a Copa."
A mudança no look também seria uma reação à posição supostamente esquerdista de Tite, técnico da seleção, segundo os manifestantes.
O que se viu, no entanto, foi uma ampla adesão ao verde-amarelo no ato golpista. No protesto, na zona sul paulistana, havia durante o jogo da seleção até venda de camisas e adereços com as cores da bandeira. Alguns manifestantes, no entanto, preferiram esconder a logomarca da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com fita preta isolante, em forma de X.
Hino, churrasco e oração
O protesto de apoiadores de Bolsonaro inconformados com o resultado das eleições presidenciais que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sendo realizado no mesmo local há semanas. Na tarde desta quinta-feira, apesar de haver jogo do Brasil na Copa, não houve mudança.
O Hino Nacional foi executado várias vezes no ato antidemocrático enquanto a bola rolava no Qatar. Quando saiu o segundo gol do Brasil na partida, os gritos continuaram no mesmo tom: "SOS Forças Armadas, SOS Forças Armadas".
Grupos de oração compartilhavam orientações para a ladainha. Uma Ave-Maria e um Pai Nosso eram rezados ao redor de Nossa Senhora e uma bandeira do Brasil — a oração era pela política brasileira. Também havia churrasco e distribuição de lanches gratuitos, mas a partida não era transmitida em nenhum telão nem havia qualquer menção ao jogo na tarde desta quinta.
Em um aparelho de som, nos primeiros minutos do jogo, um dos organizadores agradeceu a quem abriu mão de estar em casa com a família ou em bares assistindo ao jogo da seleção. "Cada um de vocês que está aqui sabe muito bem que não estamos nem aí para futebol, Copa do Mundo, seleção brasileira", disse, assim que a partida começou.
"O que importa é o futuro da nação, dos nossos filhos e netos. Só o que importa agora são as Forças Armadas, poder moderador da República, agirem e tomarem conta desse país, dessa bagunça", completou o locutor.
Leandro, o manifestante de preto, disse que está "frequentando" o protesto há dias. E vai quando está angustiado. "Para me sentir melhor." Às 18 horas, quando o jogo do Brasil terminava em festa em todo o país, os manifestantes, incluindo Leandro, faziam silêncio para a solenidade de arriamento da bandeira do Brasil.
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