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Bolsonaro se cala em evento militar e acena a apoiadores com faixa golpista

Do UOL, em Resende (RJ) e em São Paulo

26/11/2022 12h43Atualizada em 26/11/2022 17h22

Recluso desde que perdeu a eleição em 30 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) participou hoje (26) de cerimônia na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ), mas não discursou e não falou com a imprensa.

Ao chegar, o presidente acenou para apoiadores reunidos do lado de fora da Aman e que gritavam "eu autorizo", em referência a um golpe de Estado. Diante do presidente, havia uma grande faixa verde com os dizeres: "Bolsonaro, acione as Forças Armadas contra a fraude das urnas".

No local, também há um acampamento golpista, pedindo intervenção militar.

Não há qualquer indício de fraude nas eleições. Entidades fiscalizadoras — como TCU (Tribunal de Contas da União) e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) — confirmaram a lisura do processo eleitoral, sem ressalvas. O próprio relatório elaborado pelas Forças Armadas não apresentou qualquer indício de fraude.

Bolsonaro está sem se pronunciar publicamente desde 2 de novembro, quando gravou um vídeo pedindo o desbloqueio de rodovias por apoiadores inconformados com a derrota.

Vinte e sete dias após o segundo turno, o presidente ainda não reconheceu oficialmente que perdeu as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro acena para apoiadores e é recebido aos gritos de "eu autorizo", em referência a um golpe militar - Reprodução - Reprodução
Bolsonaro acena para apoiadores e é recebido aos gritos de "eu autorizo", em referência a um golpe militar
Imagem: Reprodução

Comandante do Exército evita política. Além de Bolsonaro, estavam presentes na cerimônia o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) e oficiais da Marinha, Aeronáutica e Exército.

Durante a formatura, o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, fez um discurso sem tom político. Falou de princípios militares como hierarquia e disciplina, honra e defesa do país.

A única menção do comandante a Bolsonaro ocorreu no começo da fala, quando dirigiu ao presidente um cumprimento amistoso dizendo que a presença dele abrilhantava a formatura da Aman.

"Estou seguro de que sua dignidade, seu culto à família, seu amor ao Brasil e inabalável fé em Deus serão referência na pavimentação dos caminhos que os jovens a sua frente trilharão a partir de hoje."

Manifestantes em frente à Aman seguram faixa onde se lê: 'Bolsonaro acione as Forças Armadas contra a fraude nas urnas' - Reprodução - Reprodução
Manifestantes em frente à Aman seguram faixa onde se lê: 'Bolsonaro acione as Forças Armadas contra a fraude nas urnas'
Imagem: Reprodução

Bolsonaro aplaudido. A cerimônia de que Bolsonaro participou era a formatura de 385 aspirantes a Oficial do Exército. Apesar de aplaudirem o presidente, os familiares dos formandos não demonstraram decepção quando o mestre de cerimônia encerrou o evento sem Bolsonaro falar.

De acordo com militares que conversaram com o UOL, não é uma regra o presidente discursar nas formaturas da Aman. Existem ocasiões que isto ocorre e outras em que ele não fala.

O presidente foi aplaudido quando chegou ao pátio da Aman e caminhou até o palco das autoridades. Como parte da cerimônia, padrinhos e madrinhas dos formandos entram no pátio e encontram os cadetes. Nesse momento, houve um breve coro de "mito".

Reclusão voluntária. A participação do presidente no evento de hoje coloca fim a um período distante de atos públicos, que durava desde a derrota na corrida eleitoral.

A última vez que Bolsonaro falou diante da imprensa foi em 1 de novembro, no Palácio do Alvorada, ocasião em que não reconheceu o resultado da eleição e terceirizou para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) a autorização para o começo da transição.

O pronunciamento ocorreu somente 45 horas depois de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proclamar o resultado da apuração dos votos.

É a primeira vez, desde a redemocratização, que um candidato derrotado para a Presidência não reconhece que perdeu e não parabeniza o eleito. O rito, agora ignorado por Bolsonaro, é considerado uma forma de respeito à democracia.

Em 2 de novembro, Bolsonaro fez o vídeo pedindo desbloqueio de estradas e, a partir de então, se isolou.

Neste período, o presidente deixou até de fazer lives, hábito que manteve durante todo o mandato, semanalmente. Bolsonaro chegou a passar 20 dias sem aparecer no Palácio do Planalto, seu local de trabalho. Neste intervalo, despachou e recebeu aliados no Alvorada.

O anúncio de que ele estaria na formatura da Aman neste sábado ocorreu na quinta-feira (24).

Erisipela. O confinamento voluntário do presidente coincide com uma infecção na perna. De acordo com o general Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro à reeleição, o presidente estaria com erisipela, enfermidade que se caracteriza por apresentar uma mancha vermelha, brilhante e dolorosa.

A doença afeta mais a camada externa da pele e os gânglios linfáticos próximos. O tratamento pode ser feito com penicilina, mas existem pacientes que precisam tomar outros antibióticos.