'Colado' em Lula, delegado será o chefe da PF no ano que vem
O delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, da PF (Polícia Federal), foi anunciado como o futuro chefe da corporação, informou o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, na manhã desta sexta-feira (9).
Andrei virou a "sombra" de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) logo no início da campanha e deve chefiar a segurança do presidente eleito até o dia da posse. Antes, foi responsável por cuidar da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) durante a campanha de 2010.
A relação de ambos fez com que Dilma indicasse Rodrigues a Lula, quando ele procurava alguém para cuidar da proteção da chapa em 2022. Também abriu caminho para que ele quase assumisse o comando da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) ou a diretoria-geral da Polícia Federal durante o primeiro mandato da petista, em 2011, mas perdeu o posto para Leandro Daiello.
Agora, com a eleição de Lula, o nome dele volta à mesa. Como o UOL havia adiantado, ele se tornou a principal aposta do governo de transição para tirar a segurança do presidente eleito da mãos dos militares aliados ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nós levamos em conta, sobretudo, a necessidade de restauração da plena autoridade e da legalidade das polícias e também a experiência profissional comprovada [de Andrei], inclusive na Amazônia."
Flávio Dino, em coletiva nesta sexta (9)
Um só ministério? Em coletiva nesta sexta, Dino disse que indicou o nome de Andrei para Lula. Nas reuniões do gabinete de transição de Lula, Dino defendeu a manutenção do Ministério da Justiça e Segurança Pública —criado por Bolsonaro e que compreende o comando da PF. Outros integrantes, no entanto, defendem a separação entre os assuntos.
O próprio Lula disse hoje que ainda cogita criar um Ministério da Segurança Pública, mas antes quer "arrumar a casa" —isso tiraria poder de Dino.
Temos interesse de criar um Ministério de Segurança Pública, mas a gente também não pode fazer a coisa de forma atabalhoada. O companheiro Flávio Dino tem a função de primeiro consertar o Ministério da Justiça e o funcionamento da Polícia Federal."
Lula, em coletiva nesta sexta (9)
Andrei assumiu secretaria no governo Dilma
Dino exaltou a experiência de Andrei e lembrou que o delegado assumiu a Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos), responsável pela segurança da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada Rio 2016. Isso ocorreu durante o governo Dilma —até então, foi o mais alto posto gerido por ele dentro do governo federal.
Antes disso, Andrei era da Superintendência da PF do Rio Grande do Sul e foi assessor da diretoria executiva da corporação, em Brasília.
O que pensam os colegas. Natural de Pelotas (RS), Rodrigues está desde novembro de 2002 na PF. Os 20 anos de corporação e o comando da segurança de grandes eventos não são suficientes para alguns delegados, que descrevem Rodrigues como "policial que não teria preparo para a função" em conversas de grupos de WhatsApp, reveladas pelo jornal "O Estado de São Paulo".
Para outros colegas da PF, porém, ele é considerado pragmático.
Da desconfiança à proximidade com Lula
Apesar de ter trabalhado com a segurança de Dilma e ter ocupado cargo de gestão no governo da petista, existia uma desconfiança de alas da campanha de Lula ao nome de Rodrigues.
Nos últimos anos, ficou evidente uma guinada de muitos membros da PF em direção ao bolsonarismo, mas, em entrevista publicada em 2013 pelo jornal Zero Hora, de Porto Alegre, disse que "não tem nenhuma vinculação política", não conhece o ex-ministro Tarso Genro, de quem especulou-se que era amigo, nem conhecia a presidente Dilma antes de ser chamado para fazer o trabalho de segurança.
"Ela [Dilma] é muito disciplinada, exigente e cumpridora de suas agendas", contou sobre a relação com a ex-presidente.
"Tenho a maior admiração e respeito pela presidenta. Mas minha relação se encerrou profissionalmente com aquela atividade. Minha indicação para [representante da PF] a Espanha foi do diretor-geral da PF [Leandro Daiello]."
Segundo o jornal "O Globo", o delegado acabou ganhando a confiança dos coordenadores da campanha, principalmente por travar embates internos dentro da própria corporação por mais efetivos e equipamentos para cuidar da proteção do então candidato e de seu vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB).
Foi Rodrigues também o responsável por pedir à PF a instauração de diversos inquéritos para investigar ameaças contra Lula. Ele também já criticou a gestão da pandemia pelo atual governo e afirmou que o Ministério da Defesa não deveria opinar sobre segurança pública.
"As instituições têm competências definidas e zelamos por essa legalidade. Não avanço um milímetro na área de defesa e não aceito que a defesa interfira um milímetro na área de segurança", declarou.
O que a Abin pediu?
Atualmente, além de cuidar da proteção do presidente eleito, Rodrigues também frequenta as reuniões do GT (Grupo de Trabalho) de Inteligência no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília.
Ele foi nomeado membro do gabinete de transição ao lado de Paula de Brito, agente da PF, e outros quatro agentes da Abin, identificados apenas pelo número da matrícula no DOU (Diário Oficial da União).
Antes de assumir o grupo, o delegado ouviu informalmente agentes da Abin e deles ouviu um desejo claro: que a agência de inteligência saia da tutela do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), antiga Casa Militar, que voltou a ser comandado por militares no governo Bolsonaro.
Os agentes temem que a ala bolsonarista permaneça e atrapalhe os trabalhos do serviço de segurança institucional —principalmente com Lula indicando que pode manter um general nesse setor.
No entanto, eles também se colocaram contra a indicação de um delegado da PF para a pasta, como aconteceu no governo Bolsonaro, o que poderia afetar a indicação de Andrei Rodrigues —o que não ocorreu.
Corrupção e pandemia: como ele pensa
É raro Andrei Rodrigues dar declarações públicas. Em um evento da ADPF (Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal), em 2018, Rodrigues considerou a corrupção "um problema sistêmico" e avaliou que o roubo é uma "consequência" social.
"A segurança pública não é um problema de hoje, temos que analisá-la não apenas pelo viés de polícia, que está recebendo a consequência do descalabro. O sujeito que está lá assaltando, furtando, roubando, ele é uma consequência. A gente tem que entrar na raiz desse problema", afirmou, segundo publicou a revista Conjur. "Não é uma escolha enfrentar o crime A, B ou C. A corrupção é um problema sistêmico e a Polícia Federal é o órgão que tem enfrentado isso muito fortemente."
Em um artigo escrito por ele e publicado em abril de 2020 pelo site Congresso em Foco, avaliou que "em nenhum momento" a pandemia foi tratada como "risco ou ameaça".
"Sem uma coordenação adequada, caso as curvas de crescimento da pandemia não sejam contidas, o país poderá enfrentar um colapso, pois não possui uma estratégia nacional de segurança, e na sua política nacional e plano de segurança pública, em nenhum momento, consta pandemia como risco ou ameaça", escreveu.
Escrito no início da pandemia, o artigo demonstra preocupação com a consequência social da crise sanitária para pessoas que vivem em ambientes de vulnerabilidade.
"Haverá busca desenfreada e a qualquer custo por víveres, sendo plausível pressupor um cenário de saques a mercados e farmácias, enfim, de violência urbana. O crime organizado reagirá de maneira ainda desconhecida, e a ocorrência de golpes, roubos e furtos por criminosos passando-se por agentes de saúde já é uma realidade", disse.
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