Bolsonaro defendeu denunciado por ataque contra indígenas em Roraima
Então deputado federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) comemorou a libertação de um fazendeiro acusado de tentar matar um grupo de indígenas em Roraima.
Em maio de 2008, ele saiu em defesa do arrozeiro e então prefeito de Pacaraima (RR), Paulo César Quartiero, preso pela Polícia Federal sob a acusação de ter sido o mandante de uma tentativa de chacina contra indígenas na reserva Raposa Serra do Sol.
De acordo com as investigações, homens comandados por Quartiero —que tinha uma fazenda dentro da área da reserva— atiraram e jogaram bombas de fabricação caseira contra os indígenas —ao menos 11 deles ficaram feridos. Preso em 6 de maio de 2008, o arrozeiro foi solto nove dias depois.
Bolsonaro foi ao plenário da Câmara dos Deputados elogiar a decisão da Justiça.
Quero cumprimentar a desembargadora Assusete Magalhães, que concedeu habeas corpus ao trabalhador Paulo César Quartiero, de Roraima, que teve sua propriedade particular invadida, reagiu, e o ministro da "Injustiça" Tarso Genro, amigo de terroristas, de bandidos, providenciou a prisão de quem teve a sua propriedade particular invadida.
Jair Bolsonaro, em discurso de 15 de maio de 2008
No mesmo discurso, o então deputado afirma que estava fazendo lobby no STF contra a demarcação das reservas Raposa Serra do Sol e Terra Indígena Yanomami, ambas em Roraima.
Eu estive ontem no Supremo Tribunal Federal, conversei com quatro ministros, quero conversar com todos. Falei aos ministros sobre a questão da inconstitucionalidade das reservas indígenas Raposa Serra do Sol e Yanomami, entre outras, apesar de sequer eu ser rábula nesta história.
Em 2017, Quartiero foi declarado réu por tentativa de homicídio e porte ilegal de armas. Ele responde a diversos outros processos na Justiça por conta de ataques a indígenas.
Em 2021, foi condenado a pagar indenização de R$ 200 mil por ter incendiado cinco povoamentos na raposa Serra do Sol, em 2004.
A reportagem não localizou Quartiero. O espaço segue aberto para eventual posicionamento.
Atuação contra indígenas
Em suas quase três décadas como parlamentar, Bolsonaro foi um ferrenho opositor das demarcações de terras indígenas, tendo como foco tentar evitar e, posteriormente, reverter a criação das principais reservas de Roraima: a Raposa Serra do Sol e a Terra Indígena Yanomami —que hoje vive uma situação de emergência de saúde após ações adotadas pelo governo Bolsonaro.
A oposição aos direitos indígenas se refletiria em sua gestão, com o desmonte da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), das estruturas de saúde indígena e com o estímulo ao garimpo ilegal.
Bolsonaro repetiu diversas vezes o argumento de que as reservas indígenas ocupavam uma área muito grande do território nacional. Além disso, afirmava que as demarcações em Roraima obedeciam a um lobby internacional para impedir a mineração de jazidas de ouro e outros minerais.
Ele ainda dizia que as terras demarcadas seriam invadidas por "países de primeiro mundo", algo que nunca ocorreu.
Ao vencer a eleição presidencial, prometeu reverter a demarcação da Raposa Serra do Sol. Uma de suas principais promessas de campanha foi não dar "nem um centímetro" para reservas indígenas.
O que é que nós temos nessas áreas? Biodiversidade, uma riqueza monumental, riquezas minerais, reservas de água doce, reservas de gás e, por que não dizer, de petróleo também, já que somos vizinhos da Venezuela, grandes espaços vazios que podem servir de atrativo para que populações de países nucleares e densamente povoados venham para cá também.
Discurso em 5 de dezembro de 2013
"Agora faço uma pergunta ao pessoal aqui, para concluir, Sr. Presidente: é justo uma reserva yanomami para 9.000 índios ter duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro? Isso é justo? Agora, por outro lado, na reserva Paraty-Mirim, no Rio de Janeiro, são 10 hectares para quase mil índios. Ou seja, para reserva indígena, o grande foco é demarcar terra que é rica. O que está em jogo é o nosso território nacional rico".
Discurso em 8 de outubro de 2013
Não consigo entender como o MST, com toda a força e o dinheiro que tem, falando a nossa língua, não consegue terras. O índio, sem falar a nossa língua, fedorento --é o mínimo que posso falar--, na maioria das vezes, vem para cá, sem qualquer noção de educação.
Discurso em 14 de abril de 2004
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