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Bolsonarista xingou músico negro de macaco após agredir 2 mulheres em SP

Do UOL, em São Paulo

04/02/2023 04h00

Um bolsonarista chamou um músico negro de macaco, na avenida Angélica, em Higienópolis, no centro de São Paulo. Marcelo Martins da Silva, 48, foi agredido verbalmente pelo mesmo homem vestido de verde e amarelo que atacou duas mulheres no dia 6 de janeiro.

Naquela sexta-feira, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fizeram uma carreata pela capital paulista. Testemunhas disseram que quatro pessoas pararam para confrontar as vítimas na avenida Angélica.

No dia 8 de janeiro, o caso foi registrado como lesão corporal. A administradora Débora Alba, 39, e a jornalista Tellé Cardim, 73, prestaram depoimento no início do mês passado.

Marcelo foi ouvido há uma semana, na sexta-feira, 27 de janeiro —quando o crime de injúria racial foi incluído no boletim de ocorrência.

Pelo menos três delegados já passaram pelo caso —que é investigado pelo 77º DP (Santa Cecília). A polícia ainda não confirmou oficialmente se já identificou o bolsonarista responsável pelas agressões.

Nenhum dos bolsonaristas prestou depoimento até ontem (3). Ninguém foi detido.

Bolsonarista agride mulher na Avenida Angélica, em São Paulo - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Bolsonarista desceu do carro, agrediu mulheres e chamou músico de macaco, dizem testemunhas
Imagem: Reprodução/Twitter

Bolsonarista fez gestos de macaco e arminhas, diz músico

Ao UOL, Marcelo disse que havia saído da Barra Funda, zona oeste da capital paulista, onde mora, para almoçar com um amigo na avenida Angélica. Ele já estava de saída quando viu a carreata bolsonarista. As primeiras agressões racistas foram em forma de gestos —os bolsonaristas imitaram um macaco e fizeram "arminhas" com as mãos.

Eu e meu amigo começamos, então, a fazer o gesto do L [de Lula] para eles. Nesse momento, uma senhora [Tellé Cardim] desceu com uma bandeira do Lula. Duas pessoas, uma mulher e um homem, foram em direção a ela, para agredi-la."

O músico diz que tentou proteger Tellé, que teve a bandeira com a imagem de Lula arrancada das mãos pelo bolsonarista. "Perguntei se eles estavam loucos por tentar agredir uma senhora. Aí desceu mais gente dos carros", disse o músico.

Nesse momento, policiais militares chegaram. "Um deles me segurou e eu tentando justificar que estava defendendo a senhora", afirmou Marcelo.

Foi uma violência absurda. Ele [policial] me segurava e não abordava quem estava agredindo."

Tellé e outras pessoas defenderam Marcelo —foi quando o músico começou a ouvir frases racistas do mesmo homem que, minutos antes, havia sido filmado agredindo Débora. "O cara começou a falar 'seu macaco', 'volta para a jaula, 'volta para África'." Marcelo é brasileiro.

A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que não há queixa formal sobre o comportamento dos policiais em relação ao músico. A Polícia Militar disse que a equipe no local "prestou o devido apoio".

26.jan.2023 - O músico Marcelo Martins da Silva, 48, foi vítima de racismo no mesmo dia da agressão à Debora - Caê Vasconcelos/UOL - Caê Vasconcelos/UOL
26.jan.2023 - O músico Marcelo Martins da Silva, 48, foi vítima de racismo no mesmo dia da agressão à Debora
Imagem: Caê Vasconcelos/UOL

Spray de pimenta, ameaças e agressões

Um novo vídeo obtido pela reportagem do UOL mostra o momento em que a jornalista de 73 anos começou a ser hostilizada pelos bolsonaristas. Nas imagens, é possível ver Marcelo protegendo Tellé e Débora correndo para ajudar.

Tellé disse que os bolsonaristas gritavam de dentro dos carros, afirmando que estavam "indo para Brasília" para "tirar Lula, com ou sem vida, do Planalto".

De um dos carros, desceram duas mulheres, que vieram para cima de mim, uma delas com spray de pimenta na mão. Ela usou o spray, mas o que me salvou foi a bandeira, que eu coloquei no rosto."

Quando Débora chegou mais perto, para defender Tellé, o agressor ouviu que a vítima era jornalista e começou a ofendê-la. "Ele disse: 'é jornalista? Vai apanhar porque não gostamos de jornalista. Jornalista tem que apanhar mesmo'", afirmou.

Dois dias depois das agressões na avenida Angélica, manifestantes golpistas vestidos de verde e amarelo invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, no DF.