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Ibaneis vai da tranquilidade ao pedido por Exército em 8/1; leia mensagens

O governador afastado trocou mensagens com chefes do Poderes a respeito dos ataques - 28.set.2018 - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O governador afastado trocou mensagens com chefes do Poderes a respeito dos ataques Imagem: 28.set.2018 - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

09/02/2023 22h32Atualizada em 10/02/2023 00h09

As mensagens periciadas pela Polícia Federal capturaram a mudança de tom de Ibaneis Rocha (MDB), governador afastado do Distrito Federal, em relação aos atos golpistas de 8 de janeiro.

Há registros desde o dia anterior, incluindo a troca de contatos com Anderson Torres —então secretário de Segurança do Distrito Federal— e a tentativa de tranquilizar Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.

Já no dia da invasão, Ibaneis recebe uma mensagem de uma preocupada Rosa Weber, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) e se justifica para jornalistas.

A PF concluiu que Ibaneis não agiu para mudar o planejamento da Segurança Pública frente ao anúncio dos atos de bolsonaristas, e que também não impediu que as forças policiais agissem para conter os invasores dos Três Poderes.

Veja uma cronologia das mensagens encontradas.

  • 7 de janeiro, 13h46: Ibaneis fala com Anderson Torres e Flávio Dino

O então governador recebe de Anderson Torres o contato de Fernando Sousa, o secretário-executivo da Segurança Pública do Distrito Federal.

Como Torres estava nos Estados Unidos de férias, Sousa era o chefe das polícias naqueles dias.

Ibaneis encaminha o contato de Sousa para o ministro da Justiça, Flávio Dino: "O Fernando está à frente da secretaria e já tomou todas as providências".

  • 7 de janeiro, 20h: Rodrigo Pacheco expressa preocupação, e Ibaneis o tranquiliza

"Polícia do Senado está um tanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão ao Congresso. Pode nos ajudar nisso?", escreve o senador.

Ibaneis responde: "Já estamos mobilizados. Não teremos problemas. Coloquei toda [sic] as forças nas ruas".

  • 7 de janeiro, 21h11: Flávio Dino questiona Ibaneis sobre bloqueios

O ministro da Justiça encaminha para Ibaneis um ofício do próprio ministério, datado do dia 7, que havia solicitado que o governo do DF bloqueasse a circulação de ônibus nos dias 8 e 9 de janeiro devido às ameaças dos bolsonaristas, que já falavam em causar danos aos prédios dos Poderes.

Uma hora depois, Dino encaminha uma matéria do portal Metrópoles, ao qual Ibaneis tinha declarado que as manifestações estavam liberadas se fossem "pacíficas".

0h30 do dia 8 de janeiro, Dino questiona: "Governador, não entendi bem qual será a sua orientação para a Polícia do DF. Onde será o ponto de bloqueio e de que forma?".

  • 8 de janeiro, 11h21: Ibaneis responde a Dino: "Situação tranquila, no momento".

O governador do DF retorna a Flávio Dino na mesma conversa com um relatório enviado por Fernando Sousa.

A "situação tranquila" se referia ao Quartel General do Exército, onde parte dos invasores estava concentrada. "Público oriundo das caravanas em torno de 2.500 pessoas", dizia o texto.

Já sobre a Granja do Torto, uma das residências mantidas pela Presidência da República, o relatório informava a presença de "cerca de 25 ônibus no local, porém reduzido número de pessoas; Total de 99 ônibus chegaram ao DF até o momento."

Atos golpistas destruíram prédios dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro - REUTERS/Antonio Cascio - REUTERS/Antonio Cascio
Atos golpistas destruíram prédios dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro
Imagem: REUTERS/Antonio Cascio
  • 14h30: "Oremos para que tudo acabe bem"

A mensagem acima foi enviada por Dino a Ibaneis assim que o governador compartilhou com ele um áudio de Fernando Sousa.

O áudio, enviado cerca de 1 hora antes da invasão de bolsonaristas, dizia, entre outras coisas:

Tá um clima bem tranquilo, bem ameno. Uma movimentação bem suave e a manifestação totalmente pacífica. Até agora, nossa Inteligência está monitorando e não há nenhum informe de questão de agressividade ligada a esse tipo de comportamento. Então, esse é o último informe pro senhor. Tem aproximadamente 150 ônibus já no DF, mas todo mundo de forma ordeira e pacífica. Final da tarde eu passo outro informe pro senhor."
Áudio do secretário-executivo de Segurança Pública do DF

  • 16h25: Rosa Weber a Ibaneis: "Já entraram no Congresso!"

"Coloquei todas as forças de segurança nas ruas", responde Ibaneis.

"O secretário de Segurança do DF está de férias, por isso o contato direto com o senhor!", escreve a presidente do STF.

  • 16h39: "Tira esses vagabundos do Congresso e prenda o máximo possível"

Não há mais clima ameno nas mensagens do governador com Fernando Sousa, como aponta a mensagem acima, enviada por Ibaneis ao secretário.

Mensagem de Ibaneis Rocha para Fernando Sousa, ex-secretário-executivo da Segurança Pública do DF, durante os ataques de radicais aos Três Poderes - Reprodução/PF - Reprodução/PF
Mensagem de Ibaneis Rocha para Fernando Sousa, ex-secretário-executivo da Segurança Pública do DF, durante os ataques de radicais aos Três Poderes
Imagem: Reprodução/PF

Fernando envia áudios pedindo ajuda:

Governador Ibaneis, a situação está bem crítica aqui. Eu queria ver com o senhor o acionamento da Força Nacional e talvez do Exército. Porque assim.. tá monitorando em grupo que eles estão chamando mais gente pra poder invadir os locais, né. Tem uma rede associada então que queria ver com o senhor a possibilidade de acionamento do Exército e da Força Nacional."
Fernando Sousa a Ibaneis Rocha

Em 8 de janeiro, bolsonaristas invadiram e depredaram prédios dos Poderes - Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo - Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Em 8 de janeiro, bolsonaristas invadiram e depredaram prédios dos Poderes
Imagem: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
  • 16h43: "Vamos precisar do Exército"

Ibaneis perde uma ligação de Flávio Dino, mas logo depois envia a mensagem acima ao ministro e passa novamente o contato de Fernando Sousa.

  • 19h23: Ibaneis tenta se justificar para jornalistas

O relatório da PF pula algumas horas e mostra mensagens do governador com alguns jornalistas, como Andréia Sadi, da GloboNews, e Cátia Seabra, da Folha S.Paulo.

"Querer culpar um só é um absurdo. Eu não sou conivente com nada desses absurdos. Sou um democrata. Respeito o resultado das urnas", diz o governador afastado a Sadi.

"Basta olhar os vídeos. A polícia militar não agiu como das vezes anteriores. Houve sabotagem", escreveu Ibaneis para Seabra.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do informado na versão anterior do texto, a moradia oficial do vice-presidente da República é o Palácio do Jaburu, e não a Graja do Torto. A informação foi corrigida.