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Coronel da PM-DF preso diz que Exército 'frustrou' desmonte de acampamento

Membros da PMDF montam guarda ao lado de acampamento deixado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no DF - AMANDA PEROBELLI/REUTERS
Membros da PMDF montam guarda ao lado de acampamento deixado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no DF Imagem: AMANDA PEROBELLI/REUTERS
Paulo Roberto Netto e Vinícius Nunes

Do UOL, em Brasília

09/02/2023 19h06Atualizada em 09/02/2023 19h39

Em depoimento à PF (Polícia Federal), o coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, ex-chefe do Departamento Operacional da PM-DF (Polícia Militar do Distrito Federal), disse que comandantes militares do Exército "frustraram os planos" da corporação até 9 de janeiro de retirada do acampamento golpista instalado em frente ao QG do Exército, em Brasília. O oficial está preso desde terça-feira (7).

Segundo o coronel Naime, a tentativa de desmobilizar o acampamento golpista ainda em 2022 foi impedida pelo general Dutra, chefe do Comando Militar do Palácio do Planalto, por ordem do então Comandante do Exército Júlio César de Arruda.

O relato vai na mesma linha do relatório da intervenção federal da segurança do Distrito Federal, entregue no último 27 de janeiro. O texto, assinado por Ricardo Cappelli, culpa diretamente o alto comando do Exército pela manutenção do acampamento golpista em Brasília. O local foi uma "incubadora de planos contra a democracia".

No depoimento de coronel Naime, tornado público nesta quinta-feira (9), ainda há relatos de outras "situações de confronto" com o Exército.

Ele ainda afirma que em uma das checagens da área de segurança do Palácio da Alvorada, em 2022, o capitão Roma, também do Exército, teria o expulsado do local. O militar estaria acompanhado por uma equipe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), órgão do governo federal.

O UOL procurou o Exército para comentar sobre as acusações do coronel Naime Ribeiro, mas a reportagem não obteve resposta. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

Exército negou ajuda em desmobilizar acampamentos durante reuniões. Sem precisar um número, o coronel diz que ocorreram diversos encontros com o comando da PM e o Exército para desmobilizar o acampamento, mas todas foram anuladas pelos militares do governo federal.

Em nenhuma das reuniões, segundo o depoimento, estava Anderson Torres —então ministro da Justiça de Bolsonaro e depois secretário da Segurança Pública do DF.

Oficial nega omissão. O coronel também nega que tenha sido omisso durante o ato golpista de 8 de janeiro. Ressalta que estava afastado, em licença, durante o planejamento de segurança da manifestação, em 6 de janeiro, e que "não pode ser responsabilizado" pelas falhas no bloqueio dos manifestantes.

Naime ainda argumentou em depoimento que, mesmo em licença, foi à Esplanada dos Ministérios naquela tarde para auxiliar o cumprimento de prisão dos golpistas que vandalizaram as sedes dos Três Poderes.

Prisão e possíveis crimes

Ex-chefe operacional da PM-DF, coronel Naime foi preso por suspeita de omissão antes e durante o ato golpista de 8 de janeiro. Ele foi alvo da 5ª fase da operação Lesa Pátria.

Alvo de uma investigação na Corregedoria da corporação por supostamente permitir a fuga de bolsonaristas, o PM negou, na ocasião, que tenha feito corpo mole.

Para o ex-interventor da Segurança Pública do Distrito Federal Ricardo Cappelli, Naime Barreto retardou propositalmente a linha de contenção da PM.

Capelli, que atua na Secretaria-Executiva do Ministério da Justiça e Segurança Pública, disse ter visto com os "próprios olhos" os comandados por Naime Barreto avançando "lentamente" contra os golpistas.

Na ocasião, em nota, a defesa do coronel afirmou que as investigações mostrarão a inocência do profissional.

"O militar agiu conforme a lei técnica, realizando todas as prisões ao alcance das condições materiais com as quais contava no momento. O avanço das investigações vai mostrar a inocência do coronel que há 30 anos presta serviços relevante à população do DF."

A PF informou que já foram cumpridos 17 mandados de prisão preventiva, três de prisão temporária e 37 de busca e apreensão desde o início da Lesa Pátria, que teve sua primeira fase em 20 de janeiro.

Os crimes investigados são:

  • abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado;
  • associação criminosa;
  • incitação ao crime;
  • destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

Relatório da intervenção federal

O texto lista todas as operações planejadas para a desmobilização do acampamento golpista até 9 de janeiro, dia seguinte à manifestação, e diz que os avanços foram interrompidos por "orientação do Exército Brasileiro".

O local seria uma espécie de incubadora para o ato do dia 8. Na medida em que o acampamento foi se estruturando, diz o texto, observou-se que algumas medidas de segurança foram adotadas, como o uso de rádios-comunicadores, e a atuação de alguns membros em ações características de serviço de segurança privada.

"Desde o fim de 2022, ocorreram ações planejadas com o intuito de desmobilização do acampamento, porém foram canceladas por fatores alheios às forças de segurança do Distrito Federal, sendo algumas operações interrompidas já em andamento e com tropas da segurança pública no terreno, por orientação do Exército Brasileiro", diz o relatório.