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Emas que morreram eram usadas para controlar pragas em palácio presidencial

Emas caminham pelo Palácio do Alvorada - Ichiro Guerra/Divulgação
Emas caminham pelo Palácio do Alvorada Imagem: Ichiro Guerra/Divulgação

Do UOL, em São Paulo*

09/02/2023 09h30Atualizada em 09/02/2023 15h38

Documentos da Casa Civil e relatório técnico, aos quais o UOL teve acesso com exclusividade, mostram que duas emas da Presidência da República morreram neste mês com quadro de excesso de gordura —elas foram alimentadas com restos de comida humana durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), estavam sem acompanhamento veterinário e, em sua maioria, em instalações inadequadas.

Os dois animais estavam na Granja do Torto, uma das residências oficiais da presidência, ocupada até o meio de dezembro pelo ex-ministro Paulo Guedes, onde estão atualmente 17 emas.

Outras 38 ocupam o jardim do Palácio do Alvorada, para onde se mudou recentemente o presidente Lula, desde os anos 1960.

Elas dão as boas-vindas e são uma atração do local por seu porte majestoso, podem ter 1,4 m. Mas não é só isso: estão ali para contribuir ecologicamente para a segurança das pessoas.

As emas comem e controlam animais peçonhentos —como cobras e escorpiões, por exemplo, que são encontradas às margens do Lago Paranoá, onde fica a casa presidencial.

As aves também foram pensadas para integrar o paisagismo do palácio, de Yoichi Aikawa, autor Palácio Imperial do Japão. Os jardins recebem pássaros nativos do cerrado em araucárias, paus-brasil, sibipirunas e muitas outras espécies da flora brasileira.

A Lagoa do Palácio funciona como um ecossistema perfeito, com peixes, aves e a vegetação coexistindo de maneira equilibrada.

No passado, as emas chegaram a ser retiradas dos palácios por problemas com os inquilinos. Há relatos de conflitos com bichos de estimação das famílias presidenciais. Quando morava no Alvorada, Jair Bolsonaro chegou a ser bicado —Guedes também foi atacado.

O que levou à morte das emas?

Os animais estavam sendo alimentados com restos de comida humana misturada a rações, como milho e arroz, segundo os técnicos que fizeram o acompanhamento em 6 janeiro a pedido da primeira-dama Janja da Silva.

Na autópsia preliminar, foi identificado excesso de gordura visceral, abdominal e no fígado dos animais.

De acordo com técnicos que acompanharam tanto o processo de avaliação quanto a autópsia dos animais, a morte súbita "fecha com o quadro" de doenças cardíacas e hepáticas, "desencadeadas provavelmente pelo mau manejo alimentar durante os últimos anos".

O laudo final sobre as mortes deve sair em duas ou três semanas, mas os técnicos comentaram nunca terem visto uma ave "com tanta gordura".

Em 2022, a gestão Bolsonaro destinou apenas 7.000 grãos à alimentação dos animais instalados nos palácios presidenciais —quase um terço dos 20 mil grãos previstos anualmente para alimentá-los adequadamente.

Nas últimas semanas, alguns animais foram encaminhados ao Zoológico de Brasília, sob acompanhamento do Ibama, para ficarem em ambientes adequados.

O UOL não conseguiu contato com Bolsonaro, que está na Flórida desde o ano passado. Assessores do ex-presidente também são procurados para comentar a denúncia. O espaço segue aberto em caso de posicionamento.

(Com reportagem de Lucas Teixeira e Gabriel Dias)