Estrela vermelha, anjo retirado: história do Alvorada é cheia de polêmicas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adiou sua mudança para o Palácio da Alvorada, em Brasília. O motivo: uma reforma completa do local que abrigava o ex-presidente Jair Bolsonaro. O Alvorada foi encontrado com danos em móveis e instalações, segundo a primeira-dama, Janja. Ontem, Lula voltou a reclamar das condições da residência.
A história do palácio, casa dos chefes da República inaugurada em 1958, é marcada por polêmicas e reformas, que refletiam as personalidades e posicionamentos de seus moradores.
De telas de náilon ao canteiro de sálvias
- A última reforma do Palácio da Alvorada foi realizada pelo ex-presidente Michel Temer. Foi iniciada em 2017 e finalizada em novembro de 2018.
- A restauração dos móveis custou cerca de R$ 3,8 milhões e aproximadamente 400 objetos foram recuperados na época, segundo dados da Folha de S. Paulo.
- Na gestão de Temer, as poltronas escuras e as cadeiras de jacarandá foram substituídas por móveis mais claros, além de terem sido instaladas telas de náilon nas sacadas, que, segundo ele, seriam para a segurança do filho, hoje com 13 anos.
- O primeiro projeto de reforma foi realizado no primeiro mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso, mas ele nunca saiu do papel.
- Naquela época, foram evitadas festas na residência: a biblioteca era o ambiente mais utilizado pela família e por parlamentares.
- Já no primeiro mandato de Lula, o jardim do Alvorada chamou a atenção: a então primeira-dama Marisa Letícia mandou fazer um canteiro de sálvias vermelhas em formato de estrela na área -- o projeto foi bastante criticado.
- Em 2004, Lula teve autorização do arquiteto Oscar Niemeyer para uma reforma no palácio. Lula pediu que empresários bancassem o projeto -- o que motivou críticas.
- Lula decidiu revitalizar a piscina da residência, em seu segundo mandato.
- No governo Dilma Rousseff, a capelinha de Nossa Senhora da Conceição teve outra serventia. O espaço foi utilizado como escritório para assessores políticos -- e havia muitos computadores no local.
- Na gestão de Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que é evangélica, pediu para que retirassem as obras sacras do espaço.
- Anjos e outras imagens santas foram transferidos para o Palácio do Jaburu, onde morava o vice Hamilton Mourão, que é católico e se mostrou satisfeito com as "doações".
Palácio teve bênção e batismo de JK
- O Alvorada foi inaugurado em 30 de junho de 1958, às margens do Lago Paranoá. O "pai" da obra era o arquiteto Oscar Niemeyer.
- A inauguração teve bênção de dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, que era o cardeal-arcebispo de São Paulo e foi seguida por uma missa celebrada por dom Fernando Gomes dos Santos, arcebispo de Goiânia.
- O nome de Alvorada foi dado pelo então presidente, Juscelino Kubitschek, que ao ser abordado sobre o termo escolhido, respondeu: "Que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?"
Infiltrações e obras danificadas: os problemas atuais
Em entrevista à GloboNews, Janja apontou os problemas encontrados na residência oficial do presidente da República.
- * parte da madeira de uma mesa da sala de estar lascada;
- * pés dos móveis, que são de latão, sem polimento;
- * infiltrações no teto;
- * piso de madeira de jacarandá com rachaduras;
- * assoalho da sala de estado com partes soltas;
- * vidros rachados;
- * cortinas sujas;
- * poltrona de couro rasgada;
- * tapete com buracos;
- * arte sacra do século 19 no chão;
- * obras de arte danificadas pelo sol e peças originais do local faltando;
- * ausência de móveis originais;
- * pé de mandacaru cortado.
Mandacaru retirado
- Um dos itens retirados que mais teria incomodado a atual gestão é o pé de mandacaru. Janja afirmou à GloboNews que a árvore havia sido plantada no primeiro mandato de Lula e que ele ficou "muito triste" quando notou a ausência.
- O mandacaru é uma planta adaptada ao semiárido, com grande resistência pela capacidade de retenção de água. É símbolo do Nordeste e está em uma das músicas mais populares do Brasil, o "Xote das Meninas", de Luiz Gonzaga.
A planta tem um caráter simbólico forte porque é uma tradução do que seria a resistência do povo nordestino que consegue enfrentar situações adversas
Carla Michele Quaresma, mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará
- Segundo a assessoria de Janja, está sendo feito no Palácio da Alvorada um inventário a fim de saber quais foram os danos causados na gestão anterior e os objetos que não se encontram mais no local.
- A Secretaria de Administração da Casa Civil afirma que alguns itens, como as obras de arte, têm "valor inestimável".
(Com informações da Agência Estado)
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