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Lula fala em herança maldita e pede paciência para jabuticabeira dar fruto

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

15/02/2023 13h33

O presidente Lula (PT) tem usado a viagem de inauguração de obras no Nordeste nesta semana para adotar o discurso de "herança maldita" deixada por Jair Bolsonaro (PL). Ao visitar um canteiro de duplicação da BR-101 em Maruim (SE), o petista criticou a gestão anterior e pediu "paciência para a jabuticabeira dar fruto".

Ontem, ele esteve na Bahia para a retomada do Minha Casa, Minha Vida e também alfinetou Bolsonaro. Um dos objetivos da turnê é exatamente este: marcar a entrega de obras habitacionais, sociais e de infraestrutura paradas enquanto já credita potenciais atrasos ao governo antecessor.

A ida de Lula ao Nordeste estava marcada inicialmente para o meio de janeiro, mas, devido a problemas logísticos e após o alvoroço dos atentados golpistas de 8 de janeiro, foi remarcada para este mês.

Estou anunciando que mais de 14 mil obras que ficaram paralisadas nesse país durante os últimos seis anos vão voltar a funcionar porque o Brasil precisa crescer, gerar emprego, renda, consumo, educação e melhoria para a vida das pessoas. [...] Vamos provar que em quatro anos, a gente vai fazer muito mais do que o coisa que saiu agora e não teve nem coragem de me colocar a faixa."
Lula, hoje, em Maruim

Desde a transição, o novo governo tem tentado explicitar o que considera um legado desastroso de Bolsonaro. Durante e após a aprovação da "PEC da Transição", que possibilitou investimentos fora do teto de gastos, o petista já havia repetido com frequência que esta deveria se chamar "PEC do Bolsonaro" e não "do Lula", por conta do que não havia sido feito no governo anterior.

A viagem ao Nordeste marca a propagação deste discurso pelo país. Em eventos que ainda lembram comícios, o presidente expõe o que seu governo tem feito, sempre contrapondo ao que Bolsonaro não fez, e lembra que a nova gestão "apenas começou".

Vocês sabem que um pé de jabuticaba, a gente planta ele e não começa a chupar jabuticaba no dia em que a gente plantou. É preciso ter sol, é preciso ter água, para que depois de um certo tempo a gente possa comer a jabuticaba antes dos marimbondos ou dos passarinhos. E eu quero dizer para vocês: o nosso pé de jabuticaba foi plantado e nós vamos começar a comer o resultado do nosso trabalho."
Lula, hoje, em Maruim

Começo de governo, os eventos ainda estão com o frescor da campanha petista, apoiadores "fazendo o L" e gritando "olê olê olá, Lula Lula". As pessoas também levaram diversos cartazes com pedidos e referências a movimentos sociais e setores trabalhistas, outro costume na campanha.

Hoje, Lula pediu que entregassem cartazes de quilombolas, de trabalhadores da Petrobras e de marisqueiras.

Como na campanha, também há momentos de constrangimento. No evento, o governador Fábio Mitidieri (PSD) foi vaiado pelos presentes. Ele venceu a disputa contra o senador Rogério Carvalho (PT-SE). Em seu discurso, deixou clara a administração próxima à de Lula.

Na cidade a 30 km de Aracaju, foi retomada a construção de um trecho da BR-101 que, segundo o governo, ficou parada durante os quatro anos de Bolsonaro.

De acordo com o ministro dos Transportes, Renan Filho, já foram retomadas cem obras de rodovias federais. Ao todo, o governo estima que haja pelo menos 450 trechos paralisados.

A área dos transportes é uma das utilizadas para martelar a diferença entre o discurso do que Bolsonaro disse ter feito, em especial no meio ferroviário, com o que a gestão petista disse de fato ter recebido. Renan também tem batido nesta tecla em todos os seus discursos.

O mesmo tom foi adotado ontem em Santo Amaro da Purificação (BA) para a retomada Minha Casa, Minha Vida, uma das principais marcas da antiga gestão petista.

"O nosso 'Bozo' foi se esconder nos Estados Unidos com medo de me passar a posse. Não teve coragem de me encarar de frente e passar a posse para um presidente, como uma pessoa normal faz", disse Lula.

A roda gigante desse país começa a girar a partir de hoje. Vim entregar a chave de uma casa para uma mulher que quase não consegue pegar a chave de tanta emoção porque a casa dela tava mobiliada. Vim aqui para começar a provar que é possível a gente construir outro país."
Lula, ontem, em Santo Amaro

Em cerimônias simultâneas realizadas em cinco municípios de três regiões, o governo entregou hoje 2.745 unidades habitacionais. A meta do governo é entregar pelo menos 2 milhões de novas moradias até 2026.

O governo informou que as moradias têm cerca de 90% da obra concluída, mas, por causa de detalhes, estavam paradas. Segundo o ministro da Casa Civil, Rui Costa, há ao menos 170 mil obras como estas, semiconcluídas.