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Lula vai ao Nordeste lançar obras atrasadas de Bolsonaro, mas de olho no BC

13.fev.2023 - Lula durante café da manhã de trabalho com o Conselho Político da Coalizão - Ricardo Stuckert
13.fev.2023 - Lula durante café da manhã de trabalho com o Conselho Político da Coalizão Imagem: Ricardo Stuckert

Do UOL, em Brasília

14/02/2023 04h00

O presidente Lula (PT) vai hoje para o Nordeste estrear as inaugurações de obras atrasadas do governo Jair Bolsonaro, com obras na Bahia e em Sergipe. Mas, enquanto sublinha mais um desgaste do antecessor, Lula continuará com as atenções voltadas a Brasília, mais precisamente à sede do Banco Central, no Setor Bancário Sul.

Na próxima quinta-feira (16), o BC realiza a primeira reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) na gestão de Lula, sob grande expectativa em relação a uma possível diminuição da taxa básica de juros do país, a Selic. Atualmente, o índice é de 13,75% ao ano.

Lula não tem escondido seu descontentamento com a postura do BC. Ele vem pressionando publicamente o presidente Roberto Campos Neto para que os juros baixem, estratégia que gera discordância dentro do governo e do PT.

Mesmo negando que vá interferir no BC —que desde 2021 tem independência para tomar decisões sem passar pelo governo—, Lula já disse que essa autonomia seria uma "bobagem" e que a atual taxa em em 13,75% é uma "vergonha", pois "atrapalha o povo brasileiro".

Neste quadro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem buscado ser uma voz de interlocução, evitando polêmicas públicas e trabalhando mais discretamente na tentativa de que a expectativa do presidente seja seguida.

Outro que tem trabalhado para que o clima fique mais ameno —desde que os juros caiam— é o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Com o presidente nos EUA nos últimos dias, Alckmin conversou com empresários e membros no mercado financeiro para tentar explicar a importância da medida e, consequentemente, angariar apoio informal para os apelos de Lula.

Do outro lado, apoiadores, deputados da bancada petista e pessoas próximas de Lula têm aderido à estratégia ainda mais radical, de reclamação pública e constante sobre as estratégias do BC. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, conselheira direta de Lula, chegou a dizer que a atual taxa é "um crime contra o país".

Na tarde de hoje, a bancada governista, liderada por Gleisi e pelos deputados Lindbergh Farias (PT-RJ) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), lança a campanha #JurosBaixosJá, na Câmara dos Deputados, com objetivo de pressionar Campos Neto.

O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR), e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso, também participarão.

Por ora, a estratégia da turma do "deixa disso" parece ter funcionado. Desde que foi para os Estados Unidos, na última quinta (9), as críticas à taxa de juros se espaçaram, em meio à ansiedade frente à reunião do CMN, e o assunto foi deixado para os parlamentares.

Na manhã de hoje, Lula vai a Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, para entregar obras do Minha Casa, Minha Vida, segundo o governo paralisadas durante as gestões de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

No evento, Lula deverá anunciar ainda assinar a retomada do projeto habitacional, uma marca dos governos petistas. Serão prometidas 2 milhões de novas moradias até 2026.

De acordo com a Casa Civil, ao todo serão entregues amanhã 2.745 unidades habitacionais — 684 só na cidade. A gestão diz ter recebido as moradias com cerca de 90% da obra concluída.

Segundo o ministro Rui Costa, ex-governador baiano, como estas há ao menos 170 mil obras do Minha Casa, Minha Vida semiconcluídas pelo país.

O presidente dorme em Salvador e, amanhã (15), vai subir para Aracaju (SE), onde entrega um trecho da rodovia BR-101, não concluída por Bolsonaro, e volta para Brasília à noite.

Ele não irá ao jantar de aniversário do partido, na Asa Sul de Brasília na noite de hoje, que promoverá arrecadação de fundos, com doações de até R$ 20 mil.