Ibama acha ave em extinção na casa de Torres e apura comércio de pássaros
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres é alvo de investigação do Ibama por suspeita de comércio ilegal de aves silvestres. Ao UOL, o presidente do instituto, Rodrigo Agostinho, afirmou que as inconsistências encontradas no sistema sobre Torres podem indicar a negociação dos pássaros.
Na operação realizada ontem (24) na residência do ex-ministro, técnicos do Ibama e do Ibram encontraram 60 aves, entre elas, das espécies Curió, Azulão e Bicudo. De acordo com Agostinho, a Bicudo está em extinção, apesar de ser possível criá-la legalmente. Havia ainda um casal de Tiê-sangue, que tem cor vermelha.
Uma das coisas que chamou a atenção dos técnicos é que existe um limite de troca de criadouro de animais. Isso indica que ele pode estar comercializando essas aves. Tem um limite de aves que podem ser transacionadas e houve uma movimentação muito maior."
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama
Um pássaro encontrado na casa de Torres estava com uma cicatriz na pata. Segundo o presidente do Ibama, é um indício de mutilação em aves que tiveram sua pata quebrada para colocar a anilha de identificação. Em um processo legal, esse procedimento é feito em aves ainda filhotes, quando os ossos ainda não foram totalmente calcificados.
A base de dados sobre o cadastro dos pássaros não batia com o que foi encontrado na casa de Torres. Algumas aves que estão cadastradas no nome dele não estavam no local.
Torres terá que apresentá-las ao Ibama —ainda não há informações sobre o prazo. Agostinho afirmou que, se alguma delas morreu, ele terá que entregar a anilha ao órgão. O presidente do Ibama não descarta ainda a apreensão das aves, se for comprovada ilegalidade.
Segundo a investigação, Torres mantinha uma funcionária para cuidar exclusivamente das gaiolas. "As investigações não eram focadas nele. Estamos visitando vários criadores cadastrados e que apareceram em uma ação de inteligência. E o nome dele surgiu", afirmou Agostinho.
A multa para o ex-ministro é de R$ 54 mil, segundo o Ibram (Instituto Brasília Ambiental), que também participou da ação. A defesa vai recorrer.
Anderson Torres foi autuado por irregularidades como utilizar animais em desacordo com a autorização existente, por inserir dados falsos no sistema e por mutilação.
Como foi a operação
De acordo com o Ibama, a ação foi um desdobramento de investigação iniciada no ano passado a partir da identificação de informações inconsistentes no Sispass (Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros) — como o registro de ave sob responsabilidade de Torres em nome de outra pessoa.
O ex-ministro está preso desde 14 de janeiro, em Brasília, por suspeita de omissão e conivência com os atos golpistas de 8 de janeiro. Na ocasião, ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Durante buscas na casa de Torres, no mês passado, a PF encontrou uma minuta de um decreto para impedir a posse de Lula.
O ex-ministro nega as acusações, diz que adotou medidas para prevenir as invasões ocorridas no ato golpista de 8 de janeiro e que há "total ausência" de evidências para associá-lo aos ataques.
Sobre a minuta, ele afirmou em depoimento que ela não tem "viabilidade jurídica" e que não sabe quem foi o autor do texto.
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