Vistas como 'irrelevantes', agendas de Bolsonaro nos EUA irritam aliados
As agendas públicas que Jair Bolsonaro (PL) está fazendo nos EUA têm irritado um grupo de aliados, que avaliam que o ex-presidente descumpriu o que havia acertado sobre se preparar para seu retorno ao Brasil. A expectativa era que o ex-chefe do Executivo reforçasse uma "imagem de estadista" para iniciar um processo de "liderar a oposição".
Interlocutores do ex-presidente no Brasil ficaram frustrados ao ver que ele continua a fazer visitas consideradas "irrelevantes" e "menores". A avaliação é que Bolsonaro se deixa influenciar pelo grupo que o cerca nos EUA, formado por assessores de formação militar e com pouca bagagem política. Na opinião de aliados ouvidos pelo UOL, o ex-presidente está pouco a pouco retomando a sua antiga rotina de deputado federal.
Entre os episódios que causaram incômodo, está a visita de Bolsonaro ao departamento de polícia da cidade de Broken Arow, em Oklahoma, nos EUA, na quarta-feira (23). "Não tem como dar certo", disse ao UOL um aliado do ex-presidente.
Na sexta-feira (24), Bolsonaro apareceu em imagens junto com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado e Tércio Arnaud Thomaz, assessor especial de Bolsonaro e um dos integrantes do chamado "gabinete do ódio". Machado chegou a postar a imagem dizendo que o grupo ia para uma "missão" em Nashville, no Tennessee.
Ao UOL o ex-ministro afirmou que eles estavam indo para o Safari Club, encontro que reúne operadores de caça e pesca, e que a intenção seria "falar bem do Brasil".
"Vamos divulgar o nosso país, como a gente sempre fez. Diferente do que estão fazendo aí dizendo que no Brasil tem 120 milhões de pessoas com fome", disse. Segundo o ex-ministro, ele não conversou com Bolsonaro sobre o retorno do ex-presidente ao Brasil.
Data de volta ao Brasil é incerta. Bolsonaro disse duas vezes em meados de fevereiro que pretendia voltar ao Brasil nas próximas semanas. Ao jornal americano The Wall Street Journal ele afirmou que deve retornar em março.
Entre aliados, existe expectativa de que ele aguarde a emissão do visto nos EUA para então definir quando deixar o país.
Apesar de ter o visto diplomático expirado, o advogado que fez o pedido para que Bolsonaro obtenha o visto de turista disse que não há nenhum problema para que ele faça viagens internamente, mas, caso ele volte para o Brasil antes da conclusão do novo visto, não poderá retornar aos EUA.
Um grupo, em especial políticos do PL, atua fortemente para que o ex-presidente volte ao Brasil. Na avaliação deles, Bolsonaro reforça, ao permanecer nos EUA, a imagem de alguém que está fugindo dos processos no Judiciário, além de deixar a oposição sem uma liderança.
Outros aliados, porém, assim que souberam da expectativa de retorno do ex-presidente ao país, passaram a aconselhar a permanência dele no exterior. Alguns afirmam inclusive que Bolsonaro já teria "perdido o timing" para voltar.
Até a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que voltou de Orlando em 27 de janeiro, chegou a dizer que deveria permanecer nos EUA para descansar.
Na visão dos interlocutores do ex-presidente ouvidos pela reportagem, a volta de Bolsonaro só iria atrair para ele uma visão negativa em meio a um momento em que o novo governo ainda enfrenta dificuldades. Eles defendem que o retorno ao país só ocorra em maio ou junho —mas afirmam acreditar que ele deve embarcar para o Brasil até o fim de março.
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