Para evitar 'efeito Moro', Planalto ignora Bolsonaro e quer esperar por PF
O presidente Lula (PT) vai ignorar a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil. A expectativa no Planalto é que seu nome seja citado pela Polícia Federal.
O que pensa o Planalto?
- Lula foi aconselhado a não ficar lembrando o ex-presidente em suas falas. Para apoiadores, citá-lo, mesmo que com críticas, é reforçar a imagem --para eles falsa-- de que o petista esteja preocupado com o retorno de Bolsonaro.
- Institucionalmente, também não há por que o presidente se lembrar "de um candidato derrotado", provocam apoiadores.
- Para o PT, a recepção de Bolsonaro nesta manhã foi morna, aquém do esperado, e não deve ser Lula ou o partido a suscitá-la. O ex-presidente estava havia 90 dias fora, desde que viajou aos EUA para não passar a faixa presidencial.
- É o que aliados chamam de "efeito Moro", quando o presidente deu declarações polêmicas sobre o ex-juiz da Java Jato. O senador, que estava apagado, acabou alçado de volta ao noticiário.
Poucas horas depois que Bolsonaro pousou em Brasília, Lula fez um evento no Palácio do Alvorada. Ele recebeu a taça da Copa do Mundo de Futebol Feminino junto à ministra do Esporte, Ana Moser.
Um evento tímido, avalia o Planalto, para mostrar que o presidente se recupera bem da pneumonia diagnosticada na semana passada. O objetivo era que as atenções ficassem voltadas ao Ministério da Fazenda, onde o ministro Fernando Haddad anunciou o novo arcabouço fiscal.
Ele fez um discurso breve, bem-humorado e voltado ao futebol, e não chegou perto de citar Bolsonaro. Assim deve continuar.
A interlocutores, Lula minimizou o retorno do adversário sob o argumento de que o governo tem, hoje, a faca e o queijo na mão, por isso cabia aos ministros "mostrar para que foram eleitos".
Da mesma forma, foi aconselhado a não ficar ironizando o ex-presidente em discursos ou entrevistas, pois isso só lhe daria holofotes e poderia indicar um temor que ele diz não ter. Estratégia semelhante foi adotada no início da campanha em 2022, mas depois abandonada.
Deixa com a PF
A expectativa do Planalto é que, neste primeiro momento, o nome de Bolsonaro apareça menos como líder da oposição e mais ligado a escândalos.
- O ex-presidente já foi convocado a prestar esclarecimento no caso das joias, na próxima quarta (5). O PT espera que, quanto mais a história avance, mais sua imagem fique relacionada a aproveitamento de privilégios e descolada do homem simples que o ex-presidente busca mostrar.
- Também há uma expectativa por parte da situação (antiga oposição) de que Bolsonaro ainda seja diretamente ligado aos atentados de 8 de janeiro. Já nos Estados Unidos na época da invasão, as investigações têm encontrado cada vez mais ligações entre os golpistas e sua administração. Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal e seu ex-ministro, está preso.
Este é o principal ponto, argumentam pessoas próximas ao Planalto, para seu nome ser por ora abandonado. A estratégida deverá seguir com as críticas e com as comparações entre as gestões.
Efeito Moro
O que aliados dizem temer é exatamente a repercussão das falas de Lula em relação a Sergio Moro. Eles dizem que o senador estava "apagado" no Congresso e ganhou espaço na mídia por uma semana só porque Lula questionou a operação.
Quero ser cauteloso, é visível que [a operação que apura plano para matar o senador] é uma armação do Moro. Vou pesquisar, vou saber. Fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele. Eu vou pesquisar e saber o porquê da sentença. Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo."
Lula, um dia após a deflagração da operação
Pessoas próximas, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que foi a plenário fazer um mea-culpa em nome do governo, defendem que o presidente evite cometer o mesmo erro e não entre em batalhas que tem ganhado.
Essas são as sugestões. Como muitos repetem em seu governo, Lula costuma ouvir aliados, mas, muitas vezes, acaba "fazendo o que acha melhor".
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