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Para evitar 'efeito Moro', Planalto ignora Bolsonaro e quer esperar por PF

O presidente Lula durante cerimônia de posse de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES, no Rio - Eduardo Anizelli/Folhapress
O presidente Lula durante cerimônia de posse de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES, no Rio Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Do UOL, em Brasília

30/03/2023 17h53Atualizada em 30/03/2023 18h57

O presidente Lula (PT) vai ignorar a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Brasil. A expectativa no Planalto é que seu nome seja citado pela Polícia Federal.

O que pensa o Planalto?

  • Lula foi aconselhado a não ficar lembrando o ex-presidente em suas falas. Para apoiadores, citá-lo, mesmo que com críticas, é reforçar a imagem --para eles falsa-- de que o petista esteja preocupado com o retorno de Bolsonaro.
  • Institucionalmente, também não há por que o presidente se lembrar "de um candidato derrotado", provocam apoiadores.
  • Para o PT, a recepção de Bolsonaro nesta manhã foi morna, aquém do esperado, e não deve ser Lula ou o partido a suscitá-la. O ex-presidente estava havia 90 dias fora, desde que viajou aos EUA para não passar a faixa presidencial.
  • É o que aliados chamam de "efeito Moro", quando o presidente deu declarações polêmicas sobre o ex-juiz da Java Jato. O senador, que estava apagado, acabou alçado de volta ao noticiário.

Poucas horas depois que Bolsonaro pousou em Brasília, Lula fez um evento no Palácio do Alvorada. Ele recebeu a taça da Copa do Mundo de Futebol Feminino junto à ministra do Esporte, Ana Moser.

Um evento tímido, avalia o Planalto, para mostrar que o presidente se recupera bem da pneumonia diagnosticada na semana passada. O objetivo era que as atenções ficassem voltadas ao Ministério da Fazenda, onde o ministro Fernando Haddad anunciou o novo arcabouço fiscal.

Ele fez um discurso breve, bem-humorado e voltado ao futebol, e não chegou perto de citar Bolsonaro. Assim deve continuar.

A interlocutores, Lula minimizou o retorno do adversário sob o argumento de que o governo tem, hoje, a faca e o queijo na mão, por isso cabia aos ministros "mostrar para que foram eleitos".

Da mesma forma, foi aconselhado a não ficar ironizando o ex-presidente em discursos ou entrevistas, pois isso só lhe daria holofotes e poderia indicar um temor que ele diz não ter. Estratégia semelhante foi adotada no início da campanha em 2022, mas depois abandonada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro acena de uma janela na sede do PL, no Brasil 21 - FREDERICO BRASIL/ESTADÃO CONTEÚDO - FREDERICO BRASIL/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-presidente Jair Bolsonaro acena de uma janela na sede do PL, no Brasil 21
Imagem: FREDERICO BRASIL/ESTADÃO CONTEÚDO

Deixa com a PF

A expectativa do Planalto é que, neste primeiro momento, o nome de Bolsonaro apareça menos como líder da oposição e mais ligado a escândalos.

Este é o principal ponto, argumentam pessoas próximas ao Planalto, para seu nome ser por ora abandonado. A estratégida deverá seguir com as críticas e com as comparações entre as gestões.

Defesa de Bolsonaro devolve joias sauditas - Divulgação - Divulgação
Defesa de Bolsonaro devolve joias sauditas
Imagem: Divulgação

Efeito Moro

O que aliados dizem temer é exatamente a repercussão das falas de Lula em relação a Sergio Moro. Eles dizem que o senador estava "apagado" no Congresso e ganhou espaço na mídia por uma semana só porque Lula questionou a operação.

Quero ser cauteloso, é visível que [a operação que apura plano para matar o senador] é uma armação do Moro. Vou pesquisar, vou saber. Fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele. Eu vou pesquisar e saber o porquê da sentença. Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas e, se for mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que vai fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo."
Lula, um dia após a deflagração da operação

Pessoas próximas, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que foi a plenário fazer um mea-culpa em nome do governo, defendem que o presidente evite cometer o mesmo erro e não entre em batalhas que tem ganhado.

Essas são as sugestões. Como muitos repetem em seu governo, Lula costuma ouvir aliados, mas, muitas vezes, acaba "fazendo o que acha melhor".