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Além do pau de arara: Ivan Valente relata métodos de tortura na ditadura

Colaboração para o UOL, em São Paulo

31/03/2023 18h56

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) relatou durante participação no UOL News desta sexta-feira algumas das formas de tortura sofridas por ele e outros presos enquanto esteve preso durante a ditadura militar. Na manhã de hoje, militares de bengala e pessoas vestindo a camisa da Seleção Brasileira comemoraram os 59 anos do golpe militar de 1964.

Questionado pelo colunista do UOL Leonardo Sakamoto sobre os métodos utilizados pelos militares na época, o deputado federal relembrou alguns dos equipamentos utilizados contra os presos políticos na época.

Todo preso político era torturado no nosso país para arrancar informações rapidamente. Nós passamos por várias torturas. Na prisão, a tortura física que sofremos foi a cadeira do dragão, uma espécie de cadeira de barbeiro a qual eles amarravam os presos e colocavam encapuzados e nus, com fios elétricos com uma maquininha de girar chamada Maricota. Davam choques elétricos em todos os órgãos sensíveis do corpo humano: ouvido, dente, órgãos genitais, nos dedos, nas pernas, nos pés, etc. Isso tudo encapuzado. Quando não era acompanhado de pontapés no peito. Eu mesmo sai do DOI-Codi com problemas gravíssimos no joelho, meu joelho até hoje não funciona, e sai precisando de um pneumologista urgente".

O deputado federal também citou uma máquina de tortura chamada de "geladeira".

Era um cubo de 1,5 metro x 1,5 metro dentro de um cubo de 2 m x 2 m. E era porta de geladeira, frigoríficas. Eram monitoradas por câmeras, uma luz que ficava o dia todo, acusticamente isolada, então você não ouvia os gritos de tortura lá dentro".

Ivan ainda falou sobre a cruz, tortura na qual os presos "abriam as mãos para receber muitas pancadas" e também o pau de arara, no qual os prisioneiros ficavam pendurados.

Isso durou dez dias ininterruptamente. Cinco dias depois eu estava na antessala da geladeira, sendo torturado o tempo todo, eu desmaiei. Quando fui acordar, eu estava numa cela bem forte de aço. O que me recordo até hoje. Estava passando um jogo de futebol de domingo, eu fui preso numa terça-feira no final da tarde. Eu fiquei cinco dias sem dormir, sem comer, sem nada".

Ivan Valente: 31 de março não é para ser comemorado, e sim lembrado como golpe sangrento

O deputado federal também comentou a respeito das comemorações realizadas em um clube Militar no Rio de Janeiro. Segundo Ivan Valente, a data não deve ser esquecida para que ações como essa não se repita.

Tem que lembrar essa data para a gente nunca mais esquecer que teve um golpe sangrento em 1964 que matou, torturou, desapareceu, censurou, fechou Congresso, fechou o STF, sindicatos, perseguiu movimentos sociais e foram 21 anos de ditadura, anos de chumbo que nós julgávamos ter superado há muito tempo".

O deputado do PSOL ainda citou o governo Jair Bolsonaro para falar sobre o aumento nas manifestações pró-ditadura.

Em um retrocesso civilizatório há 4 anos, nós vivemos o pesadelo do bolsonarismo e do Bolsonaro, que é idolatrar tortura, comemorar o golpe e reviver a necessidade do AI-5".

Militares devem autocrítica à população brasileira, diz Sakamoto

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto afirmou em sua participação no UOL News que os militares devem uma autocrítica à população brasileira.

Se 5% de toda a energia que foi gasta nos últimos anos exigindo que o PT fizesse uma autocrítica justa, sobre os escândalos de corrupção que aconteceram nas suas gestões, tivessem sido empregados em exigir que os militares fizessem uma autocrítica ao golpe de 64, a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 não teria acontecido".

Sakamoto ainda criticou o envolvimento de muitos militares no governo de Jair Bolsonaro.

Eles não teriam de forma promíscua se relacionado com o governo Jair Bolsonaro em troca de coisas como aumento de salário, facilidades na reforma da Previdência, carguinhos na Esplanada, proximidade do poder. Eles teriam repensado e lembrado da importância das forças armadas permanecerem independentes em um governo".

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