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Base do SUS mostra minuto a minuto de registro de vacinas de Bolsonaro

Registros de vacina de Jair Bolsonaro em banco de dados do SUS  - Reprodução
Registros de vacina de Jair Bolsonaro em banco de dados do SUS Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

03/05/2023 15h50

Era tarde da noite de quarta-feira, 21 de dezembro de 2022, quando a base de dados de vacinação do Ministério da Saúde começou a ser atualizada em Duque de Caxias (RJ). Em alguns minutos, entraram três novos registros no sistema: supostamente a primeira e a segunda dose de Jair Bolsonaro (PL), então presidente, e a primeira dose de sua filha Laura. Na madrugada, entrou o registro de uma suposta segunda dose em Laura. Uma semana depois, às 9h17 de 28 de dezembro, os dados foram apagados.

No mesmo dia 28 de dezembro, Bolsonaro convocava apoiadores próximos para encontrá-lo em sua residência em Brasília, em uma espécie de despedida. Uma comitiva presidencial já havia partido naquela madrugada rumo aos Estados Unidos. Em 30 de dezembro, Bolsonaro e Laura, acompanhados de Michelle Bolsonaro, também partiriam para os EUA. Hoje, a Polícia Federal deflagrou operação para apurar a fraude nos registros.

Dados acessados pelo UOL mostram os detalhes dos registros de vacinação em Bolsonaro e Laura.

O registro das vacinas em 21 de dezembro

22h07 de 21/12/2022: Os dados começam a ser incluídos no sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde. Primeiro, uma suposta primeira dose em Bolsonaro, da Pfizer, aplicada em Duque de Caxias, em 13/08/2022. Chama a atenção que a vacina tenha sido aplicada quatro meses antes do envio dos dados ao Ministério da Saúde — o padrão é que os dados sejam informados nos dias seguintes.

22h09 de 21/12/2022: Dois minutos depois, são incluídos os dados da suposta segunda dose em Bolsonaro, da Pfizer, aplicada em Duque de Caxias, em 14/10/2022

22h16 de 21/12/2022: O terceiro registro incluído foi o de uma suposta primeira dose em Laura Bolsonaro, da Pfizer, aplicada em Duque de Caxias, em 24/07/2022

2h21 de 22/12/2022: Na madrugada, foi a vez de um suposto registro de segunda dose em Laura Bolsonaro, mais uma vez da Pfizer aplicada em Duque de Caxias, em 13/08/2022

Informação vai para o ConectSUS em 28 de dezembro

6h43 de 28/12/2022: Depois de inseridos no sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde, os dados levam alguns dias para serem compartilhados com o DataLake do Ministério da Saúde, que reúne diversos sistemas da pasta.

Só quando isso ocorre é que é possível visualizar as vacinas no ConectSUS e gerar o comprovante de vacinação. No caso das quatro vacinas de Bolsonaro e Laura, isso ocorreu no início do dia 28 de dezembro.

A tentativa de apagar as informações em 28 de dezembro

9h17 de 28/12/2022: Logo em seguida, os registros das vacinas em Bolsonaro e em Laura são deletados do sistema do Ministério da Saúde.

No entanto, esse modelo de banco de dados não apaga os registros, só insere uma marcação para sinalizar que aquele registro deve ser ignorado. Assim, os dados passaram a incluir a marcação "entered-in-error", ou seja, dados incluídos por erro.

No mesmo horário, também foi deletada do sistema a terceira dose da vacina de João Brecha, Secretário Municipal de Duque de Caxias, acusado pela PF de participar da fraude no registro das vacinas. A diferença é que, nesse caso, há indícios de que a vacina seja verdadeira — foi processada no sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde em 14/11/2022, mesmo dia da aplicação.

Como o UOL obteve as informações

Os dados de vacinação são sigilosos. A carteira de vacinação de Bolsonaro, solicitada por diversas pessoas pela Lei de Acesso à Informação, por exemplo, nunca foi disponibilizada.

No entanto, alguns campos do registro de vacinação são disponibilizados pelo Ministério da Saúde, sem nome e CPF dos pacientes, mas contendo data de nascimento e sexo, local e data da vacinação, tipo e lote da vacina, dados de inclusão das informações no sistema.

O UOL cruzou dados disponíveis nessa base de dados com as informações da operação da PF deflagrada hoje. A apuração usou o número de paciente de Bolsonaro localizado pelo cientista de dados Marcelo Oliveira, que integra o Infovid, grupo de pesquisadores que trabalhou com dados da covid-19 durante a pandemia. Oliveira foi o primeiro a encontrar as informações, ainda em janeiro de 2023, quando houve vazamento de uma suposta carteira de vacinação de Bolsonaro.

A reportagem confirmou as informações e identificou ainda os registros com as datas de nascimento de Laura e de João Brecha.

O que diz o Ministério da Saúde

Todas as informações inseridas no sistema de registro de imunizações do SUS são rastreáveis e feitas mediante cadastro. Não há relato de invasão externa (sem cadastro) ao sistema do Ministério da Saúde que mantém rotina para a sua segurança e regularmente passa por auditoria"
Ministério da Saúde, em nota enviada ao UOL