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Celular de Cid, faz-tudo de Bolsonaro, tem rastro de fraude na vacina
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A Polícia Federal colheu provas do esquema de fraudes em registros de vacinas por meio da quebra de sigilo das comunicações do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). O celular do militar, uma espécie de faz-tudo do ex-presidente, foi apreendido nesta quarta (3), mas os indícios da fraude foram capturados nas nuvens de arquivos da Apple e do Google, vinculadas ao aparelho.
A PF encontrou diálogos do tenente-coronel nos quais ele solicitava ajuda para obter certificados falsos de vacinação. A partir desses elementos, os investigadores verificaram os sistemas do Ministério da Saúde e confirmaram que houve adulteração dos dados.
A quebra de sigilo havia sido autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes no ano passado para aprofundar investigações envolvendo o ajudante de ordens.
- As informações fazem parte da investigação da Polícia Federal deflagrada nesta quarta-feira que resultou na prisão de Cid e outros alvos, além da busca e apreensão na residência de Bolsonaro.
- Para executar as fraudes, Mauro Cid contou com a ajuda de militares e funcionários públicos, de acordo com os indícios colhidos pela PF, com o objetivo de burlar a exigência do imunizante da covid-19 por autoridades do Brasil e dos Estados Unidos.
O que a PF já sabe:
- A investigação detectou que, no final do ano de 2021, Mauro Cid acionou um integrante da sua equipe, o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis para obter um cartão de vacina falso para sua mulher, Gabriela Santiago Ribeiro Cid.
- Segundo as conversas obtidas em seu celular, Mauro Cid pediu que fosse confeccionado um cartão com doses de vacina contra a covid em nome da mulher, Gabriela, ao então integrante da Ajudância de Ordens do Presidente da República, o sargento Luís Marcos dos Reis.
- Esse sargento, então, acionou um sobrinho, Farley Vinícius Alcântara, que era médico no município goiano de Cabeceiras. De acordo com as investigações, Farley providenciou um cartão de vacina carimbado e assinado por ele mesmo em nome de Gabriela Cid, no qual constava falsamente que ela havia tomado duas doses de vacina contra a Covid-19 no município de Cabeceiras. Esse sobrinho copiou os lotes de uma vacina aplicada em uma enfermeira em Cabeceiras.
- O sargento enviou um arquivo em PDF para Mauro Cid com o certificado de vacina falso da sua esposa, no dia 22 de novembro de 2021, concluindo a fraude, de acordo com a PF.
O esquema teve continuidade com outras fraudes em certificados de vacinação. A Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação no início do ano sobre as suspeitas de adulteração nos dados de vacinação de Bolsonaro. O ministro Vinícius Carvalho, da CGU, chegou a dizer publicamente que havia um registro de aplicação de vacina no cadastro de Bolsonaro, mas que a apuração buscava identificar se os dados foram inseridos de forma fraudulenta.
Com o avanço da apuração, a PF identificou indícios de que houve fraude no cartão de Bolsonaro e de sua filha mais nova com o objetivo de burlar as exigências das autoridades dos Estados Unidos para que eles entrassem no país no fim do ano passado. Um secretário municipal de Duque de Caxias foi identificado como suspeito de ter inserido os dados falsos do cartão de vacina de Bolsonaro no sistema do Ministério da Saúde para auxiliar na produção do certificado falso.
Coronel na mira:
- A quebra de sigilo de Mauro Cid já havia apontado à PF indícios de outros crimes envolvendo o auxiliar do ex-presidente. Em uma investigação sobre a divulgação de informações falsas da vacina da Covid-19 por parte de Bolsonaro, a PF detectou que essas informações foram repassadas por Mauro Cid, após ter acesso aos dados de suas comunicações.
- Por causa disso, a PF indiciou Mauro Cid pelo delito de incitação ao crime, sob acusação de que ele foi o mentor intelectual de informações destinadas a desestimular o uso das vacinas.
- A operação desta quarta-feira, inclusive, foi determinada dentro da mesma investigação que apura se Mauro Cid usou cartões corporativos do Palácio do Planalto para pagar despesas pessoais de Bolsonaro e pessoas próximas. Isso porque essas provas surgiram ao longo dessa apuração, que continua em andamento.
- O tenente-coronel também virou personagem central no caso das joias, já que foi responsável por duas tentativas no fim do ano passado de retirar o estojo de bens de R$ 16,5 milhões doado pelo governo da Arábia Saudita ao ex-presidente. A Receita Federal, entretanto, não permitiu a retirada dos bens.
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