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Bolsonaro diz à PF que se Cid fraudou dados de vacinação foi à sua revelia

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depôs nesta terça na PF em Brasília - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depôs nesta terça na PF em Brasília Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
Paulo Roberto Netto e Pedro Canário

Do UOL, em São Paulo

16/05/2023 19h11Atualizada em 16/05/2023 20h58

Em depoimento à PF (Polícia Federal) nesta terça-feira (16), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que não sabia do esquema para falsificar seu certificado de vacinação e que, se o tenente-coronel Mauro Cid arquitetou tudo, foi "à revelia e sem o seu conhecimento". Cid era o seu ex-ajudante de ordens e está preso desde o dia 3 de maio.

O que Bolsonaro disse sobre a vacina

Bolsonaro frisou que não acredita que o militar tenha participado da inclusão de dados falsos em seu nome e em nome de sua filha mais nova, Laura.

Se aconteceu, foi sem o seu consentimento. Ao ser questionado se Mauro Cid agiu sem seu conhecimento, Bolsonaro disse não acreditar que ele tenha arquitetado o esquema. Mas, se o tiver feito, foi à sua revelia.

O depoimento durou cerca de três horas. O UOL teve acesso ao depoimento. Bolsonaro disse ter tomado conhecimento do cartão falso no dia da deflagração da Operação Venire pela PF.

Respondeu que se Mauro Cid arquitetou foi à revelia, sem qualquer conhecimento ou orientação do declarante; que não determinou a inserção de dados fraudulentos nos sistemas. Que acredita que Mauro Cid não tenha arquitetado a inserção de dados falsos em seu nome em nome de sua filha no sistema do SI-PNI do Ministério da Saúde."
Trecho do depoimento de Bolsonaro à PF

Bolsonaro disse ainda não ter conhecimento da inserção de dados falsos de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e da esposa, Gabriela, no sistema do SUS.

O ex-presidente também negou ter conhecimento de um esquema para conseguir um comprovante falso de vacinação porque havia a suspeita de que seu passaporte diplomático seria cassado. Ele viajou aos Estados Unidos dias após a suposta fraude atribuída pela PF a Mauro Cid.

O que Bolsonaro disse sobre sua conta no ConecteSUS

Bolsonaro foi confrontado pelos agentes com os acessos feitos à sua conta no aplicativo ConecteSUS, usado para emitir um comprovante de vacina, a partir da rede do Planalto. Em resposta, o ex-presidente disse que "sequer comentou sobre certificado de vacinas" com Mauro Cid.

Ajudante de ordens administrava a conta pessoal do ex-presidente no aplicativo ConecteSUS. O próprio Bolsonaro confirmou à PF essa e informação. Por esse motivo, o e-mail de acesso ao perfil era de Mauro Cid.

Bolsonaro disse não ter conhecimento de quem poderia ter usado o seu aplicativo a partir do Planalto, e tampouco quem emitiu um certificado em inglês em nome de sua filha, Laura, às vésperas de uma viagem da adolescente aos EUA.

Não tem conhecimento sobre quem teria acessado e emitido o referido certificado; QUE sequer sabe acessar o aplicativo ConecteSUS; QUE o declarante e sua esposa não realizaram o cadastro no sistema GOV.BR e ConecteSUS em nome de L.F.B; QUE pelo fato de L.F.B não ter sido vacinada, não tinham motivo para acessar e emitir certificado de vacinação em nome de sua filha"
Trecho do depoimento de Bolsonaro à PF

Ex-presidente foi confrontado com mensagens de teor golpista

A PF confrontou o presidente com mensagens trocadas entre Mauro Cid e o ex-major Ailton Barros. Bolsonaro negou envolvimento com as conversas sobre as manifestações antidemocráticas.

Não chegou ao conhecimento do declarante as referidas pautas; Que esclarece que nunca repassou qualquer orientação sobre as referidas pautas a Ailton e/ou a qualquer grupo."
Trecho do depoimento de Bolsonaro à PF

Em uma das mensagens, Ailton diz que pegou as orientações com "Cidinho", referência a Cid. Em outras, o ex-militar defende o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. "Pau no corno do Xandão sempre."

Indagado sobre quais seriam as 'orientações' que Mauro Cesar Cid repassou a Ailton Barros, respondeu que não tem conhecimento, mas duvida que Mauro Cid teria dado reforço para as referidas pautas."
Trecho do depoimento de Bolsonaro à PF

Ailton não teria "liderança para arregimentar pessoas para qualquer ato", disse Bolsonaro. O ex-presidente negou ter tido conhecimento de tratativas de Ailton para um possível golpe de Estado após as eleições de 2022.

Em sua fala, o presidente ainda elogiou Mauro Cid, afirmando que ele é um "militar altamente qualificado" e que jamais compactuaria com "atos subversivos".

Investigação começou durante mandato, diz Bolsonaro

Bolsonaro disse que, em fevereiro deste ano, tomou conhecimento de um procedimento aberto para investigar "possíveis ilícitos" na inserção de dados falsos sobre sua vacinação.

Ele contou também que, quando o ex-ministro da CGU (Controladoria-Geral da União) Wagner Rosário o consultou sobre conceder acesso ao seu cartão de vacinação, "concordou em autorizar a liberação do acesso ao cartão, mas orientou que, caso houvesse alguma coisa errada, que se procedesse a investigação pertinente". Rosário fez a consulta após pedido feito por meio da Lei de Acesso à Informação,

Bolsonaro também disse que "não tem a menor ideia" do motivo pelo qual João Carlos Brecha, secretário da prefeitura de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), inseriu dados falsos a seu respeito no sistema de vacinas num posto de saúde. Também negou saber da participação de Mauro Cid nesse episódio.

O que diz a defesa de Bolsonaro