Lava Jato fez grampo ilegal de Youssef e mais presos, segundo PF
Relatório elaborado pela Corregedoria da Polícia Federal comprovou que a Lava Jato gravou ilegalmente o doleiro Alberto Youssef, primeiro delator da Operação, na época em que ele estava preso na superintendência da Polícia Federal no Paraná, em 2014. As informações foram divulgadas pela Veja e confirmadas pelo Estadão.
O que aconteceu:
O relatório da Corregedoria da PF, a partir de uma perícia, apontou que foram captadas ilegalmente conversas de Youssef e outros presos por cerca de 12 dias. O laudo da PF foi produzido em dezembro de 2015, foi solicitado três vezes pela defesa do doleiro, mas o então juiz da Lava Jato, o hoje senador Sergio Moro (União-PR), negou o acesso.
A defesa do doleiro recorreu agora ao novo juiz da Operação, Eduardo Appio, que concedeu acesso ao laudo que comprova a existência do grampo.
Além de Alberto Youssef, foram grampeados Carlos Alberto Pereira da Costa, Carlos Alexandre de Souza Rocha e Nelma Kodoma. Parte das gravações foi apagada, mas o arquivo foi recuperado pela perícia porque estava na lixeira de um computador.
Em 2014, Youssef denunciou que estava sendo grampeado pela Lava Jato, que negou. À época, foi alegado que o grampo estava no local desde o período em que o criminoso Fernandinho Beira-Mar estava detido na PF do Paraná, mas que o aparelho já não funcionava mais.
A Corregedoria da PF apontou que o grampo foi instalado com a anuência do responsável pela manutenção dos presos na carcerária da PF no estado.
"É improvável que o equipamento encontrado em abril de 2014 tenha ficado instalado por mais de dois anos sem a anuência e o conhecimento das pessoas responsáveis pela custódia. Para que o referido equipamento permanecesse instalado na laje sobre as celas sem consentimento teria que se concluir que as diversas equipes que realizaram revistas naquela área o fizeram de forma absolutamente negligente. Por derradeiro, o equipamento instalado teria que ter passado despercebido por pelo menos duas vistorias realizadas pelo superintendente regional, pelo delegado regional e pelo delegado de combate ao crime organizado, sempre acompanhados de outros policiais federais", diz trecho do relatório elaborado pela Corregedoria da PF.
Youssef quer anular condenações
Youssef vai acionar a Justiça Federal em Curitiba para pedir a anulação de sua delação e de suas condenações, segundo o advogado do, Antonio Augusto Figueiredo Basto, disse à Veja. Alberto argumenta que não sabe se as informações obtidas ilegalmente nos grampos teriam sido usadas contra ele para pressioná-lo a fazer delação.
Youssef também diz que acionará legalmente os agentes que sabiam da escuta clandestina, conforme apontado pela Corregedoria da PF, pedirá a responsabilização de quatro delegados da PF e do então juiz da Operação, Sergio Moro.
Em março, Youssef teve mandado de prisão expedida por Eduardo Appio a partir de um processo iniciado pela Receita Federal por não devolver aos cofres públicos os valores desviados e por manter um padrão de vida "incompatível com a situação da imensa maioria dos brasileiros".
O doleiro não ficou muito tempo encarcerado porque o desembargador do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4º Região), Marcelo Malucelli, mandou soltá-lo duas vezes em menos de 24 horas.
Ao UOL, Moro negou "qualquer envolvimento em relação a supostas escutas ilegais". A reportagem procurou a assessoria da PF, mas não obteve retorno. Se a resposta for enviada, esta matéria será atualizada. A defesa de Alberto Youssef não foi localizada para comentar. O espaço segue aberto.
(Com Estadão Conteúdo)
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