Sem Zelensky, agenda de Lula no G7 priorizou África, Índia e combate à fome
O encontro frustrado com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dominou o noticiário da passagem de Lula por Hiroshima durante a cúpula do G7. Mas o governo brasileiro tinha planos além de discutir a Guerra da Ucrânia: reaproximação com países africanos, acordo de combate a fome e retomada do protagonismo da agenda verde.
Estreitando laços com a África
Lula endossou o apoio brasileiro a inclusão da União Africana no G20. A organização abrange 54 países-membros. O assunto foi abordado neste domingo durante uma reunião com o presidente de Comores, Azali Assoumani, que também comanda a União Africana.
Os dois chefes de estado ainda conversaram sobre o incremento das relações comercias e investimentos. Uma das possibilidades é usar bancos de fomento. O presidente de Comores declarou que cabe ao Brasil liderar os países em desenvolvimento.
Pelo Twitter, Lula afirmou que trabalha para restabeler relação com a África. Ele declarou que o continente ficou relegado durante a passagem de Jair Bolsonaro pelo Planalto.
Brasil e Índia
Brasil e Índia foram bastante pressionados pelas potências ocidentais para deixar a neutralidade e se alinharem à Ucrânia na guerra que o país trava com a Rússia. O tema foi discutido pelos dois países em encontro bilateral de Lula com Narendra Modi.
A saída retórica da dupla para responder ao assédio ocidental foi dizer que não há neutralidade e que Brasil e Índia estão do lado da paz. Ao comentar a reunião, Lula declarou que deseja retomar a parceria estratégica que havia entre os dois países.
Parceria contra a fome
Durante o G7, os líderes de 15 países assinaram um acordo para erradicar a fome no planeta. O compromisso prevê a oferta de alimentos nutritivos, baratos e produzidos a partir de uma cadeia agrícola sustentável.
A iniciativa é uma resposta ao cenário negativo mundial. A pandemia deixou as pessoas mais pobres num momento de mudanças climáticas e quando aumento do preço de energia e dos fertilizantes eleva o custo dos alimentos.
O objetivo de médio prazo e preparar países para responder de forma rápida crises de falta de comida. No longo prazo, a intenção é alcançar a segurança alimentar de maneira sustentável.
Brasil quer protagonismo na agenda verde
Na série de encontros bilaterais, Lula tratou da questão ambiental com chefes de estado de países como Canadá, Alemanha e França. O recado que ele transmitiu foi a intenção de o Brasil retomar o papel de liderança nas discussões da agenda verde.
O país sempre foi considerado protagonista na área, mas esta reputação foi perdida durante o governo de Jair Bolsonaro. O que Lula fez no G7 foi uma tentativa de reconstrução de imagem que começou ainda antes de assumir.
O governo brasileiro também cobrou que os países honrem seus compromissos de alocar US$ 100 bilhões por ano em ações climáticas. Ele acrescentou que não haverá solução ambiental se países ricos implementarem soluções sofisticadas locais e as nações em desenvolvimento serem negligenciadas.
Críticas ao sistema financeiro e à ONU
Em seus discurso no G7, Lula foi incisivo nas críticas ao modelo de decisões financeiras e políticas no mundo. Ele disse que os problemas do planeta vão muito além das questões europeias e acrescentou que as demandas dos emergentes precisam de atenção.
Lula declarou que a ONU não é mais capaz de mediar diferenças entre países e evitar que guerras aconteçam. Ele pede uma reformulação na organização e falou que quanto mais surgem conflitos, mais fica caracterizada a inoperância do Conselho de Segurança.
Lula também atacou o sistema financeiro e defendeu que ele esteja voltado para o desenvolvimento. O presidente afirmou que o endividamento extremo de países como a Argentina causa desigualdades extremas e que é preciso lidar com esta questão. Tudo foi dito ao lado de chefes de estados das potências mundiais.
Encontro com conglomerados japoneses
Neste domingo, Lula se reuniu com gigantes da indústria do Japão. O chamado "grupo de notáveis" reuniu dirigentes de empresas como Toyota (carros), NEC (comunicação e eletrônicos), Mitsui (trading) e Nippon Steel (siderurgia).
Lula defendeu a utilização do BNDES e do banco de fomento japonês em possíveis negócios. Foram identificadas oportunidades de parcerias na fabricação de veículos híbridos, produção de hidrogênio verde para reduzir a emissão de carbono na indústria siderúrgica e uso de inteligência artificial em telecomunicações.
O presidente brasileiro deve conceder uma entrevista coletiva às 20 horas de hoje (8 horas de segunda-feira no Japão). Na ocasião, deverá ser feita uma avaliação da participação brasileira no G7. Veja abaixo os destaques da participação de Lula no G7.
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