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Com 3 ministérios, União ameaça Lula e vota contra governo por mais espaço

De saída da União Brasil, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, será substituída pelo correligionário Celso Sabino - Fátima Meira/Futura Press
De saída da União Brasil, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, será substituída pelo correligionário Celso Sabino Imagem: Fátima Meira/Futura Press

Do UOL, em São Paulo

25/06/2023 04h00

A União Brasil é o partido que mais vota contra os projetos de Lula na Câmara dos Deputados entre as legendas com pastas na Esplanada dos Ministérios, mostra pesquisa do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) sobre como foi a articulação do governo e os votos dos partidos na Casa até o final de maio.

Com 59 deputados, a União Brasil tem a terceira maior bancada da Câmara. Para atrair seus votos, Lula entregou ao partido três ministérios: Comunicações (Juscelino Filho), Turismo (Daniela Carneiro) e Integração e Desenvolvimento Regional (Waldez Góes). Apesar disso, o partido se declarou independente e, para ganhar mais espaço, ameaça ir para a oposição.

O que diz a pesquisa?

Com três ministérios, o partido é o que menos vota com o governo na comparação com as outras oito legendas agraciadas com alguma pasta: PT, PCdoB, PDT, PSB, PSOL, Rede, PSD e MDB.

Proporcionalmente, o partido rejeita mais propostas do governo do que os declaradamente oposicionistas PP, PSDB e Cidadania e do que outros independentes, como PSC, PSD, MDB, Republicanos e Patriota.

Com 45,23% de votos favoráveis à pauta governista, é o terceiro que menos dá apoio a Lula na Câmara, atrás apenas de PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e Novo, o mais oposicionista. Veja ranking abaixo.

Na votação do marco temporal, por exemplo, 48 dos 50 deputados da União Brasil em plenário votaram contra o governo.

Pressão. Para entregar mais votos, a legenda pressiona o Planalto a tirar do Turismo Daniela Carneiro (RJ) —que está de mudança para o Republicanos— e colocar Celso Sabino (PA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A troca foi adiada para esta semana, já que Lula voltou apenas ontem ao Brasil após uma semana em viagem oficial pela Europa.

Em junho, 50 parlamentares da sigla entregaram a Lula um pedido formal exigindo a troca de Daniela por Sabino sob ameaça de deixar a "independência" e rumar para a oposição, tirando os votos até dos projetos de interesse econômico. Para não rifar Daniela e Waguinho, seu marido e prefeito de Belford Roxo (RJ), o petista avalia liberar emendas e entregar a eles cargos no segundo escalão de órgãos federais no Rio, como hospitais. Os dois foram os únicos que apoiaram Lula na Baixada Fluminense durante a campanha eleitoral.

Ranking de apoio ao governo Lula na Câmara

Sigla é dividida. O analista político e diretor de documentação do Diap, Neuriberg Dias, lembra que o União Brasil nasceu da fusão do PSL e DEM e que, mesmo contemplado com três ministérios, tem divergência muito grande com grupos que apoiam o governo.

O partido poderá entregar apoio, mas o desacordo ideológico não deverá ser superado nas votações." Neuriberg Dias, analista político e diretor de documentação do Diap

Bancada ignorada. O deputado Júnior Bozzela (União-SP) diz que "ninguém foi ouvido" sobre a escolha dos ministros do partido que integram o governo. "Nossos 59 deputados não se sentem parte dessa operação. Isso foi ruim para evoluir as coisas. Agora, é trocar o pneu com o carro em movimento", diz ele sobre a mudança de Daniela por Sabino.

O partido entregou os votos a projetos consistentes, como o arcabouço fiscal. O governo tinha dificuldade de entender a fusão dos dois partidos. Precisa de mais diálogo para mais adesão da União Brasil. Mas isso tem evoluído.
Júnior Bozzela, deputado

Celso Sabino (à esquerda) - Divulgação - Divulgação
Celso Sabino (de branco) com o aliado Arthur Lira, presidente da Câmara
Imagem: Divulgação

Governista, Avante é o mais infiel

Entre os oito partidos com "apoio consistente ao governo", diz o Diap, destaca-se o Avante, que deu apenas 67,75% de apoio, atrás de quatro legendas independentes: PSC (74% de apoio), PSD (73%); Podemos (69,7%) e MDB (67,77%). Procurada, a liderança do partido na Casa não se manifestou.

Já o Cidadania é o partido da oposição mais próximo ao governo, com 57,14% de apoio.

"A composição do governo teria base mínima de 140 e máxima de 346 na Câmara [contando os independentes]", estima o estudo. Nas vitórias, o governo conseguiu média de 292 votos. Nas derrotas, a média foi de 133.

Câmara fica mais conservadora. Em uma escala de 1 (esquerda) a 10 (direita), a média da Câmara passou de 4,2, em 1999, para 5,4 com Bolsonaro e para 6,1 no governo Lula. "Passando pela primeira vez o ponto médio em direção à centro-direita", diz a pesquisa. A situação reforça a dificuldade do governo em garantir adesão partidária.

foto: pabrlo valadares/câmara dos deputados - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Câmara é a mais conservadora dos últimos tempos
Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Como atrair os independentes? Dias entende que é preciso uma nova forma de o governo conduzir a relação com o Congresso, com diálogo para evitar confronto com o Parlamento.

Mais do que uma reforma ministerial, a indicação de cargos e liberação de emendas tendem a melhorar essa relação." Neuriberg Dias, analista político e diretor de documentação do Diap

"Insatisfação geral". Crítico da articulação do governo na Câmara, o líder da União Brasil, Elmar Nascimento (BA), falou em "insatisfação geral" durante votação que reestruturou a Esplanada dos Ministérios, em 31 de maio. "Tudo isso é fruto da forma contraditória, desgovernada, da falta de uma base estabilizada", criticou na época. Procurado, ele não retornou contato.

Congresso avança sobre Executivo. Líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR) admite que "todo o Congresso acumulou poder" nos últimos anos, retirando protagonismo do Executivo. "Com a posse de Lula e o fim do orçamento secreto [criado por Bolsonaro para ganhar votos no Congresso], esse poder diminuiu", afirma.

Temos tido apoio tanto da oposição quanto dos independentes nas principais pautas do país. Será assim na Reforma Tributária também. O segredo é a qualidade dos projetos e o diálogo.
Zeca Dirceu, deputado