Monólogo eleitoreiro, mentira, Justiça não é tola: o que disseram no TSE
O TSE tornou Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos — foram 5 votos a 2. Na quarta sessão, nesta sexta (30), a ministra Cármen Lúcia afirmou que o ex-presidente desrespeitou os poderes e o presidente da Corte, Alexandre Moraes, desmentiu frases ditas pelo ex-chefe do Executivo. O ministro Kassio Nunes Marques, que votou contra a inelegibilidade, defendeu o sistema eleitoral.
Ataques aos poderes
Não se contou e se fala muito neste caso que houve muitos ataques ao Poder Judiciário, na figura de alguns de seus integrantes, mas até mesmo a leitura dos autos mostra que sequer o Poder Executivo foi respeitado.
Cármen Lúcia, ministra do TSE
Por norma expressa, a organização desses eventos se dá quando se trata de ato de governo ao Itamaraty. E, perguntado, o então ministro das Relações Exteriores disse que não sabia, que não participou. Essa organização se deu por um grupo pequeno, ligado ao então presidente da República, com um objetivo muito específico para apresentar o seu monólogo.
Cármen Lúcia, ministra do TSE
A crítica feita ao Poder Judiciário e a nós juízes, posso falar de cátedra, nós somos instigados com todas as críticas...O que não se pode é um servidor público, em um equipamento público, em um espaço público com divulgação pela EBC e redes sociais fazer achaques contra ministros do Supremo sem que estivesse atingindo a própria instituição. E não há democracia sem Poder Judiciário independente.
Cármen Lúcia, ministra do TSE
Encadeamento de mentiras
'O que é comum é o chefe do Executivo conseguir a reeleição, estamos vendo o contrário aqui', acusando o TSE de conspirar contra sua reeleição. 'Tudo que eu falo aqui ou é conclusão da PF, ou informações do TSE', é mentira. 'Não é confiável, porque é inauditável', mentira.
Alexandre de Moraes, presidente do TSE, citando e rebatendo mentiras de Bolsonaro
Essa desinformação com sentido de angariar mais votos, angariar mais eleitores, com esse discurso absolutamente mentiroso e radical. Não há aqui nada de liberdade de expressão.
Alexandre de Moraes, presidente do TSE
O presidente da República, ao mentirosamente dizer que há fraudes nas eleições, inclusive naquela que ele ganhou, e ao ser indagado diz, eu ganharia no primeiro turno, e ao ser oficiado pelo presidente do TSE para apresentar provas sobre a fraude, obviamente não as apresentou porque elas não existem, o presidente da República que ataca a Justiça Eleitoral, que o elege há 40 anos. Isso não é exercício da liberdade de expressão. Isso é conduta vedada, e ao fazer isso utilizando do cargo do presidente da República, do dinheiro público, da estrutura do Alvorada, é abuso de poder.
Moraes sobre acusação contra Bolsonaro
Defesa das urnas
Tenho como irrefutável a integridade do sistema eletrônico de votação. Nada obstante, retornando ao objeto desta ação, considero que a atuação de Jair Messias Bolsonaro no evento sob investigação não se voltou a obter vantagem sobre os demais contendores do pleito presidencial de 2022, tampouco faz parte de tentativa concreta de desacreditar o resultado da eleição
Kassio Nunes Marques, ministro do TSE
Ataque à democracia
Monólogo eleitoreiro, a pauta da reunião definida pelo presidente, uma pauta dele, pessoal, eleitoral, num período faltando dois meses e meio para o primeiro turno das eleições. Qual foi essa pauta? Instigar seu eleitorado e eleitores indecisos contra a Justiça Eleitoral, contra as urnas eletrônicas.
Moraes sobre a reunião de Bolsonaro com embaixadores em 2022
A Justiça Eleitoral avisou a todos os participantes das eleições que ocorreriam no ano seguinte: que não admitiria extremismo criminoso e atentatório. Não admitiria notícias fraudulentas. Isso ficou pacificado e com um alerta a se evitar o que estamos fazendo hoje. Se evitar que o descumprimento gerasse a inelegibilidade daqueles que insistisse em praticar esses ilícitos eleitorais.
Moraes sobre alerta feito a candidatos
Desinformação produzida e divulgada por verdadeiros milicianos digitais em todo o mundo. Se esse viés autoritário e extremismo é o que queremos para a nossa democracia. Vamos reafirmar a fé na nossa democracia e no Estado de Direito. E a resposta que a Justiça Eleitoral e o TSE confirmará a nossa fé na democracia e no Estado de Direito.
Moraes exalta democracia em voto
A Justiça é cega, mas não é tola. Não podemos, e insisti à época, não podemos criar um precedente avestruz. Todo mundo sabe o que ocorreu, só que todos escondem a cabeça embaixo da terra. Não podemos aqui confundir a neutralidade da Justiça, o que tradicionalmente se configura com a fala a Justiça é cega, com a tolice. A Justiça Eleitoral não é tola."
Moraes em voto
*Participam da cobertura
De Brasília: Gabriela Vinhal e Paulo Roberto Netto
De São Paulo: Ana Paula Bimbati, Caíque Alencar, Fabíola Perez e Isabella Cavalcante
Do Rio: Lola Ferreira
Colaborou Tiago Minervino, em São Paulo
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