Mandante, motivação, arma, investigação: 5 perguntas sobre o caso Marielle

As investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes continuam após a delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz. Ontem o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que o depoimento do ex-policial permite "um novo patamar de investigação, a dos mandantes".

Embora a delação tenha revelado detalhes sobre como foi a execução e a arma usada no crime, ainda há perguntas que não foram respondidas. Veja questões sobre o assassinato que ocorreu em março de 2018.

Quem mandou matar Marielle e Anderson?

Ainda não se sabe se Élcio e Roni Lessa, que estão presos, foram contratados para matar Marielle. Élcio confessou que dirigia o veículo usado no crime e afirmou que Lessa efetuou os disparos. A defesa do segundo nega.

Dino afirmou que a próxima fase da investigação terá como alvo exatamente os mandantes do crime. "Esse trabalho conjunto conseguiu produzir novas provas sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Há um encerramento de um patamar relativo à execução do crime."

O que motivou o crime?

Na delação, Élcio diz que não sabe o que motivou o crime. Segundo o processo, Lessa teria dito ao parceiro que era "algo pessoal".

Aí ele [Ronnie Lessa] falou que era a vereadora, falou o nome, mas eu não sabia quem era; mas aí eu falei o que é a situação? Ele falou que era pessoal; mas tem dinheiro nisso aí, o que é? Aí ele falou não, é pessoal.
Élcio de Queiroz, em delação

Para o coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do MP-RJ, Fábio Corrêa, os motivos para matar Marielle têm relação com as causas e bandeiras defendidas por ela enquanto parlamentar.

O crime foi praticado por conta das causas defendidas por Marielle. Isso não exclui outras motivações. Isso permanece na denúncias e não exclui o fato de que Ronnie tinha ojeriza às causas defendidas por ela, isso está na primeira denúncia e permanece.
Eduardo Morais Martins, promotor de Justiça

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De onde veio a arma?

Na delação, Élcio disse que a arma usada na execução era do Bope — o que está sob investigação. O armamento teria sumido após um incêndio no paiol do batalhão, segundo o relato de Élcio.

Questionado sobre quem vendeu a arma para Lessa, Élcio não soube informar se foi por um policial militar ou não. "Possivelmente policial porque essa arma foi extraviada do Batalhão de Operações Especiais; então alguém que tinha acesso as armas."

Ele também não explicou como tiveram acesso à munição UZZ18 da Polícia Federal. Mas disse que Ronnie "deve" ter amigos no órgão até hoje.

Houve um incêndio no Batalhão de Operações Especiais, no paiol, e essa arma foi extraviada. Essa e outras armas foram extraviadas nesse incêndio aí e essa arma ficou com uma pessoa que eu não sei quem é. Essa pessoa conseguiu fazer a manutenção dela e vendeu pra ele [Ronnie Lessa].
Élcio de Queiroz, em delação

Qual o destino do armamento após o crime?

Élcio disse em delação que Lessa destruiu a arma usada no crime, após a repercussão. O processo também cita a Operação Submersus, feita em 2019, que tinha como alvos suspeitos de ajudar a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios que pertenciam ao acusado de atirar em Marielle e em Anderson.

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Eu perguntei pra ele o que ele fez com a arma, no início ele ficou com ela ainda, mas quando o negócio começou a tomar muito vulto mesmo, aí ele...eu falei o que você fez com essa arma? Ele falou "eu serrei ela todinha"; eu não acredito, mas ele falou que serrou ela todinha; pegou a embarcação lá na Barra da Tijuca, foi numa parte mais funda que tem lá, porque a maioria é quinze metros, foi numa parte que tinha trinta metros e jogou ali.
Élcio de Queiroz, em delação

Por que a PF demorou para entrar na investigação?

Inicialmente, o Ministério Público do Rio de Janeiro havia se oposto à proposta de federalizar o caso. A investigação estava sob responsabilidade da Polícia Civil do Rio e da Justiça estadual.

O MP-RJ destacou, à época, que levar as investigações para nível federal poderia acarretar em "prejuízos aos trabalhos". O prejuízo se daria tanto em relação às descobertas feitas, quanto ao "julgamento dos executores já identificados", que "necessita de promotores de Justiça que conheçam profundamente as provas produzidas."

Dino afirmou que a determinação de ingresso da PF nas investigações ocorreu em fevereiro. No atual estágio da investigação, ocorre uma parceria entre a Polícia Federal, Polícia Penal Federal e o MP-RJ.

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