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Lessa e Queiroz se falavam por app usado na Casa Branca durante Era Trump

Do UOL, em São Paulo

26/07/2023 04h00Atualizada em 26/07/2023 13h15

O ex-PM Élcio de Queiroz disse que usava o app Confide para trocar imagens e outras informações com Ronnie Lessa. Os dois estão presos acusados de participação na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. As informações sobre o aplicativo vieram a público na delação de Élcio à Polícia Federal.

Eu tratava de assuntos triviais pelo WhatsApp normal, mas quando era alguma coisa assim muito reservada, aí eu tratava no Confide. Todos os nossos conhecidos já estavam usando isso aí. Então, era até, às vezes, um meio de quando não atendia um, chamava também no Confide, porque fazia outro tipo de toque
Élcio de Queiroz, ex-PM, em delação à PF

O que aconteceu

O app Confide (confiar, na tradução livre) é conhecido por exibir mensagens e depois apagá-las. Citada por Élcio na delação, essa característica o levou a ser usado para troca de dados no primeiro ano de governo do ex-presidente americano Donald Trump por funcionários da Casa Branca — como o secretário de imprensa Sean Spicer e a diretora de comunicações estratégicas Hope Hicks.

Veículos de mídia americanos apontaram falhas de segurança no Confide. Ao se cadastrar no app, o usuário é informado sobre os contatos de sua agenda de telefones que já estão na plataforma — o que permitiu a identificação dos membros do governo americano que a usavam. Além disso, uma brecha no aplicativo possibilitava que mensagens fossem interceptadas se o smartphone estivesse conectado a redes públicas de Wi-Fi.

Aplicativo promete tecnologia de "padrão industrial" para manter mensagens seguras. No site do Confide, a empresa responsável informa que o app já foi traduzido para 15 idiomas e está disponível para uso em 200 países. Há mais de 1 milhão de usuários apenas no Brasil, de acordo com dados da Google Play Store.

Joesley Batista usou Confide para marcar encontro com Michel Temer. De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, app foi o escolhido pelo empresário para combinar um encontro em Nova York com o então presidente, em 2017. Segundo documento, reunião tinha por finalidade "tratativas ilícitas". À época, a Câmara dos Deputados não autorizou que o processo vinculado à denúncia fosse adiante.

Delação revelada

O ministro da Justiça, Flávio Dino, revelou na segunda-feira (24) que Élcio fechou acordo de delação. O ex-PM admitiu que dirigiu o carro usado para perseguir Marielle no dia do assassinato e apontou Ronnie Lessa como autor dos disparos. Élcio deu detalhes sobre a noite do crime e afirmou que a arma usada para matar a vereadora foi extraviada após incêndio em um paiol do Bope.

Após a delação, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, foi preso. De acordo com as investigações, ele foi responsável por vigiar Marielle e colaborou no planejamento do crime.

Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa estão presos desde 2019. Ontem, o Ministério Público do Rio de Janeiro esclareceu que o acordo de delação premiada de Élcio não o tira de júri popular e nem prevê redução de pena.

Ainda não se sabe quem foi o mandante do crime e qual foi a motivação. O ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que o depoimento de Élcio permite "um novo patamar de investigação, a dos mandantes".

O que dizem os envolvidos

Eu recebi uma imagem pelo aplicativo Confide. Quem conhece sabe que tem que deslocar o dedo, correr o dedo pela tela. Então, fica tipo uma tarja acompanhando a imagem. Não dá pra ver a imagem total, ela vai (se formando) conforme vai passando o dedo, ela vai correndo. Aí, depois automaticamente ela se destrói.
Élcio de Queiroz

Jamais tive informação sobre isso (do uso do app). Aliás, eu mesmo nem sabia da existência desse aplicativo.
Bruno Castro, advogado de Ronnie Lessa

Procurada pelo UOL, a empresa responsável pelo app Confide não retornou nossos contatos até a publicação da reportagem.

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