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Morre aos 83 anos José Murilo de Carvalho, historiador e membro da ABL

Morreu na madrugada deste domingo (13), aos 83 anos, o historiador e cientista político José Murilo de Carvalho. Ele estava internado com covid-19.

A Academia Brasileira de Letras informou que o velório será na sede, às 9h desta segunda (14). O enterro está previsto para as 13h, no Mausoléu dedicado aos imortais, no Cemitério São João Batista, no Rio

Imortal e escritor

Um dos maiores historiadores do Brasil, José Murilo de Carvalho assumiu a cadeira de número 5 na ABL em 10 de setembro de 2004, antes ocupada por Rachel de Queiroz (1910-2003).

O acadêmico escreveu 19 livros, entre eles a biografia de Dom Pedro 2º e clássicos como "A Cidadania no Brasil", "A Formação das Almas", "Os Bestializados" e "Forças Armadas e Política no Brasil"

Nascido em Minas Gerais em 8 de setembro de 1939, José Murilo de Carvalho era formado em sociologia e política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e mestre e doutor em ciência política pela Universidade de Stanford (EUA).

De acordo com a ABL, José Murilo de Carvalho lecionou e pesquisou nas seguintes universidades estrangeiras: nas britânicas Oxford e de Londres, na holandesa Leiden, nas americanas Stanford, Irvine, Notre Dame e Princeton, além da Fundação Ortega y Gasset-Gregorio Marañón, da Espanha.

Professor emérito da UFRJ (Universidade Federal do Rio), onde lecionou até de aposentar, o intelectual deixa um filho, Jonas Louzada de Carvalho.

"Compromisso ético fundamental"

Em um vídeo publicado na manhã de hoje, o escritor Marco Lucchesi, presidente da Biblioteca Nacional, afirmou que José Murilo tinha um "compromisso ético fundamental, de que ele não abria mão".

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Também imortal na ABL, Lucchesi definiu o escritor como "um dos grandes intérpretes do Brasil".

"Estou muito pessimista"

Em sua última grande entrevista, em setembro de 2022, ao jornal Público, de Portugal, José Murilo de Carvalho afirmou estar pessimista com o Brasil.

Questionado se tinha respostas à própria pergunta "o que deu errado [com o Brasil]?", ele disse que não. Mas mostrou seu descontentamento.

Que país construímos ou não construímos? Isso implica olhar pra frente. As desigualdades são escandalosas, somos o sétimo ou oitavo país mais desigual do mundo. O nível educacional melhorou, mas segue muito baixo. O desemprego é enorme. Cerca de 60 milhões de pessoas recebem auxílio federal. Crescendo a 2%, este país tem futuro? Pode ser a minha idade também, mas estou muito pessimista.

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O historiador osé Murilo de Carvalho toma posse na ABL, em setembro de 2004
O historiador osé Murilo de Carvalho toma posse na ABL, em setembro de 2004 Imagem: Ana Carolina Fernandes/Folhapress

José Murilo de Carvalho também avaliou as politicas de cotas raciais e sociais nas universidades.

Houve atos importantes no governo Lula [nos dois primeiros mandatos], como a ação afirmativa. Adotaram-se as cotas e o impacto foi muito grande, mudou a cara das universidades públicas, mudou de cor. Isso, sim, foi, talvez, a iniciativa mais importante para integração social e racial.

O escritor afirmou ainda que não via um bom futuro para o país.

Não enxergo um futuro bom para o país, os dados não fecham. Creio, e aí já é talvez exagerado, que o Brasil não será um grande país no futuro e também não será capaz de construir um país de renda média, como a Espanha. Estou pessimista.

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