Revista divulga áudio em que advogado diz que Cid foi 'pegar as joias'
Do UOL, em São Paulo
18/08/2023 14h20Atualizada em 18/08/2023 17h24
A revista Veja publicou um áudio no qual Cezar Bitencourt, novo advogado de Mauro Cid, disse que o ex-ajudante de Jair Bolsonaro admitiu ter pego as joias desviadas pelo então presidente.
O que aconteceu:
"O Cid não nega os fatos. Ele assume que foi pegar as joias. 'Resolve isso lá'. Ele foi resolver. 'Vende a joia'. Ele vende a joia", afirmou Bitencourt à revista, com ordens que seriam do ex-presidente.
No áudio, o advogado falou que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), está "extremamente duro" e previu encontrá-lo na próxima segunda-feira (21), o que ele reforçou em entrevista à GloboNews na tarde de hoje.
A divulgação do áudio, na tarde de hoje, ocorre após um recuo da defesa de Cid. Ontem, a Veja publicou uma reportagem após entrevista com Bitencourt, que apontou que o ex-ajudante faria uma confissão que apontaria Bolsonaro como mandante na recompra das joias.
Hoje de manhã, Bitencourt afirmou ao jornal Estado de S. Paulo não ter falado sobre as transações envolvendo as joias recebidas pelo ex-presidente por delegações estrangeiras. O advogado disse à GloboNews que não foi pressionado para fazer esse recuo.
"Claro que, de repente, sai uma palavra aqui ou ali, que é mal interpretada. Você refaz. Às vezes tem um S que não deveria ter. É normal, pode ser", amenizou hoje à tarde na GloboNews.
Entenda o caso
Na sexta-feira passada (11), a Polícia Federal deflagrou a operação que aprofunda a investigação das joias desviadas. O que acontecia, segundo a instituição, é que ajudantes de Bolsonaro revendiam joias e bens que eram presenteados ao então presidente. O dinheiro vivo era repassado para Bolsonaro, ou seja, um presente para a União viraria lucro pessoal.
Os alvos de busca e apreensão foram o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.
O esquema, segundo a PF, tinha "o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", "por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal".
Os indícios envolvendo Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.
Em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, a PF encontrou conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:
Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?Mauro Cid, em mensagem de áudio enviado por celular
Calado na CPI e movimentações suspeitas
Mauro Cid foi convocado a depor na CPI mista dos atos golpistas de 8 de Janeiro. O tenente-coronel foi ao Congresso no dia 11 de julho e se recusou a responder, negou dizer até a própria idade. A comissão, então, enviou uma representação ao STF acusando Cid de "abusar do direito ao silêncio" durante depoimento, que pode dar, no máximo, 4 anos de prisão.
O Ministério Público elencou todas as perguntas feitas a Cid, nenhuma das 76 respondida. A ministra Cármen Lúcia permitiu que o tenente-coronel ficasse em silêncio, mas ele deveria responder a perguntas que não o incriminassem.
Cid possui movimentações bancárias tido como atípicas. Com dados de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), foi possível somar que as transações entre o tenente-coronel e o sargento Luís Marcos dos Reis, preso também pela suspeita de forjar cartões de vacina, foram de R$ 7 milhões entre 1º de fevereiro de 2022 e 8 de maio de 2023. Reis, segundo o Estadão, acionou um sobrinho que é médico para preencher e carimbar os certificados de vacinação.
Ao todo, foram 17 transações identificadas oficialmente entre os dois titulares de contas. Apenas o próprio sargento figurou como destinatário em mais transações que Cid, segundo lugar da lista.