Rolex: Dinheiro vivo foi para Bolsonaro ou Michelle, diz advogado de Cid
O advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, afirmou hoje que o dinheiro da venda do relógio Rolex deve ter sido entregue para Jair Bolsonaro ou para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O que aconteceu:
O advogado negou ter dito que a venda do Rolex foi feita a mando de Bolsonaro e disse que Cid era apenas o "ajudante de ordens", que "cumpria ordens". "Não disse que foi a mando do Bolsonaro. Eu também não disse que [Cid] estava entregando, dedurando Bolsonaro. Apenas [disse] que [Cid] era um assessor e que cumpriu ordens", afirmou Bitencourt.
Em seguida, contudo, deu novamente a entender que Bolsonaro teria ordenado a venda do relógio, dizendo que ele teria mandado Cid "resolver o problema do Rolex" e que o dinheiro em espécie foi, provavelmente, entregue para o ex-presidente ou para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
"Para um entendedor, meia palavra basta. E o Cid foi atrás, tentou vender. As condições não eram boas, embora tenha conseguido. Depois foi problema, foi atrás do Rolex, buscar esse Rolex", acrescentou.
O dinheiro [da venda] foi para o Bolsonaro ou para a primeira-dama. Se foi em mãos, se foi na caixinha de correios, se foi na caixinha da mesa dele, da primeira-dama... [Cid] entregou para eles. [...] Em espécie. Quando deu o problema com esse relógio, ele [Bolsonaro] pegou e disse 'Cid, pega esse relógio e resolve esse problema'. O Cid também tem iniciativa de resolver esse problema. Aqui [no Brasil] não conseguiu, tentou vender, ninguém comprou. Um dia ele poderia vender. E foi o que ele fez. Vendeu. Quando deu o problema, surgiu o problema [a devolução ao TCU], o [Bolsonaro disse]: 'o senhor tem que consertar, pelo menos minimizar, diminuir esse problema'.
Cezar Bitencourt, advogado de Mauro Cid
Bitencourt rebateu reportagem publicada pela revista Veja e disse que a possível confissão do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro está relacionada apenas à venda do relógio Rolex, e não ao conjunto completo de joias recebido de autoridades sauditas. Ele negou ter recuado em relação ao que disse ontem à revista, que publicou hoje um áudio no qual o advogado diz que Cid admitiu ter pego as joias desviadas pelo então presidente.
"Não tem nada a ver com joias. [Me referia] ao relógio, que é uma joia", disse em entrevista hoje à GloboNews. "Ninguém me mandou recuar. [...] O que o Cid trabalhou, o que eu trabalhei, é o negócio do relógio. O relógio —não são as joias. Eu não tenho a menor ideia de joias, não sei o que é isso. [Mas] é claro que esse Rolex é uma joia".
Sobre o teor da confissão de Mauro Cid, o advogado disse não ter "procuração para fazer confissão em nome do cliente". "Ele vai esclarecer os fatos, falar dos fatos, que ele praticou a responsabilidade que ele tem. Mas isso não é uma confissão. Vamos falar das circunstâncias", explicou.
Entenda o caso
Ontem, a revista Veja informou que O tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio, decidiu que fará uma confissão e apontará o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como mandante no caso da recuperação das joias, recebidas de presente.
Cid não fechou uma delação premiada e tem ficado em silêncio sobre as joias e a possível falsificação de cartões de vacina — o último resultou em sua prisão em maio. Bitencourt disse que conversará com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para atenuar a pena do cliente.
O advogado de Cid, o criminalista Cezar Bitencourt, disse que a versão que Cid contará vai deixar claro que o ex-presidente sabia, pelo menos parcialmente, dos esforços para recomprar as joias desviadas. Além disso, o advogado falou que o tenente-coronel arranjou o retorno dos bens ao Brasil e entregou o dinheiro em espécie, para dificultar rastreios, ao então presidente.
"O dinheiro era de Bolsonaro", falou Bitencourt à revista. Os planos para comprar as joias revendidas poderiam ser caracterizados "também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro", segundo o advogado.
O tenente-coronel falará que estava cumprindo ordens de seu chefe da época, Bolsonaro, de quem ele era ajudante. O Código Penal prevê uma redução da pena se um crime é cometido por ordem "de autoridade superior".
Possível envolvimento do pai de Mauro Cid
Semana passada, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel, justamente no caso dos desvios de joias e outros bens de valor.
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Quero receberA PF colheu indícios de que o general Cid teria participado da venda dessas joias e chegou a emprestar sua conta bancária no exterior para o recebimento de valores desses negócios.
Segundo a Veja, o ex-ajudante de Bolsonaro teve a ideia de usar a conta bancária do pai nas transações de recuperação das joias. O general teria hesitado, mas teria cedido após insistência do filho. Além disso, a revista encontrou mensagens de Cid avisando o pai de que Bolsonaro passaria na casa dele, em Miami (EUA), para deixar o que "está faltando aí".
A investigação da PF também detectou que Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, entrou no esquema para recomprar parte desses bens e devolvê-los ao TCU (Tribunal de Contas da União), conforme ele mesmo admitiu essa semana.
O UOL entrou em contato com os advogados Cezar Bitencourt, de Mauro Cid, e Frederick Wassef e Fábio Wajngarten, representantes de Bolsonaro para manifestação em nome de ambos. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.
Bolsonaro reage
Bolsonaro diz que seu ex-ajudante de ordens agia com autonomia e que quer esclarecer o caso "o mais rápido possível". A PF investiga a venda ilegal de presentes dados a Bolsonaro em agendas oficiais.
A declaração de Bolsonaro acontece um dia após o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, confirmar que o cliente faria uma confissão à PF.
Ele [Mauro Cid] tem autonomia. Não mandei ninguém vender nada. Não recebi nada.
Bolsonaro nega que tenha recebido dinheiro em espécie por venda de joias
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