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PF diz que venda de joias gerava dinheiro vivo repassado para Bolsonaro

A Polícia Federal afirma que os recursos gerados com a venda de joias dadas de presente ao governo brasileiro eram repassados para o ex-presidente Jair Bolsonaro em dinheiro vivo.

A PF deflagrou operação nesta sexta-feira para aprofundar a investigação de um esquema de desvio e venda no exterior dos bens dados de presente a Bolsonaro em missões oficiais. Foram alvos de busca e apreensão o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.

"Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", aponta trecho da investigação da PF citado na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, a PF encontrou conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Jair Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:

Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né
Mauro Cid, em mensagem de áudio enviado por celular

Os indícios envolvendo Jair Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.

Um dos casos ocorreu em uma viagem para os Estado Unidos em junho de 2022. Na ocasião, Cid se separou da comitiva presidencial e vendeu dois relógios de luxo por 68 mil dólares. Os valores foram depositados na conta de seu pai no exterior, o general Cid.

Em outra viagem realizada em 30 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro deixou o país pouco depois de perder as eleições, também foram transportadas joias posteriormente colocadas à venda nos Estados Unidos.

'120 mil dólares'

Nos diálogos, Cid conversa com um outro assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, sobre as restrições existentes a respeito da venda dos bens no exterior. O gabinete de documentação da Presidência havia informado que era necessário registrar oficialmente a doação do bem ao governo brasileiro e que a venda no exterior também precisaria ser comunicada.

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Por isso, Câmara diz a Cid que desistiu de vender um determinado bem nos Estados Unidos e que sua ideia seria leiloar no Brasil posteriormente. Cid responde por mensagem de texto: "Só dá pena porque estamos falando de 120 mil dólares. Hahahahha". Câmara diz, então: "O problema é depois justificar e para onde foi".

O ministro Alexandre de Moraes afirma na decisão que esses diálogos "evidenciam que, além da existência de um esquema de peculato para desvio do acervo privado do ex-presidente da República Jair Bolsonaro os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente, Marcelo Câmara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior".

Advogado citado

Fabio Wajngarten, advogado e assessor de comunicação de Bolsonaro, se pronunciou nas redes sociais sobre o fato de ter sido mencionado em um relatório da PF que subsidiou a decisão de Moraes em decretar as buscas e apreensões realizadas hoje.

Segundo o ministro, em 15 de março, Mauro Cid e Fabio conversaram "sobre a possibilidade de cassação da decisão exarada pelo Ministro AUGUSTO NARDES do Tribunal de Contas da União, que colocou o ex-presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO, como fiel depositário das joias presenteadas pelo governo árabe e entregue ao então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, se abstendo de usar, dispor ou alienar qualquer peça oriunda do acervo de joias objeto do processo".

Para que não paire dúvidas ou se façam interpretações equivocadas, esclareço que no diálogo que mantive com o ex-ajudante de ordens Mauro Cid - reportado pela Polícia Federal e divulgado pela imprensa - me refiro à entrega voluntária das joias ao Tribunal de Contas da União.
Quando disse que se devia "antecipar" a entrega dos objetos estou me referindo a uma remessa antecipada à Corte, antes de um pedido formal do TCU, que aliás acabou ocorrendo. Reitero: sugeri antecipar e entregar ao tribunal. Só isso.
A petição apresentada pela defesa do Pr[esidente], retrata exatamente isso, na data de 13/3, dois dias antes do referido diálogo.
Qualquer outra interpretação está eivada de má vontade ou de uma frustrada tentativa de envolver meu nome em ações que desconhecia.

Fabio Wajngarten, no X (antigo Twitter)

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