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Joias: Confissão de Mauro Cid apontará Bolsonaro como mandante, diz revista

O tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio, decidiu que fará uma confissão e apontará o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como mandante no caso da recuperação das joias, recebidas de presente. As informações são da revista Veja.

O que aconteceu:

Confissão, não delação. Cid não fechou uma delação premiada e tem ficado em silêncio sobre as joias e a possível falsificação de cartões de vacina — o último resultou em sua prisão em maio. Bitencourt disse que conversará com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para atenuar a pena do cliente.

O advogado de Cid, o criminalista Cezar Bitencourt, disse que a versão que Cid contará vai deixar claro que o ex-presidente sabia, pelo menos parcialmente, dos esforços para recomprar as joias desviadas. Além disso, o advogado falou que o tenente-coronel arranjou o retorno dos bens ao Brasil e entregou o dinheiro em espécie, para dificultar rastreios, ao então presidente.

"O dinheiro era de Bolsonaro", falou Bitencourt à revista. Os planos para comprar as joias revendidas poderiam ser caracterizados "também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro", segundo o advogado.

O tenente-coronel falará que estava cumprindo ordens de seu chefe da época, Bolsonaro, de quem ele era ajudante. O Código Penal prevê uma redução da pena se um crime é cometido por ordem "de autoridade superior".

Pai de Cid. Semana passada, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel, justamente no caso dos desvios de joias e outros bens de valor.

A PF colheu indícios de que o general Cid teria participado da venda dessas joias e chegou a emprestar sua conta bancária no exterior para o recebimento de valores desses negócios.

Segundo a Veja, o ex-ajudante de Bolsonaro teve a ideia de usar a conta bancária do pai nas transações de recuperação das joias. O general teria hesitado, mas teria cedido após insistência do filho. Além disso, a revista encontrou mensagens de Cid avisando o pai de que Bolsonaro passaria na casa dele, em Miami (EUA), para deixar o que "está faltando aí".

A investigação da PF também detectou que Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, entrou no esquema para recomprar parte desses bens e devolvê-los ao TCU (Tribunal de Contas da União), conforme ele mesmo admitiu essa semana.

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O UOL entrou em contato com os advogados Cezar Bitencourt, de Mauro Cid, e Frederick Wassef e Fábio Wajngarten, representantes de Bolsonaro para manifestação em nome de ambos. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.

Entenda o caso

Na sexta-feira passada (11), a Polícia Federal deflagrou a operação que aprofunda a investigação das joias desviadas. O que acontecia, segundo a instituição, é que ajudantes de Bolsonaro revendiam joias e bens que eram presenteados ao então presidente. O dinheiro vivo era repassado para Bolsonaro, ou seja, um presente para a União viraria lucro pessoal.

Os alvos de busca e apreensão foram o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.

O esquema, segundo a PF, tinha "o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", "por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal".

Os indícios envolvendo Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.

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Em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, a PF encontrou conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:

Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?
Mauro Cid, em mensagem de áudio enviado por celular

Calado na CPI e movimentações suspeitas

Mauro Cid foi convocado a depor na CPI mista dos atos golpistas de 8 de Janeiro. O tenente-coronel foi ao Congresso no dia 11 de julho e se recusou a responder, negou dizer até a própria idade. A comissão, então, enviou uma representação ao STF acusando Cid de "abusar do direito ao silêncio" durante depoimento, que pode dar, no máximo, 4 anos de prisão.

O Ministério Público elencou todas as perguntas feitas a Cid, nenhuma das 76 respondida. A ministra Cármen Lúcia permitiu que o tenente-coronel ficasse em silêncio, mas ele deveria responder a perguntas que não o incriminassem.

Cid possui movimentações bancárias tido como atípicas. Com dados de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), foi possível somar que as transações entre o tenente-coronel e o sargento Luís Marcos dos Reis, preso também pela suspeita de forjar cartões de vacina, foram de R$ 7 milhões entre 1º de fevereiro de 2022 e 8 de maio de 2023. Reis, segundo o Estadão, acionou um sobrinho que é médico para preencher e carimbar os certificados de vacinação.

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Ao todo, foram 17 transações identificadas oficialmente entre os dois titulares de contas. Apenas o próprio sargento figurou como destinatário em mais transações que Cid, segundo lugar da lista.

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