Planalto e Tebet negam interferência de Lula em empréstimo à Argentina
O Palácio do Planalto e o Ministério do Orçamento e Planejamento negaram hoje que o presidente Lula (PT) tenha interferido em empréstimo da CAF (Comunidade Andina de Fomento), o Banco de Desenvolvimento da América Latina, à Argentina.
O que aconteceu
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, Lula atuou diretamente para liberar um empréstimo e, assim, facilitar a renegociação da dívida do país vizinho com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Isso ajudaria a impulsionar a candidatura governista de Sergio Massa, apoiado pelo presidente Alberto Fernández, aliado de Lula.
Tanto o Planalto como a ministra Simone Tebet negaram ter havido a ligação telefônica que a reportagem afirma que a chefe do Planejamento recebeu de Lula. De acordo com o texto, o telefonema ocorreu no final de agosto. Segundo Tebet, o assunto foi resolvido internamente no ministério, sem interferência do presidente.
No mês passado, a CAF concedeu um empréstimo de US$ 1 bilhão à Argentina, que passa por uma grave crise econômica. Segundo a Secom (Secretaria de Comunicação Social), o Brasil tem 8,8% no capital do banco, com a quarta maior participação entre os países e US$ 4 bilhões de empréstimo.
A reportagem foi compartilhada ontem (3) nas redes sociais do candidato de extrema direita Javier Milei. Ele e Massa lideram as pesquisas de intenção de voto no país.
Procedimento normal
Ao UOL Tebet afirmou que a votação pelo empréstimo é "um procedimento normal da pasta" e houve posicionamento favorável de outros países pelo empréstimo.
Lula não me ligou. Despachei com minha secretária encarregada, que disse que os demais países votariam a favor.
Simone Tebet, ministra do Orçamento e Planejamento, à CNN
Em nota à imprensa, o Planalto afirmou que a informação "não procede". Já a Secom argumentou que o país tem menos poder do que outros da instituição.
A decisão pelo empréstimo do CAF à Argentina foi aprovada em 28 de julho pela diretoria do banco formado pelos países membros. O empréstimo foi aprovado com 19 votos dos 21 possíveis. O Brasil possui um voto, enquanto outros cinco países (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) possuem dois votos.
Secom, por meio de nota
Segundo UOL apurou no Itamaraty, a decisão de apoiar o empréstimo é uma decisão de Estado, e não de cunho eleitoral. Os argentinos pedem apoio ao governo Lula em diferentes frentes de negociação. Já o Brasil tem apoiado iniciativas em nome do bom relacionamento entre as duas nações, mas não há intereferência política.
Uso político por Milei
Milei fez um uso eleitoral da reportagem. "A casta vermelha treme. Muitos comunistas nervosos e com ações diretas contra mim e meu espaço", publicou o candidato de extrema-direita em suas redes sociais.
O oposicionista venceu as eleições primárias na Argentina em agosto e liderou a maioria das pesquisas de intenção de voto. Com a grave crise inflacionária do país, Fernández, que teria direito a disputar a reeleição, não se candidatou. Ele resolveu apoiar Massa, seu ministro da Economia.
O projeto Comprova, do qual o UOL faz parte, já havia desmentido posts enganosos sobre o empréstimo.
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