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CPI 8/1: Governistas celebram aprovação de relatório que indicia Bolsonaro

Jair Bolsonaro fala durante evento em Belo Horizonte Imagem: 8.out.2023-Douglas Magno/AFP

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/10/2023 17h51

Deputados e senadores governistas celebraram nas redes sociais a aprovação do relatório da CPMI do 8 de Janeiro, por 20 votos a 11, que pediu o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por quatro crimes. O relatório implica outras 60 pessoas, entre elas cinco ex-ministros, oito generais do Exército e um almirante da Marinha.

O que dizem os parlamentares:

A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT, disse que a aprovação do relatório "vai ficar para a história e a traz a verdade dos fatos ao pedir o indiciamento de apoiadores e patrocinadores da tentativa de usurpar o Estado Democrático de Direito, e colocando Bolsonaro como mentor".

O senador Fabiano Contarato (PT-ES), líder do partido no Senado, classificou a aprovação do relatório apresentado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) como uma "vitória da democracia brasileira".

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) citou os meses de trabalho e a "resistência aos ataques do bolsonarismo, especialmente contra as mulheres da Comissão".

Leia as manifestações:

O que acontece agora

O relatório será encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República. A PGR decidirá se acata os pedidos de indiciamento, dando prosseguimento jurídico ao caso.

A vitória do parecer, elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), era esperada, porque os governistas tiveram maioria na CPI. Eles conseguiram aprovar a convocação de testemunhas de seu interesse e obter quebras de sigilo financeiro, de celular e de emails.

A oposição apresentou dois relatórios paralelos ao de Eliziane. O principal foi elaborado pelo deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e sugeriu o indiciamento do presidente Lula (PT), além do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), e de outros ex-integrantes do governo atual. O segundo foi apresentado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e também pediu o indiciamento de Dino.

A maioria governista se consolidou apesar de a CPI ter sido iniciativa da oposição. O requerimento de abertura, feito em maio, é do deputado bolsonarista André Fernandes (PL-CE). Foram quase cinco meses de trabalhos.

O poder do Planalto pesou na escolha da cúpula da comissão. A relatora é aliada do governo e o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), tido como "independente", foi escalado pelo centrão.

O que diz o relatório aprovado

Eliziane pediu indiciamento de 61 pessoas. Militares representam metade dos acusados — há 31 na lista. Leia a íntegra do relatório final da CPI.

Houve solicitação de indiciar membros da cúpula das Forças Armadas. A situação é considerada consequência da adesão dos militares ao governo Bolsonaro

O Exército viu oito generais serem alvo de pedido de indiciamento. A lista inclui até mesmo um ex-comandante, o general Marco Antônio Freire Gomes.

A Marinha também tem um ex-comandante acusado, o almirante Almir Garnier. Ambos ocuparam o cargo durante a gestão Bolsonaro.

Aliados próximos ao ex-presidente também foram alvo de pedido de indiciamento. Entre eles o o ex-ministro Anderson Torres, a deputada Carla Zambelli (PL-SP), o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro.

Bolsonaro se diz "indignado"

Bolsonaro afirmou hoje, após depor novamente à Polícia Federal, que a sugestão de indiciá-lo é "um absurdo". Ele disse que a comissão "temia alguma coisa", porque não o convocou para prestar esclarecimentos durante a investigação.

A fala do ex-presidente repete a nota emitida ontem pela sua defesa. O texto classificou o relatório como "parcial e tendencioso" e disse que o ex-chefe do Executivo recebeu a notícia de indiciamento com "indignação".

Apesar da declaração de Bolsonaro, parlamentares de oposição na CPI trabalharam para blindar o ex-presidente e evitar a convocação e a quebra de sigilo dele.

A trajetória da investigação

A CPI apurou o que aconteceu desde o resultado das eleições. A linha do tempo começa com o não reconhecimento da vitória de Lula (PT), o bloqueio das estradas e segue até a invasão e depredação da sedes dos Três Poderes.

Recontar esta cronologia gerou momentos de desgaste ao bolsonarismo. O ex-ministro Anderson Torres depôs usando tornozeleira eletrônica. O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, soltou palavrões ao ser confrontado pela relatora.

A base governista afirma que conseguiu enfatizar que Bolsonaro e seus aliados tentaram um golpe. Para aliados de Lula, a comissão serviu como apoio político às investigações da PF e contribuiu para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, decidir delatar.

A oposição também considera que obteve benefícios com a CPI. Acreditam que ao menos usaram a comissão para repisar a versão bolsonarista de que o governo Lula se omitiu em 8 de Janeiro.

Quem são os alvos dos pedidos de indiciamento

  • Jair Messias Bolsonaro - ex-presidente da República
  • Walter Souza Braga Netto - General do Exército, ex-ministro da Defesa, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro na eleição de 2022
  • Augusto Heleno Ribeiro Pereira - General do Exército, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
  • Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira - General do Exército, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, da Secretaria de Governo e da Casa Civil
  • Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira - General do Exército, ex-ministro da Defesa
  • Almir Garnier Santos - Almirante de esquadra, ex-comandante da Marinha
  • Marco Antônio Freire Gomes - General do Exército, ex-comandante-geral do Exército
  • Mauro Cesar Barbosa Cid - Tenente-coronel do Exército, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
  • Luís Marcos dos Reis - Sargento do Exército, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
  • Ailton Gonçalves Moraes Barros - Ex-major do Exército
  • Antônio Elcio Franco Filho - Coronel do Exército
  • Jean Lawand Júnior - Coronel do Exército
  • Anderson Gustavo Torres - Ex-ministro da Justiça, ex-secretário de Segurança Pública do DF
  • Marília Ferreira de Alencar - Ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça
  • Silvinei Vasques - Ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal
  • Filipe G. Martins - Ex-assessor-especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República
  • Alexandre Carlos de Souza Silva - policial rodoviário federal
  • Marcelo de Ávila - policial rodoviário federal
  • Maurício Junot - sócio de empresas com contratos com a PRF
  • Carla Zambelli - Deputada federal
  • Marcelo Costa Câmara - Coronel do Exército, ex-ajudante de ordens da Presidência da República
  • Ridauto Lúcio Fernandes - General da reserva do Exército
  • Meyer Nigri - empresário e difusor de conteúdos no WhatsApp
  • Carlos José Russo Assumpção Penteado - General do Exército
  • Carlos Feitosa Rodrigues - General do Exército
  • Wanderli Baptista da Silva Junior - Coronel do Exército
  • André Luiz Furtado Garcia - Coronel do Exército
  • Alex Marcos Barbosa Santos - Tenente-coronel do Exército
  • Eduardo Natale de Paula Pereira - Major do Exército José
  • Laércio da Costa Júnior - Sargento do Exército
  • Alexandre Santos de Amorim - Coronel do Exército
  • Jader Silva Santos - Tenente-coronel da PMDF
  • Fábio Augusto Vieira - Coronel da PMDF
  • Klepter Rosa Gonçalves - Coronel da PMDF
  • Jorge Eduardo Barreto Naime - Coronel da PMDF
  • Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra - Coronel da PMDF
  • Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues - Coronel da PMDF
  • Flávio Silvestre de Alencar - Major da PMDF
  • Rafael Pereira Martins - Tenente da PMDF
  • Tércio Arnaud Tomaz - Ex-assessor especial no Palácio do Planalto
  • Fernando Nascimento Pessoa
  • José Matheus Sales Gomes - Ex-assessor especial no Palácio do Planalto
  • Adauto Lúcio de Mesquita - empresário
  • Joveci Xavier de Andrade - empresário
  • Ricardo Pereira Cunha - integrante do grupo Direita Xinguara (PA)
  • Mauriro Soares de Jesus - empresário
  • Enric Juvenal da Costa Laureano - consultor da Associação Nacional do Ouro
  • Antônio Galvan - sojicultor
  • Jefferson da Rocha - advogado
  • Vitor Geraldo Gaiardo - sojicultor
  • Humberto Falcão - sojicultor
  • Luciano Jayme Guimarães - sojicultor
  • José Alípio Fernandes da Silveira - sojicultor
  • Valdir Edemar Fries - sojicultor
  • Júlio Augusto Gomes Nunes - comerciante
  • Joel Ragagnin - sojicultor
  • Lucas Costa Beber - sojicultor
  • Alan Juliani - sojicultor
  • George Washington de Oliveira Sousa
  • Alan Diego dos Santos Rodrigues
  • Wellington Macedo de Souza

O golpe deve fazer uso controlado da violência. É preciso, sobretudo, que o golpe não pareça golpe. Por isso é importante atacar as instituições, descredibilizar o processo eleitoral, legitimar preventivamente a tomada do poder. É preciso tentar a destruição da democracia 'tijolo a tijolo', para que ninguém consiga perceber a erosão gradual.
Trecho do relatório

Relatório poupou GDias

A lista de pedidos de indiciamento não incluiu o general Gonçalves Dias. Ele era o chefe do GSI no dia das invasões e aparece sem ação em imagens na antessala do gabinete de Lula.

Antes das gravações, reveladas pela CNN, não havia assinaturas suficientes para instalar a CPI. O general se tornou alvo da oposição para sustentar a tese de omissão do governo federal.

Foi argumentado pelos bolsonaristas que GDias, como é chamado, recebeu alertas e não reforçou a segurança do Planalto. Mas a relatora optou por não pedir o indiciamento.

Não vislumbramos possibilidade de responsabilização do agente.
Trecho do relatório

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