PF: Delegado ligado a Brazão foi sócio de PM que deu arma do caso Marielle

Um delegado na Polícia Civil do Rio de Janeiro, Wilson Pena Júnior, já foi segurança de Domingos Brazão e sócio do PM que cedeu a arma usada por Ronnie Lessa para matar Marielle Franco e Anderson Gomes, aponta investigação da PF.

O que aconteceu

William Pena Júnior foi segurança de Domingos Brazão antes de se tornar delegado, diz PF. Pena Júnior teria se tornado delegado em 2009. Antes disso, ele atuava como policial penal. Contudo, a investigação não informa o período exato em que ele exerceu essa atividade para Domingos Brazão.

Pena Júnior ocupa atualmente o cargo de diretor da Delegacia Antissequestro do Rio de Janeiro. Ele exerce essa função desde outubro de 2023.

Delegado foi sócio de PM acusado de ceder arma do crime também ligado a Brazão. Ainda segundo a PF, William Pena Júnior foi sócio do PM Robson Calixto, o Peixe, na RMW Consultoria e Serviços Ltda. Acusado de ter cedido a arma do crime para Ronnie Lessa, Peixe foi um dos alvos de mandado de busca e apreensão deste domingo (24). Ele trabalha no gabinete de Domingos Brazão no Tribunal de Contas do Rio.

Empresa ainda está ativa e é administrada por esposa de PM. Com sede no bairro Pechincha, zona oeste carioca, a RMW Consultoria tem dez anos de atividade, capital social de R$ 360 mil e exerce atividades como obras de acabamento de construção, manutenção de equipamentos hidráulicos e agenciamento de mão de obra.

Festa de formatura como delegado ocorreu em propriedade do clã, aponta investigação. Segundo a PF, isso é mais um indício de proximidade entre William Pena Júnior e Domingos Brazão.

Apesar de ter sido citado no inquérito, o delegado não consta como investigado pela PF. O UOL solicitou posicionamento da Polícia Civil do Rio sobre o caso, mas não obteve resposta. A reportagem também contatou o delegado, que não respondeu as mensagens.

Ascensão com influência de Brazão, diz PF

A trajetória de William Pena Júnior na Polícia Civil teve influência de Brazão, diz PF. Delegado já investigou a atuação das milícias na zona oeste do Rio de Janeiro, onde fica o reduto político do clã Brazão.

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Em junho de 2020, William Pena Júnior assumiu a Draco, delegacia especializada na investigação de grupos paramilitares, onde atuou até o fim de 2021. Em 2022, o delegado chefiou o Detro-RJ (Departamento de Transportes Rodoviários), órgão que também fiscaliza a atuação da milícia e onde permaneceu por nove meses.

Brazão teve influência para nomeação de William Pena Júnior a cargo de subsecretário em 2023, diz PF. Segundo a investigação, Domingos Brazão "teria promovido ingerência para a nomeação de William Pena Júnior para o cargo de subsecretário de Planejamento e Integração Operacional". O delegado assumiu o cargo em setembro de 2023, dois meses após operação em conjunto entre a PF e o MP para investigar as mortes de Marielle e Anderson. No mês seguinte, foi transferido para a Delegacia Antissequestro, onde atua até hoje.

O cenário de ingerências políticas nas escolhas de funções de confiança junto às forças de segurança estaduais é mais um dos componentes nefastos do Rio de Janeiro. Nesse contexto, Brazão (...) teria promovido ingerência junto para a nomeação do delegado William Pena Júnior.
Trecho do inquérito da PF

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