Morou no Brasil e rompeu com esquerda: quem é o ativista que acusa Moraes
Responsável por divulgar emails internos do X (antigo Twitter) que municiam o empresário Elon Musk em suas acusações contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, o jornalista e ativista ambiental Michael Shellenberger já morou no Brasil, rompeu com a esquerda e agora é conhecido por minimizar a gravidade do aquecimento global.
Oito dias após as primeiras publicações, Shellenberger admitiu que errou ao afirmar que o ministro ameaçou processar criminalmente um advogado brasileiro do X.
Quem é Michael Shellenberger
Ativista de 51 anos, o norte-americano Shellenberger já foi progressista. "Aos 17 anos morei na Nicarágua para demonstrar solidariedade à revolução sandinista. Aos 23, angariei dinheiro para cooperativas de mulheres da Guatemala. Aos 20 e poucos anos, morei perto da Amazônia fazendo pesquisas com pequenos agricultores que lutavam contra invasões de terras", escreveu ele em artigo para o Centro de Pesquisa Política da Nova Zelândia, em 2020.
Ele disse que viveu no Brasil em 1992, quando "era muito de esquerda". "Na época, as palavras de ordem de Lula e do PT eram 'Sem medo de ser feliz'", escreveu ele no X após a publicação dos arquivos contra Moraes.
Shellenberger afirma que conheceu Lula e se decepcionou com a esquerda. Em entrevista ao Correio do Povo, em 2021, disse que entrevistou Lula "pessoalmente em 1994, entrevistei o Daniel Ortega [presidente da Nicarágua] e trabalhei por pouco tempo com Hugo Chávez [ex-presidente Venezuelano morto em 2013]".
Ele nega, porém, ser bolsonarista. "Não sou fã nem de Bolsonaro, nem de Trump", escreveu no X. "As minhas opiniões políticas são muito moderadas. Mas eu reconheço a censura quando a vejo."
Então eu conheci a esquerda, inclusive a latino-americana. E descobri que o mercado é ótimo, melhor do que ter máfias controlando o governo. Foi por isso que eu rompi com a esquerda radical.
Michael Shellenberger, ativista, em entrevista ao Correio do Povo, em 2021
Negacionista?
Shellenberger ganhou fama no começo do século. Ele foi considerado um dos "Heróis do Meio Ambiente" pela revista Time em 2008, ano em que foi descrito como um "modernista ecológico" e "eco pragmático".
Em 2016, ele passou a defender usinas nucleares. Naquele ano, ele fundou a Environmental Progress. Sua ONG ambiental passou a fazer campanha para impedir o fechamento dessas usinas. "Comecei bastante antinuclear. Mudei de ideia quando percebi que não é possível alimentar uma economia moderna com energia solar e eólica", disse ele em entrevista ao The Australian.
Apesar dos riscos, como o acidente de Chernobyl em 1986, ele argumenta que as usinas produzem energia limpa. Sua atuação contra o fechamento delas em Taiwan, Estados Unidos e Coreia do Sul teriam evitado o equivalente à poluição produzida por 24 milhões de carros, diz ele.
Em 2020, publicou um livro questionando as consequências do aquecimento global. Seu "Apocalypse Never: Por Que o Alarmismo Ambiental Prejudica a Todos" admite a ocorrência da mudança climática, mas afirma que o alerta científico é exagerado, contribuindo para o aumento da "ansiedade" da população.
Em 2021, publicou outro livro conservador. "São Francisco - Por que progressistas arruínam cidades" defende que os prefeitos progressistas de São Francisco e outras cidades americanas não apenas "toleraram" como "capacitaram ativamente" os sem-teto e o tráfico de drogas.
Além de jornalista e ativista, Shellenberger atua em universidade. Mesmo morando em Berkeley, na Califórnia, ele é responsável pela cátedra de Política, Censura e Liberdade de Expressão da Universidade de Austin, no Texas.
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Quero receberPremiado por conservadores
O Twitter Files Brazil é o capítulo mais recente de uma série de suspeitas divulgadas em 2022. Ele e outros ativistas tiveram acesso aos emails internos do X depois que o próprio Musk, dono do X, vazou os documentos assim que assumiu o controle do então Twitter.
A denúncia dizia que a rede social pré-Musk colaborava com governos ao atender pedidos para remover conteúdo e bloquear usuários conservadores.
Em novembro do ano passado, Shellenberger foi premiado por conservadores por esse trabalho. O prêmio foi concedido pela Fundação Dao Feng e Angela, cuja missão é "conservar as raízes da fé cristã; preservar os valores universais dados por Deus à humanidade; para inspirar irmãos crentes; e para restaurar o poder do amor".
Já o Twitter Files Brazil ganhou o noticiário na quarta-feira passada (3). Shellenberger fez uma sequência de publicações no X, É um conjunto de emails trocados por funcionários do antigo Twitter entre 2020 e 2022 reclamando de decisões da Justiça sobre a exclusão de conteúdos, como fake news sobre as urnas eletrônicas e ataques a ministros do STF. Oito dias após as primeiras publicações, Shellenberger admitiu que errou ao afirmar que o ministro ameaçou processar criminalmente um advogado brasileiro do X.
Ao divulgar os emails, disse que "Alexandre de Moraes é um tirano". "E a única maneira de lidar com os tiranos é enfrentando-os. Cabe aos seus senadores enfrentar o tirano. E cabe ao povo do Brasil pressionar seus senadores para que façam isso." As decisões de Moraes que determinaram a desativação de contas foram tomadas nas investigações sobre milícias digitais e no inquérito das fake news — que investiga ações orquestradas nas redes para disseminar informações falsas na tentativa de minar as instituições e a democracia.
O norte-americano escreveu ainda que os arquivos divulgados mostram "o nascimento do Complexo Industrial da Censura no Brasil". No mesmo dia, publicou áudios sob o título "O Brasil está à beira da ditadura".
BRASIL À BEIRA
-- Michael Shellenberger (@shellenberger) April 7, 2024
Este é Michael Shellenberger, e estou reportando a vocês ao vivo do Brasil, onde uma série dramática de eventos está em andamento.
Às 18h52, horário do Sao Paulo a corporação X, anteriormente conhecida como Twitter, anunciou que um tribunal brasileiro a forçou a? pic.twitter.com/fjXq8AU2IM
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